João Lourenço exorta elites a investirem em Angola

A uma semana das eleições presidenciais, o candidato do MPLA confia na vitória e apela aos angolanos para fazerem regressar ao país o dinheiro que têm no exterior.

A campanha para as eleições presidenciais angolanas encontra-se na reta final e os candidatos dão o tudo por tudo. A severa crise económica que o país vive desde 2014, os escândalos de corrupção e a concentração de riqueza são alguns dos temas que estão a marcar a campanha.

João Lourenço, candidato do MPLA, partido que se encontra no poder há mais de 40 anos, e sucessor nomeado por José Eduardo dos Santos, tem-se desdobrado em comícios por todo o país num momento em que as sondagens dão a vitória ao MPLA e a maioria do Parlamento à Oposição (UNITA e CASA-CE).

Num comício no Lobito, Lourenço, ministro da Defesa de José Eduardo dos Santos, exortou os seus «compatriotas que têm recursos lá fora, avultados», a investirem na economia nacional, dando «garantias de que eles não vão perder esses valores». O apelo não se limitou aos concidadãos que apoiam o seu partido, mas a todos os «patriotas» angolanos, não obstante ter feito uma clara referência aos seus adversários de longa data. «Se por acaso ainda sobra algum dinheiro nas contas daqueles que geriram as receitas dos chamados diamantes de sangue, o convite é extensivo a todos: tragam também esse dinheirinho para Angola», disse. Durante a guerra civil que assolou o país entre 1975 e 2002, a UNITA financiou as suas atividades com a venda de ‘diamantes de sangue’.

Levantando velhos fantasmas, Lourenço tocou num tema muito sensível aos angolanos: a concentração de riqueza. Porém, apenas se referiu aos cidadãos angolanos que se encontram no estrangeiro e não aos que vivem no país e que apoiam o seu partido.

A economia angolana tem-se confrontado com dificuldades na captação de investimento para a diversificação da economia nacional, que nas últimas décadas tem dependido fortemente da venda de petróleo no mercado internacional, uma das principais razões para o país ter entrado numa severa crise a partir de 2014.

Se, por um lado, Lourenço estendeu a mão, mesmo que com críticas veladas, à UNITA, principal partido da Oposição, por outro não abdicou de se lhe dirigir com fortes críticas. Lourenço acusou a UNITA de não reconhecer a Constituição por propor um plano de governação de treze anos, quando os ciclos em Angola são de cinco. «Os nossos adversários são pouco sérios, dão ‘bandeiras’ nas suas propostas, mostram que nem a Constituição conhecem», afirmou perante milhares de pessoas.

O cabeça-de-lista do MPLA asseverou ainda que está confiante na vitória do partido nas eleições da próxima semana: «Temos a certeza que contamos com o vosso voto e, com o vosso voto, vamos vencer este grande desafio que temos pela frente a partir do dia 23 de agosto».

O candidato presidencial da UNITA, Isaías Samakuva, acusou o MPLA de deixar falir o país após quatro décadas de governação.

Independentemente das afirmações e promessas dos candidatos, inúmeros críticos têm sido feitas ao Governo de, mais uma vez, organizar um ato eleitoral que não é mais do que uma fraude. Porém, as eleições podem ser as mais renhidas das últimas décadas, resultado das contradições no seio do MLPA e da situação económica nacional.