Queda de árvore na Madeira. Há anos que moradores esperavam o pior

Treze pessoas morreram na queda de uma árvore. A queda de galhos era comum no local e os moradores já tinham avisado a câmara sobre o risco

Domingos Perestrelo aproveita as idas às romarias onde vende produtos regionais para montar a sua câmara de vídeo e filmar as festas. “Desta vez queria ficar com a recordação da missa da Senhora do Monte e liguei a câmara em direto para o Facebook”, conta ao i. O que não esperava era que depois de mais de uma hora de filmagens, o vídeo terminasse com a queda de uma árvores de grande porte que acabou por matar 13 pessoas e ferir 49, seis com gravidade.

O acidente aconteceu ao final da manhã de ontem e, segundo a Proteção Civil, a resposta foi imediata. O secretário Regional da Saúde, Pedro Ramos, explicou, em conferência de imprensa que os meios da Proteção Civil foram acionados às 12h08 e que uma hora depois todos os feridos tinham já dado entrada no Hospital Dr. Nélio Mendonça. Entre os feridos estão cinco estrangeiros, de três nacionalidades: alemã, húngara e francesa.

Das treze mortes confirmadas, dez aconteceram no local. Uma criança morreu a caminho do hospital e duas mulheres, já no hospital, acabaram por não resistir aos ferimentos.

Acidente

A queda desta árvore – um carvalho com cerca de duzentos anos – aconteceu durante aquela que é considerada a mais importante romaria da Madeira, que junta no Largo da Fonte, na freguesia do Monte, centenas de pessoas.

Segundo os moradores da freguesia e os frequentadores do espaço, a árvore que caiu estaria presa com cabos de aço. Mais, o “Diário de Notícias da Madeira” avança que esta árvore estaria sinalizada desde 2014 e o i sabe que uma equipa da câmara terá estado no local entretanto, concluindo que não existia risco de queda.

Segundo Raimundo Quintal, geógrafo madeirense, é possível que a árvore estivesse doente sem, no entanto, apresentar sinais disso. É por isso que prefere, para já, não apontar culpados e duvida dos testemunhos de quem fala de carvalhos presos por cabos. “Existem sim plátanos”, lembra, referindo que, neste caso em específico, “as causas são mais complexas que isso”, garante. O especialista acredita que a árvore tenha sido atacada por fungos nas raízes, o que até justificaria o facto de ter caído pela raiz.

Na mesma linha está o presidente da câmara municipal do Funchal, Paulo Cafôfo, que garantiu ontem que a árvore “apresentava uma copa verde e saudável”, não estava presa por cabos e, por isso, “nunca esteve sinalizada”.

Problema antigo

Em Março, o “Funchal Notícias” noticiava a queda de vários galhos no Largo da Fonte, um deles de grande dimensão. “Um dia destes há uma desgraça e ninguém é responsável”, disse na altura António Mendonça, morador da freguesia, que referia que episódios desses eram comuns e que já tinha, por várias vezes, avisado a câmara municipal do que acontecia junto de sua casa.

Aliás, pouco antes das festas deste fim de semana, a junta de freguesia do Monte terá alertado as entidades regionais e locais para a situação relacionada com a queda de galhos das árvores do largo. Segundo o “Funchal Notícias”, a junta, com ofício datado de 5 de Julho deste ano, informa a câmara da preocupação “com a segurança dos munícipes e dos turistas”, solicitando assim “um corte/poda, dos plátanos existentes”. A autarquia respondeu, numa carta que deu entrada na junta a 31 de Julho, que “os plátanos no Largo da Fonte, caso se justifique, irão ser intervencionados oportunamente”.

O facto de ter sido confirmado que a árvore que caiu ontem era um carvalho e não um plátano dá força à teoria de Raimundo Quintal que garantia que os carvalhos do local poderiam estar doentes mas não presos por cabos, algo que acontecia apenas com os plátanos, não desvalorizando no entanto a urgência na resolução do problema que passa, segundo o geógrafo, pela criação de uma comissão de especialistas que avalie o estado da árvores no local.

Esta urgência foi confirmada pelas dezenas de moradores que durante o dia de ontem davam conta aos jornalistas que estavam no local de que o risco de queda de árvores naquela zona é iminente já há muito tempo. Domingos Perestrelo disse ao i que uma delas estaria já segura por cabos há cerca de 15 anos.

Entretanto, a câmara do Funchal já nunciou que uma empresa especializada fará a peritagem para esclarecer o que originou a queda desta árvore, numa operação que será feita em parceria com o Instituto Superior de Agronomia.