Elon Musk. Acelerar com cautela na Terra e com os olhos em Marte

Elon Musk, o visionário fundador da Tesla e da Space X, receia o desenvolvimento sem controlo da Inteligência Artificial, mas acredita que a humanidade será uma civilização colonizadora de outros planetas – a começar por Marte.

A economia mundial deixou uma base de manufatura e caminha para o conhecimento digital. Informação, dados, big data, partilha e flexibilidade são sinónimos dos empregos e trabalho do futuro. Tudo assente em tecnologia. Cada vez mais rápida, mais intensa, mais disruptiva.

Elon Musk é um dos rostos desta economia e um empreendedor perfeitamente confortável na navegação da realidade atual, ao mesmo tempo que traça possíveis caminhos para o futuro da humanidade, tanto a mais curto como a longo prazo. 

Musk, 45 anos, tem tripla nacionalidade (sul-africana, canadiana e norte-americana) e acabou de terminar uma relação amorosa com a atriz Amber Herad, antiga mulher de Johnny Depp. O empresário tem seis filhos de três anteriores casamentos. Do primeiro, com a escritora de livros de fantasia Justine Musk, são logo cinco – um par de gémeos e uns trigémeos. Depois deste divórcio, casou-se, divorciou-se e voltou a casar-se com a atriz inglesa Talulah Riley, de quem está separado.

Com uma fortuna avaliada em dez mil milhões de dólares, está presente em muitos projetos e debates sobre o futuro da humanidade. E há um tema sobre o qual é especialmente crítico: o desenvolvimento da Inteligência Artificial (IA) e da robótica. Desde há três anos que Musk tem mostrado preocupação com a possibilidade de esta tecnologia ficar fora de controlo. Com um conhecimento profundo desta indústria e investimentos em empresas que estão na vanguarda deste desenvolvimento, o empresário teme que mesmo com a melhor das intenções «se possa produzir qualquer coisa maléfica por acidente», como por exemplo «uma armada de robots dotados de inteligência artificial capazes de destruir a humanidade». Um cenário que parece saído de um filme mas que preocupa verdadeiramente o empresário.

Esta posição foi recentemente contestada pelo fundador do Facebook, Mark Zuckerberg, que apelida os cautelosos em relação ao desenvolvimento da IA – posição também tomada pelo astrofísico inglês Stephen Hawking – de «negacionistas». Zuckerberg diz que estes, alertas de apocalipse são de uma negatividade desnecessária – já Musk revelou que falou com o CEO do Facebook sobre o tema e que o entendimento deste sobre o assunto é «limitado». 

Empresário aos 11 anos
A relação próxima do sul-africano com a tecnologia é inata. Com 11 anos, desenvolveu um videojogo e vendeu-o por 500 dólares. Aos 28 anos, depois de se formar em Economia e Física na Universidade da Pensilvânia. Entrou no doutoramento, em Stanford, nesta última área – a experiência durou dois dias. 

Seguiu pela vida de empresário e começou por dedicar-se à Zip2, uma empresa de desenvolvimento de conteúdos para portais digitais de notícias. Vendeu-a por 307 milhões de dólares à Compaq. Depois, investiu num novo projeto gestão de pagamentos pela internet de que já terá ouvido falar – a Paypal. Três anos depois, vendeu-a por 1,5 mil milhões de dólares. A sua fortuna crescia e os seus projetos ganhavam nova dimensão e ambição. Transportes, energia, TIC (Tecnologias de Informação e Comunicação) e exploração espacial foram as próximas áreas de negócio, nas quais se mantém.

Viver em Marte
Uma delas, a Space X– a empresa de Musk de transporte espacial que investe 5% do seu capital em missões de colonização de Marte –, tem como objetivo enviar um milhão de colonos permanentes para Marte a partir de 2025 e durante quatro a dez décadas. «O futuro da humanidade passa fundamentalmente por um de dois caminhos: ou nos vamos tornar numa espécie multiplanetária e numa civilização exploradora do espaço, ou vamos ficar presos num planeta até à extinção», justificou Musk, que defende objetivos comuns a todo o globo e a democratização mundial das tecnologias e informação. Exemplo desse estado de espírito: no final de 2016, a Space X anunciou que pretende lançar 4425 satélites na órbita terrestre, para assegurar que o mundo tem acesso à internet nas mesmas condições e ao mesmo preço, já que, hoje em dia, mais de metade da humanidade está offline. 

Os transportes são outro dos negócios de Musk e a Tesla é a joia da coroa deste segmento. Esta empresa de carros elétricos – que se encontra a desenvolver automóveis autónomos –tem como objetivo último tornar esta tecnologia acessível à maioria das pessoas. No final de julho entregou os seus primeiros Model 3, o modelo mais barato da marca e que custa 35 mil dólares. Ainda este ano, a marca vai anunciar qual o país escolhido para instalar uma fábrica na Europa –Portugal é um dos locais possíveis. 

Como em todos os projetos arrojados, há retrocessos. Vários dos foguetões da Space X têm explodido – apesar de em dezembro de 2016 a aterragem de um deles ter sido considerada um dos maiores feitos científicos do ano. Em maio, o condutor de um dos veículos autónomos de teste morreu num acidente (o sistema de pilotagem automática da Tesla não foi considerado culpado). Em 2013, Musk apresentou o Hyperloop, uma tecnologia de baixa pressão com cápsulas, transportadas a grande velocidade ao longo de um tubo, que permitirá viajar a quase 1200 km/h. Para tudo isto é preciso energia e a solar é aposta de Musk. Na semana passada, a a sua SolarCity – a maior empresa do género nos EUA – anunciou uma parceria com a Panasonic para o fabrico de painéis solares. Mais uma prova de que os olhos de Musk, mesmo quando de fecham para dormir, não saem do futuro.