Ponte da Barca. ‘Tá a ver aquelas cachoeiras de novela? São aqui

Ponte da Barca no mês de agosto é uma espécie de oásis de boa vida: há arraiais, vinho verde, prato cheio e o rio Lima para fazer o ‘reset’. Mas vá por nós e suba até à Ermida, uma aldeia tomada pelo povo e de onde saem cenários que, felizmente, ainda não entraram no circuito…

Levámos um estreante nas andanças minhotas a conhecer o Gerês. Foram quatro dias de campismo, de trilhos de 20km, verde e mais verde, rios e barragens e, claro, as lagoas, paragem obrigatória para quem quer seguir o roteiro turístico da zona.

Cascata do Taiti, cascata do Arado, cascata das Sete Lagoas e Portela do Homem. Não falhou nada até porque no final queríamos segurança na resposta à pergunta: “De qual gostaste mais?”. Meio a medo, ainda sem saber que iríamos repetir esta reação aos quatro ventos, admitiu que nenhuma conseguiu bater aquela que conheceu numa primeira visita a Ponte da Barca.

Os tempos eram de arraial minhoto, altura em que as noites são longas e os dias não têm horas suficientes para servir de cicerone a uma terra que merece todo o tempo do mundo. Mas lá nos escapamos até à aldeia mais no alto de todas e, como não poderia deixar de ser, tem como nome Ermida.

Do alto dos seus 500 metros face a terra plana, a Ermida mantém os caminhos de pedra com o inevitável rasto que prova que por lá acabou de passar um rebanho ainda a fazer a digestão. Há espigueiros, moinhos de água, fojos de lobo e apenas 45 habitantes que sabem tomar as rédeas da terra. “Houve uma altura em que quiseram fazer uma estrada a sair daqui até Espanha”, conta-nos o dono do único café da aldeia fronteiriça. Mas a população não queria abrir portas a ladrões de gado nem a traficantes de droga. “Não deixámos, ponto final”. E é por isso que o Sr. Carvalhal tem sempre resposta pronta para os turistas que lhe batem à porta a perguntar que caminho seguir. “Está a ver este que subiu? É este que tem que descer”.

E para lá chegar?

Não admira que quem trepe esta aldeia até ao topo precise de parar e ganhar fôlego para um caminho que se prevê igual na descida. A estrada é feita de curva contra curva, onde com alguma ginástica automobilística passam dois carros, ladeados pela segurança de uns raides feitos de madeira. Mas o pior de tudo não é o alcatrão acidentado. O mais difícil é manter os olhos na estrada quando ao nosso lado se monta uma das paisagens mais incríveis que este país tem para oferecer.

O verde toma conta destes montes cuja presença humana mal se nota. Aliás, só não dizemos para deixar o telemóvel em casa porque há imagens que não vai querer que fiquem só pela memória. Aqui não há rede, wifi ou dados móveis, o que quer dizer que o Google Maps é substituído pelo bom e velho seguir das placas.

Nesta estrada existem duas, uma diz “Lagoa 3” e outra “Lagoa 4”, não há como enganar. A 1 e a 2 – a do Eucalipto e de Ponte de Froufe – ficaram para trás, porque o nosso foco está virado para o segredo mais bem guardado desta viagem e para o qual não existe qualquer indicação.

A lagoa que nos faz voltar à Ermida vezes sem fim só é conhecida de quem não se importa de trocar os chinelos por calçado de caminhada. São 15 minutos de terra batida, de sobe e desce mas que no fim valem a pena.

Até podia descrever a cor da água, mas não consigo. Consigo sim, descrever o sabor que fica de cada mergulho. Esses sabem a rio, sabem a infância e sabem a corpo que nem precisa de sabão para se ver limpo.

