Entrevistou e acompanhou, ao longo de 18 meses, o dia-a-dia do atual presidente dos Estados Unidos, durante a década de 80, e com o material recolhido deu corpo a um dos mais conhecidos e rentáveis livros de Donald Trump: “A Arte da Negociação” (1987). No ano passado, Tony Schwartz decidiu aconselhar a equipa de campanha de Hillary Clinton como forma de se “penitenciar” por “ter criado o homem que se tornou um monstro” e, desde essa altura, tem sido uma das vozes mais críticas da atual administração.
O furacão que voltou a abater-se sobre a Casa Branca nos últimos dias, com a condenação tardia e pouco convincente de Trump das manifestações neonazis e da violência supremacista branca que varreu a pequena localidade de Charlottesville e resultou na morte chocante de uma ativista de direitos civis, levou Schwartz a recorrer ao Twitter para traçar o futuro do homem que diz conhecer como ninguém. “A presidência de Trump está efetivamente acabada. Ficaria surpreendido se ele sobrevivesse até ao fim do ano. O mais provável é demitir-se por volta do outono ou até mais cedo”, escreveu o coautor do best-seller naquela rede social, na noite de quarta-feira (madrugada de quinta em Portugal), apelando aos americanos para continuarem a “resistir” e a “colocar pressão” no presidente dos Estados Unidos.
Trump's presidency is effectively over. Would be amazed if he survives till end of the year. More likely resigns by fall, if not sooner.
— Tony Schwartz (@tonyschwartz) August 16, 2017
Para além do “isolamento” de Trump – motivado pela resistência em convencer os norte-americanos de que não coloca os supremacistas brancos e os contramanifestantes de Charlottesville no mesmo prato da balança moral -, entre as justificações que poderão levar o presidente a abandonar Washington pelo próprio pé, apresentadas pelo escritor e orador motivacional no Twitter, destaca-se a intenção de escapar a um desfecho comprometedor das investigações sobre as alegadas relações entre a equipa de campanha republicana e elementos ligados ao governo russo. “Trump vai demitir-se e declarar vitória antes que Mueller [diretor do FBI] e o Congresso o deixem sem escolha”, antevê Schwartz.
The circle is closing at blinding speed. Trump is going to resign and declare victory before Mueller and congress leave him no choice.
— Tony Schwartz (@tonyschwartz) August 16, 2017
O fantasma russo que teima em pairar sobre a Casa Branca e cujas investigações na agência policial federal e no Senado contemplam inquéritos a Paul Manafort (ex-diretor de campanha), Michael Flynn (ex-conselheiro de Defesa Nacional), Jeff Sessions (procurador-geral), Donald Trump Jr. (filho do presidente) ou Jared Kushner (genro e conselheiro de Trump), entre outros, conheceu ontem um novo episódio. De acordo com a “Mother Jones”, o CEO da sucursal norte-americana do Renova Group – um gigante russo nos setores energético, metalúrgico, mineiro, financeiro, de construção, dos transportes e de telecomunicações -, detido pelo oligarca e próximo de Vladimir Putin Viktor Vekselberg, doou 285 mil dólares (cerca de 243 mil euros) a fundos da presidência de Trump em janeiro deste ano.
Aquela revista americana noticia ainda que a doação coincidiu com o apelo público de Vekselberg ao levantamento das sanções impostas pelos EUA à Rússia, motivadas pela anexação da Crimeia e pelo apoio aos separatistas pró-russos na Ucrânia, uma pretensão que a imprensa norte-americana diz ter chegado a ser debatida no seio da administração Trump.