Coautor de best-seller de Trump antevê pedido de demissão do presidente até ao próximo outono

Tony Schwartz acredita que as consequências de Charlottesville e as ligações da administração ao Kremlin levarão Trump a sair da Casa Branca pelo próprio pé

Entrevistou e acompanhou, ao longo de 18 meses, o dia-a-dia do atual presidente dos Estados Unidos, durante a década de 80, e com o material recolhido deu corpo a um dos mais conhecidos e rentáveis livros de Donald Trump: “A Arte da Negociação” (1987). No ano passado, Tony Schwartz decidiu aconselhar a equipa de campanha de Hillary Clinton como forma de se “penitenciar” por “ter criado o homem que se tornou um monstro” e, desde essa altura, tem sido uma das vozes mais críticas da atual administração.

O furacão que voltou a abater-se sobre a Casa Branca nos últimos dias, com a condenação tardia e pouco convincente de Trump das manifestações neonazis e da violência supremacista branca que varreu a pequena localidade de Charlottesville e resultou na morte chocante de uma ativista de direitos civis, levou Schwartz a recorrer ao Twitter para traçar o futuro do homem que diz conhecer como ninguém. “A presidência de Trump está efetivamente acabada. Ficaria surpreendido se ele sobrevivesse até ao fim do ano. O mais provável é demitir-se por volta do outono ou até mais cedo”, escreveu o coautor do best-seller naquela rede social, na noite de quarta-feira (madrugada de quinta em Portugal), apelando aos americanos para continuarem a “resistir” e a “colocar pressão” no presidente dos Estados Unidos.

Para além do “isolamento” de Trump – motivado pela resistência em convencer os norte-americanos de que não coloca os supremacistas brancos e os contramanifestantes de Charlottesville no mesmo prato da balança moral -, entre as justificações que poderão levar o presidente a abandonar Washington pelo próprio pé, apresentadas pelo escritor e orador motivacional no Twitter, destaca-se a intenção de escapar a um desfecho comprometedor das investigações sobre as alegadas relações entre a equipa de campanha republicana e elementos ligados ao governo russo. “Trump vai demitir-se e declarar vitória antes que Mueller [diretor do FBI] e o Congresso o deixem sem escolha”, antevê Schwartz.

O fantasma russo que teima em pairar sobre a Casa Branca e cujas investigações na agência policial federal e no Senado contemplam inquéritos a Paul Manafort (ex-diretor de campanha), Michael Flynn (ex-conselheiro de Defesa Nacional), Jeff Sessions (procurador-geral), Donald Trump Jr. (filho do presidente) ou Jared Kushner (genro e conselheiro de Trump), entre outros, conheceu ontem um novo episódio. De acordo com a “Mother Jones”, o CEO da sucursal norte-americana do Renova Group – um gigante russo nos setores energético, metalúrgico, mineiro, financeiro, de construção, dos transportes e de telecomunicações -, detido pelo oligarca e próximo de Vladimir Putin Viktor Vekselberg, doou 285 mil dólares (cerca de 243 mil euros) a fundos da presidência de Trump em janeiro deste ano.

Aquela revista americana noticia ainda que a doação coincidiu com o apelo público de Vekselberg ao levantamento das sanções impostas pelos EUA à Rússia, motivadas pela anexação da Crimeia e pelo apoio aos separatistas pró-russos na Ucrânia, uma pretensão que a imprensa norte-americana diz ter chegado a ser debatida no seio da administração Trump.