O nosso partido é dar para o torto

R ui Moreira arranjou um slogan de campanha com pouco jeito: «O nosso partido é o Porto». É verdade que o slogan é tão mauzinho como o da maioria que por aí anda nas variadas campanhas autárquicas. Talvez o de Teresa Leal Coelho consiga competir nessa capacidade de piroseira que inflama os marqueteiros: «Por uma…

R ui Moreira arranjou um slogan de campanha com pouco jeito: «O nosso partido é o Porto». É verdade que o slogan é tão mauzinho como o da maioria que por aí anda nas variadas campanhas autárquicas. Talvez o de Teresa Leal Coelho consiga competir nessa capacidade de piroseira que inflama os marqueteiros: «Por uma Senhora Lisboa» é das mensagens mais bacocas com que o desgraçado do passante se tem que confrontar. O slogan da agora periclitante candidatura de Isaltino Morais também é uma confusão: «Inovar Oeiras de volta».

O que quer dizer Rui Moreira com o slogan «O Nosso Partido é o Porto»? Não é preciso ser um semiólogo para entender que o homem quer valorizar a sua condição de independente e que o facto de não ter partido lhe dará votos. Ou seja, o candidato quer dizer aos eleitores que só pensa nos interesses do Porto e que – não sendo militante de nenhum partido legalizado – é puro e imaculado, ao contrário dos seus adversários. O slogan não é especialmente imaginativo, mas cada um faz o que pode. 

Aliás, o slogan de Rui Moreira não é uma novidade. Há quatro anos concorreu a embandeirar a mesma frase. Ao ter feito implodir a aliança com o PS que esteve combinada quase até à véspera, Rui Moreira conseguiu ter agora a legitimidade de voltar a usar o slogan sem levar com bocas. Com um partido como o PS fora do baralho, é claro que ‘o partido’ de Moreira, agora repurificado, podia continuar a ser o Porto. 

Mas eis que o candidato do PSD descobriu a pólvora: ao usar a palavra ‘partido’ num slogan, Moreira estaria a induzir os eleitores de que teria realmente um partido legalizado, que até se chamava Porto! E então meteu uma queixa. O engraçado é que foi a própria Comissão Nacional de Eleições a achar que os eleitores que ‘comissiona’ são um bando de burros analfabetos. «Quanto ao uso da palavra ‘partido’ afigura-se não ser legítima a utilização da mesma», diz a CNE, num parecer que inspirou o candidato do PSD ao Porto a tomar a decisão radical. 

O partido destes senhores é dar para o torto. Combater Moreira por causa de uma expressão metafórica é mostrar que não têm nada para dizer.