Entre pedras gigantes e cascatas que vão dando lugar a cada vez mais lagoas, o cenário dá vontade de imitar o genérico da “Pedra sobre Pedra”, que entrou no imaginário de qualquer criança a crescer entre novelas brasileiras dos anos 90. Mas o melhor é voltar aos atuais trinta anos que já nos põem algum travão à imaginação e que nos lembram que não estamos sozinhos. Além de nós, também os fãs de canyoning já descobriram este trajeto, que se torna ideal para quem quer percorrer o rio entre braçadas e escaladas.

Sai-se de lá com a alma cheia e o espaço de memória do telemóvel quase vazio. Mas vai ter que andar alguns quilómetros até voltar a ter a internet necessária para fazer inveja aos seguidores do Instagram. E deixamos aqui um pedido: quando partilhar a foto, deixe a localização em aberto. É a melhor forma de mantermos este cantinho só nosso.

Como chegar

Em Ponte da Barca, apanhar a Nacional 203 e virar à direita, quando vir uma placa a dizer Ermida. Nessa estrada esteja atento às placas à esquerda com a indicação “Lagoa”

 

E já que anda por aqui…

. Festas de S. Bartolomeu

São seis dias de festa. E festa rija, aviso já. É preciso fome para os pregos do Café Central, servidos madrugada fora, e é preciso sede para o vinho verde servido em malgas de barro. É preciso energia para chegar até de manhã e ver o centro da vila cheio de avós, netos, pais, primos e amigos. Ah! E é preciso genica. Este ano vai ser batido o recorde do maior número de pessoas a dançar o vira. Se se quiser juntar à roda é aparecer no dia 20 na Praça da República às 17h. 

. Ecovia até Ponte de Lima

São 16 quilómetros que ligam Ponte da Barca a Ponte de 
Lima. Pode parecer muito para uma caminhada matinal, mas o bom é que pode ser dividido por etapas, com paragens para um mergulho ou uma bebida fresca no Bar da Fonte Santa. Além disso, a paisagem dá sempre uma energia extra ao passeio: o percurso é feito à beira-rio com as árvores a servir de sombra.  

. Comer na Vila Gourmet

O Minho é conhecido pelo prato cheio, seja de sarrabulho, carne barrosã ou pataniscas. E é por isso que marcar a diferença também é importante. Aqui o prato continua cheio, mas de iguarias mais amigas dos baixos níveis de colesterol. O menu muda todos os dias, mas é comum que a escolha seja entre hambúrgueres de legumes com quinoa, beringelas recheadas, saladas de cavala ou chili de soja. Mas vá por nós e guarde um espacinho para a sobremesa. É daqui que sai o cheesecake mais bem servido do mundo.
Preço médio: 7 euros 
Horário:  9h30 às 19h de segunda a sexta
Morada:  Praça Dr. António Lacerda loja 8, Ponte da Barca

. Campismo de Luxo no Lima Escape

Quando um jornalista do “The Telegraph” diz que Ponte da Barca tem um parque de campismo onde se pode “descansar perto de um rio que serpenteia através da montanha”, está na hora de montar a tenda. Se preferir deixar a burocracia em casa, tem sempre os tipis para dormir como um índio ou os bungalows que, pela sua localização privilegiada, dão a sensação de casa na árvore.
Preço: 50 euros o tipi, 60 euros no bungalow
Morada: Lugar de Igreja, Entre-Ambos-os-Rios 

. Beber um copo no Vai à Fava

A localização é mais do que privilegiada. A esplanada do Vai à Fava é virada para o Rio Lima, com direito a pôr-do-sol em primeira fila. E se durante o dia, este cenário pede um sumo de fruta fresca, no Verão, com horário alargado até à noite, podemos ser mais arrojados e apreciar a vista com um copo de vinho verde da adega de Ponte da Barca ou um cocktail Vai á Fava, à base de vinho verde, vodka e frutos vermelhos. 
Horário: 12h-15h 19h-22h
Morada: Rua Dr. Alberto Cruz 13, Ponte da Barca