Análise. Ao boom do turismo junta-se uma revolução no tecido empresarial

Crescimento da economia é resultado de uma combinação de diversos fatores até há pouco tempo imprevisíveis. O desafio está em manter este nível

O crescimento da economia portuguesa nos tempos mais recentes explica-se por uma combinação de diversos fatores, mas com o turismo a assumir o papel mais relevante.

De acordo com o ministro da economia, Manuel Caldeira Cabral, o crescimento da economia portuguesa está “a ser puxado por um crescimento excecional das exportações”, pelo “maior crescimento dos últimos 18 anos do investimento” e “por um conjunto diversificado de setores”, entre eles o Turismo, que “já estava a acrescer bem no ano passado” e “está a crescer melhor ainda este ano”.

“O turismo são exportações que se consomem internamente”, resume João Duque ao i. O economista explica que “o boom do turismo tem muito significado”, uma vez que para além das viagens em si para Portugal – uma exportação de serviços – , aquilo que os turistas gastam nos restaurantes ou nos supermercados é contabilizado como consumi interno.

Para além disso, diz o professor do ISEG, “há aqui outro dado importante que é o crescimento da construção, que representa 50% do investimento”.

Este é um setor que é também puxado pelo turismo, graças a uma “recuperação urbana que tem estado a aumentar muito com questão da hotelaria” e também porque há muitas pessoas “a fazer obras nas casas para as pôr a arrendar”.

O investimento é um aspeto que é também salientado por João Cerejeira. “O importante é que o crescimento no primeiro semestre tem sido muito baseado no investimento e isso tem tido um papel importante”, diz o professor da Universidade do Minho ao i. No entanto, alerta, “nós estamos a chegar ao pico do crescimento que vem desde há 15 trimestres e provavelmente estaremos a chegar à fase madura do ciclo económico”.

Quando terminar este ciclo económico – que ninguém sabe quando será – “é de esperar que seja difícil”. A opinião é partilhada por João Duque, que alerta que este “crescimento é difícil de manter”.

Por seu lado, Eduardo Catroga considera que “se os governos não atrapalharem muito a economia cresce e vai continuar a crescer desde que a conjuntura económica externa também auxilie”. O antigo ministro das Finanças aponta que “para ser duradouro, o crescimento económico precisa de reformas contínuas e que se inicie um novo ciclo de reformas estruturais”.

Catroga não vê “que esse ciclo esteja a acontecer” e acrescenta que Portugal está a beneficiar “do ciclo económico anterior, de uma conjuntura externa favorável, de as empresas portuguesas estarem a trabalhar melhor e do facto de o governo não ter criado desconfiança em política orçamental”.

Valor acrescentado

Segundo Catroga, “terá acontecido uma revolução silenciosa no tecido empresarial português”. O professor argumenta que as “empresas ficaram mais fortes, exportam mais, produzem mais valor acrescentado” pelo que aquilo que está a acontecer à economia portuguesa “é sobretudo o impacto positivo da economia real de todos os setores da economia, desde o turismo, à agricultura, alguns setores da indústria e alguns segmentos dos serviços”.

 

Previsões Questionados sobre se este comportamento da economia era previsível, João Cerejeira lembra que os dados apontavam que “o crescimento da economia estivesse a par com o crescimento do emprego”. João Duque lembra que, deste aumento, “dois terços é restauração e hotelaria”.

O economista do ISEG afirma que “o turismo resulta de uma capacidade de rendimento disponível que não tem nada a ver connosco” pelo que nenhum Governo “tem de se orgulhar do turismo coisa nenhuma”.

“Ninguém previa há pouco tempo um boom tão forte no setor do turismo, e ninguém previa até há pouco tempo a continuação do ganho de quota de mercado internacional por parte das empresas portuguesas. E também ninguém previa que o governo se comportasse tão bem no cumprimento escrupuloso da política orçamental acordada com a UE”, sentencia Catroga.