Em estado de calamidade pública

O Governo ativou o estado de calamidade pública pela primeira em 14 anos devido ao agravamento do risco de incêndio, mas são esperadas melhorias já na segunda-feira. Foi reforçada a vigilância no terreno. 

Portugal continua a ser consumido pelas chamas e, devido à previsão de agravamento do risco de incêndio durante o fim de semana, o Governo decidiu decretar o estado de calamidade pública.

António Costa esclareceu que 155 concelhos, especialmente no Centro e Norte interior, vão ser abrangidos por este regime, que se iniciou ontem às 14h e se mantém ativo até segunda-feira.

A última vez que esta medida tinha sido ativada já faz 14 anos, a 11 de agosto de 2003, durante um período de graves incêndios que lavraram no país e provocaram a maior área ardida de sempre no país. Naquele ano, arderam em Portugal 425.839 ha, a maioria em agosto. A decisão tomada este ano, manchado pela tragédia de Pedrógão Grande, tem um objetivo preventivo, com vista a minorar o risco de incêndio. Na reunião entre o primeiro-ministro, a ministra da Administração Interna, a GNR, a Liga Nacional Bombeiros, o comandante nacional de operações de socorro e o chefe do Estado-Maior General das Forças Armadas foram tomadas medidas de reforço das equipas de vigilância florestal e proibidos fogos de artifício ou qualquer outro elemento pirotécnico.

Numa conferência de imprensa no final da reunião, o primeiro-ministro apelou à mobilização de toda a população para proteger a floresta. «É importante que as pessoas saibam quais as zonas de risco para evitar comportamentos de risco, porque muitos deles são adotados por negligência».

De acordo com o Instituto Português do Mar e da Atmosfera (IPMA), o verão tem sido extremamente seco e quente, condições perfeitas para que os incêndios se propaguem rapidamente. As temperaturas vão subir durante o fim de semana, mas está previsto um abrandamento do vento no domingo e uma descida das temperaturas na segunda-feira, levando a um desagravamento do risco.

Ainda assim, o Governo quer todo o dispositivo em alerta máximo, impondo um nível de calamidade que até aqui não se tinha verificado. Mesmo a ‘fase Charlie’ de incêndios só foi antecipada já depois da tragédia de Pedrógão Grande, não obstante terem havido alertas para o risco de incêndio no país nos dias anteriores.

Só este ano já foram detidas 91 pessoas por fogo posto, um número que segundo a ministra da Administração Interna, Constança Urbano de Sousa, se torna um recorde comparado com períodos homólogos. A área ardida em 2017 também é bastante superior quando comparada com a última década: arderam 141 mil hectares, mais 26 mil do que no ano passado. Segundo dados do Instituto da Conservação da Natureza e Florestas (ICNF), relativamente às ocorrências, 2017 é o quinto ano com o valor mais elevado, tendo sido registados mais 6% de incêndios do que a média dos fogos registados desde 2007.

Na última semana o número de feridos também aumentou, tendo-se registado até ao momento 92 feridos, 85 ligeiros e sete graves.