João Soares considera as eleições em Angola “uma fraude”

O ex-ministro da Cultura sublinha as críticas ao MPLA e diz que as eleições nunca foram “limpas”

oão Soares não poupa nas críticas ao governo do Movimento Popular para a Libertação de Angola (MPLA) e prevê que as eleições gerais angolanas, que se realizam a 23 de agosto, sejam “uma fraude de uma ponta à outra”.

Para o antigo dirigente socialista, “não vai haver controlo dos votos, em lado nenhum, nunca houve e vai continuar a não haver”. Até porque, acrescenta, “em Angola, (as eleições) nunca foram limpas e decentes. E estas continuam no mesmo modelo, não há observação eleitoral internacional, não há cadernos eleitorais decentes, não há presença dos partidos de oposição nas estruturas da direção do processo eleitoral”.

O antigo ministro da Cultura vai mais longe e diz ainda que há falta de atenção dos media quer angolanos, quer portugueses. “É possível que uma campanha daquela importância num país como Angola mereça a indiferença que tem tido aqui? Aquilo é uma fraude montada”, sublinha.

No entanto, João Soares considera que não há motivos para grandes surpresas e salienta que em todos os anos de regime liderado por José Eduardo dos Santos nunca houve democracia: “Nunca foi legitimado por eleições decentes”.

Para o antigo dirigente socialista o que aconteceu em Angola foi uma perpetuação do poder.

“Durante muitos anos foi um poder de partido único, num regime comunista como do leste da Europa e depois passou a ser um regime pluripartidário, com a presença de vários partidos políticos, mas nunca houve eleições legítimas e sérias”.

Na corrida a estas eleições estão, além do MPLA, a Convergência Ampla de Salvação de Angola – Coligação Eleitoral (CASA-CE), a União Nacional para a Independência Total de Angola (UNITA), a Aliança Patriótica Nacional (APN) e o Partido de Renovação Social (PRS).

Eleitores queixam-se

Há eleitores em Luanda a receber indicação de que deverão votar a mais de mil quilómetros, assim como ainda há eleitores que desconhecem em que locais o devem fazer. Alguns destes eleitores garantem mesmo que a distância acaba por ser impedimento para votar em alguns dos casos e sublinham que a Comissão Nacional Eleitoral (CNE) não justifica o facto de muitos nomes terem ido parar a locais muito distantes das zonas onde vivem.

A CNE constituiu mais de 12 500 assembleias de voto, que incluem 25 873 mesas de voto, muitas instaladas em estabelecimentos de ensino ou em tendas montadas para este fim. O escrutínio será centralizado nas capitais de província e em Luanda.

A verdade é que há inquéritos de opinião a mostrar que a taxa de confiança dos eleitores na CNE é muito baixa. “Não são os partidos de oposição que querem desacreditar o processo, é o próprio processo que está claramente desacreditado aos olhos da população”, salientou recentemente Nelson Pestana, jurista e cientista político, investigador-coordenador do departamento de Ciências Sociais da Universidade Católica de Angola.