Madeira. Marcelo, Costa e as condolências de um verão triste

O Presidente da República interrompeu as férias de verão e foi direto ao Funchal. Já há investigação no MP

Começa a deixar de ser estranho. A catástrofe, o luto, as responsabilidades. O ciclo a repetir-se nacionalmente este verão. Ontem, foi na Madeira e Marcelo Rebelo de Sousa tornou a ser o primeiro a chegar. Interrompendo as férias, o Presidente da República requisitou um Falcon à Força Aérea, saindo do continente pelas 17h30. O acidente, a queda de uma árvore que vitimou 13 pessoas, sucedeu por volta do meio dia, no Funchal, junto a uma procissão religiosa. Marcelo chegou duas horas depos de descolar do aeroporto de Faro, afirmando aí à comunicação social que é tempo de confortar os madeirenses “num momento de dor”.

“Trata-se de uma realidade que chocou, senti isso, todos os portugueses”, revelou o chefe de Estado recém-chegado ao arquipélago, acompanhado pelo presidente do governo regional da Madeira, Miguel Albuquerque. Juntos visitaram o local do desastre, a Proteção Civil local e o hospital onde se encontram os feridos. “Era preciso testemunhar imediatamente esse conforto, essa solidariedade, esse apoio ao povo madeirense”, salientou o Presidente da República. O apuramento das responsabilidades foi descartado, por agora, destacando-se “o momento de dor” e a solidariedade de estar “juntos daqueles que sofrem”, pois isso “é o mais importante”.

O primeiro-ministro, por sua vez, enviou um comunicado à imprensa expressando as suas “condolências pelas vítimas do acidente na Madeira”.

“Os meus sentimentos aos familiares e amigos das vítimas e a minha solidariedade para com os madeirense”, pode ler-se na nota divulgada. “Já manifestei a minha solidariedade e ajuda ao presidente da Câmara do Funchal e ao presidente do governo regional da Madeira. O governo da República disponibilizou apoio médico face ao elevado número de vítimas”, informou o gabinete do primeiro-ministro. “O Ministério da Saúde está em permanente contacto com a Secretaria Regional de Saúde Madeira”.

Em nota enviada às redações, o Bloco de Esquerda da Madeira juntou-se às manifestações de pesar, referindo que “a perda de vidas humanas e as dezenas de feridos verificados, após a queda de uma árvore no Largo da Fonte, é uma tragédia que deixou consternada toda a população madeirense”.

“Este é o momento de endereçarmos as mais sentidas condolências às famílias enlutadas e fazermos votos de rápida recuperação dos feridos que recebem tratamento no Hospital Dr. Nélio Mendonça”, diz o comunicado. Trata-se da mesma unidade hospitalar que Marcelo Rebelo de Sousa visitaria nessa tarde.

Um equívoco grave Embora a presidência da República tenha remetido o apuramento de responsabibilidades para outro “momento”, já há versões diferentes sobre a tragédia no Funchal.

Idalina Silva, presidente da junta de freguesia do Monte, disse ontem que foram apresentados pedidos de intervenção à Câmara Municipal do Funchal, tendo em conta que a última “limpeza de fundo” havia ocorrido “há muito tempo”.

Paulo Cafôfo, o presidente da câmara em causa, respondeu depois aos jornalistas que a árvore que caiu no Largo da Fonte nunca esteve sinalizada como potencial risco. “Aquela árvore nunca esteve sinalizada como perigo de queda e nunca deu entrada nos serviços camarários qualquer queixa com vista à sua limpeza ou abate, por parte de instituições públicas, mormente da junta de freguesia do Monte, do proprietário do terreno, nem dos cidadãos”, garantiu Cafôfo, em clara contradição com a presidente da junta citada.

O autarca veio também desmentir os relatos locais de que a árvore caída estaria presa por arames. “A árvore que caiu não estava amarrada a qualquer cabo”, assegurou.

Apesar disso, o Ministério Público já instaurou um inquérito ao incidente. “O Ministério Público decidiu instaurar inquérito”, disse fonte da Procuradoria Geral da República à agência Lusa.

O governo regional reuniu o seu Conselho em plenário e decretou luto regional nos próximos três dias. “Considerando os trágicos acontecimentos ocorridos hoje na freguesia do Monte, no concelho do Funchal, do qual resultaram 13 vítimas mortais e 50 feridos”, decretou-se luto regional nos dias 16, 17 e 18 de agosto, pode ler-se em comunicado.