Volta a Portugal. Foi amarelo do início ao fim. E sem amuos do “papá”

A 79ª edição da prova  rainha do ciclismo em Portugal foi dominada pela W52-FC Porto. Gustavo Veloso, o grande favorito, ficou novamente nas covas, mas desta vez ficou contente com o triunfo de um colega de equipa

Onze dias depois do início em Lisboa, a 79ª edição da Volta a Portugal em bicicleta conheceu ontem o seu desfecho. Sem qualquer surpresa, a W52-FC Porto foi a grande vencedora de uma prova que dominou a seu bel-prazer, com o espanhol Raúl Alarcón a suceder a Rui Vinhas na lista de vencedores. São já cinco vitórias consecutivas para a equipa sediada em Sobrado, Valongo – duas sob a designação atual, desde que o clube azul-e-branco decidiu voltar ao ciclismo e associar-se à conhecida marca de roupa e à empresa de tintas Mestre da Cor.

A tirada final, um crono de 20,3 quilómetros disputado em Viseu, foi um espelho quase fiel do que aconteceu durante toda a competição, com a W52-FC Porto a marcar os ritmos. Com uma única diferença: o vencedor, com 15 segundos de vantagem do que Alarcón, foi Gustavo Veloso, que pode ser apontado como uma das grandes desilusões desta Volta. Vencedor em 2014 e 2015, o espanhol era – tal como no ano passado – o grande favorito para a vitória, mas fez uma prova muito abaixo de todas as expetativas, terminando num quase incógnito 24º lugar. Desta feita, porém, reagiu bem à “desfeita” da equipa, ao contrário da edição anterior, onde mostrou enorme desconforto para com a vitória do companheiro Rui Vinhas.

“Dei-lhe os parabéns, fico feliz por ele. Há uns anos estava para arrumar a bicicleta e ele estava a limpar carros. Quando me disseram que vinha para a equipa, toda a gente apostou nele. Para mim é quase um filho desportivo, por isso me chamam papá Veloso. Se eu não ganho, ganha um deles e isso é quase igual para mim”, garantiu o ciclista espanhol após o término da competição, um dia depois de reconhecer que a pressão de lutar pela vitória da geral pelo quinto ano consecutivo foi pesando animicamente, etapa após etapa: “Não é fácil liderar uma equipa sem ser o líder da corrida, levar com a pressão para retirar a pressão a outros, pensar na equipa sempre antes dos objetivos pessoais. No final, tudo isso pesa e já são cinco anos seguidos com essa pressão. Tudo afeta, sou humano.”

 

sporting-tavira foi a desilusão Alarcón foi o dono e senhor da prova desde o segundo dia, na etapa que ligou Reguengos de Monsaraz a Castelo Branco, quando açambarcou pela primeira vez a camisola amarela. Nunca mais a largou, apesar das ameaças de… outro colega: o português Amaro Antunes, que terminou a prova no segundo posto, a 1.23 minutos de Alarcón. O espanhol venceu duas etapas – a primeira, em Setúbal, e a quarta, no Alto da Senhora da Graça – e só mesmo o colega portista lhe poderia causar alguma mossa para esta última etapa, depois de ter deixado a restante concorrência a mais de cinco minutos após a passagem pela Serra da Estrela, na segunda-feira.

Com cinco ciclistas nos primeiros dez classificados desta última etapa, a W52-FC Porto foi, sem surpresa, também a vencedora por equipas, com 23:49 segundos de vantagem sobre o Boavista, 28:08 sobre a EFAPEL e 43:32 sobre o Sporting-Tavira, a grande desilusão da competição.

O conjunto algarvio, que entrou com algumas ambições para a competição, dados os pergaminhos que ostenta na mesma – apesar da ausência forçada de Joni Brandão, chefe-de-fila -, não conseguiu ganhar uma única etapa e acabou mesmo por ficar de fora do pódio, que ocupou durante grande parte da Volta: primeiro com Alejandro Marque, depois com Rinaldo Nocentini. No fim, foi Vicente de Mateos, do Louletano-Hospital de Loulé, a festejar a terceira posição, com Nocentini a terminar em quarto e Marque (vencedor da prova em 2013) a ficar no quinto posto.

Após a nona etapa, na qual caiu do pódio, Nocentini garantiu mesmo acreditar que alguns corredores da W52-FC Porto “podiam perfeitamente estar no World Tour”. “O Alarcón e o Antunes estavam a outro nível”, realçou o italiano de 39 anos, que já participou em 17 grandes voltas, tendo como melhor resultado na elite um 12º lugar no Tour de França, em 2007.

 

espanhóis dominam Esta foi a primeira vitória de Raúl Alarcón na Volta a Portugal. O ciclista natural de Sax, Valência, tornou-se no 17º estrangeiro a vencer a competição – e sexto espanhol. É, de resto, de Espanha o recordista de vitórias na prova: David Blanco, que triunfou em 2006 pela Comunidad Valenciana; em 2008, 2009 e 2010 pela equipa de Tavira (primeiro Palmeiras Resort-Tavira e depois Palmeiras Resort-Prio); e em 2012 pela Efapel-Glassdrive.

O prémio de montanha foi ganho pelo portista Amaro Antunes, com De Mateos a vencer nos pontos. Já o prémio da juventude ficou para o letão Krists Neilands, da Israel Cycling Academy, que terminou a Volta num interessante décimo lugar. Destaque ainda para Sérgio Paulinho: no regresso a Portugal, após vários anos ao mais alto nível internacional, o ciclista natural de Oeiras (medalha de prata nos Jogos Olímpicos 2004, em Atenas) terminou em nono ao serviço da Efapel.