“Há mais movimento em Alvalade. E nem tem corrido mal”

Um médico e advogado com 36 anos e um alvaladense de gema de 60 disputam este ano a freguesia. O bairro de Alvalade vem mudando, mantendo a identidade. Dia 1 de outubro, o leme pode voltar a mudar

Engraxa-se o sapato em frente a uma hamburgueria gourmet, compra-se o jornal no quiosque diante de uma padaria moderna. O novo mundo convive bem com o antigo em Alvalade. Os mais velhos continuam a passear entre esplanadas e os alunos das escolas da freguesia – da Eugénio dos Santos à Rainha D. Leonor – continuam a encher as ruas durante a hora de almoço. Desde as últimas eleições locais, o McDonalds ganhou a concorrência do Burger King; público-alvo: os estudantes.

A fusão geracional que já era quase tradição passou para as lojas que vão da rotunda de Santo António até à Igreja de de S. João de Brito. Continua a haver um sapateiro, onde também se fazem chaves, as churrasqueiras onde crescem as filas para o frango assado ao jantar e a bem conhecida gelataria do bairro, mas chegaram novos espaços, mais modernos, mais renovados. A junção tem sido feliz. “Eu gosto da música da Padaria Portuguesa, mas não deixo de ir ao mercado a que já ia com a minha mãe”, conta Elizabete, reformada.

E há mais contrastes curiosos. Com o bairro entalado entre o Inatel e o hospital Júlio de Matos, os moradores já vêem o choque com alguma naturalidade. Muitos dos pacientes da residência psiquiátrica passam o dia no exterior e deambulam, uns sozinhos, outros aos pares, entre cafés. Alguns, conhecidos de longa data, conseguem uma sopa caseira. “E é como se ganhassem o dia”, relata João, proprietário de uma cafetaria, enquanto um grupo de jovens futebolistas já equipados se apressa, rumo ao estádio 1º de maio. “Já nem damos por eles. São da casa”; os desportistas em busca do copo de água solidário, os outros em busca de companhia igualmente solidária.

Joana, que trabalha numa imobiliária da zona, assume que gostaria de se mudar para Alvalade. “Há um centro comercial, há um centro de saúde, há um cinema, há estação de metro à porta, nem precisava de sair no fim-de-semana”. A frase arranca-lhe um sorriso.

O HOMEM DOS SETE OFÍCIOS E O ALVALADENSE DE GEMA

O homem que hoje preside à Junta de Freguesia é, num sentido, tão polivalente quanto a mesma. André Caldas já foi dentista, já deu aulas na faculdade de Direito da Universidade de Lisboa, é recandidato a autarca e chefia ainda o gabinete do ministro das Finanças, Mário Centeno. Em 2013, foi eleito com somente 32 anos, destronando o PSD. Em 2015, foi para o Terreiro de Paço com Centeno, não por particular afinidade à área financeira, mas por virtudes de organização e empenho.

Foi com o socialista ao leme de Alvalade que a freguesia viu o salto – bem similar ao da restante capital com Fernando Medina – para um cenário mais movimentado e dinâmico, tanto para os turistas quanto para os residentes, que também o notam. “É verdade que há mais movimento e não tem corrido mal. Também há é mais parquímetros!”, exclama Manuel João, que ainda não decidiu em quem em vai votar.

João Pessoa e Costa, o candidato do PSD à junta local, conta com seis décadas e todas como morador do bairro. Com uma lista com cerca de “80% de independentes”, Pessoa e Costa aponta ao estacionamento como uma das suas principais prioridades, na medida em que “a maioria dos edifícios foi construída nos anos ‘50”, não tendo lugares suficientes para as viaturas dos moradores. “Somos uma equipa de pessoas do bairro. Levantamo-nos aqui, almoçamos aqui, fazemos as nossas compras aqui”, descreve, “ao contrário do outro candidato, que não vive” na freguesia. Consigo, a presidente da assembleia de freguesia, candidata-se o advogado Luís Moreira da Silva.

Ao i, André Caldas esclarece: “Não nasci em Alvalade, mas vivi e estudei no Campo Grande, que é a mais antiga das três freguesias que se uniram para dar origem à atual freguesia de Alvalade, grande parte da minha vida”. E acrescenta que “atualmente” trabalha em Alvalade. Sobre como concilia a vida profissional com a vida autárquica, afirma que “é uma realidade bem conhecida dos autarcas de freguesia por este país fora” e que “exige apenas dois elementos”: dedicação e disciplina.

Os três pilares a que pretende dedicar-se para os próximos quatro anos são o “reforço dos direitos sociais, da qualidade de vida e a inovação”.