Lítio. Uma Corrida de fundo

Portugal tem grandes reservas de lítio e são muitas as empresas que se candidatam à exploração deste mineral, uma atividade que exige capacidade técnica e financeira.

Portugal tem uma das maiores reservas de lítio da Europa. Este é usado no fabrico de baterias a utilizar na indústria automóvel e no armazenamento de eletricidade, bem como na indústria da cerâmica e vidro.

A prospeção e exploração deste mineral tem marcado a paisagem do país nos tempos mais recentes e uma das empresas do ramo anunciou que as mais de 50 perfurações feitas em 2016 em Cepeda, Montalegre, detetaram a existência de jazidas estimadas em 10,3 megatoneladas (milhões de toneladas) de pegmatite (rocha de onde se extrai o lítio).

«Cepeda representa agora o maior recurso de lítio num depósito de lítio-césio-tântalo em pegmatite na Europa», revelou a Dakota Minerals em maio, para depois no final de julho, já com o nome Novo Lítio, em comunicado aos acionistas, anunciar os melhores resultados obtidos até à data na perfuração desta jazida.

No final de maio a Dakota Minerals pediu aos acionistas a aprovação da alteração de nome para Novo Lítio. Um nome que refletisse a «atual aposta e as atividades da empresa estarem a ser desenvolvidas em Portugal» justificou o pedido, acompanhado pelo alargamento geográfico da cotação bolsista.

As ações da empresa australiana passaram a cotar, além de Sydney, também na praça de Frankfurt, numa estratégia para aumentar a liquidez e a visibilidade dos títulos junto de investidores europeus.

Não é a primeira vez que a empresa muda de nome. Começou por ser Gold Partners, mudando depois para Oroya Mining, antes de ser Daktota Minerals.

A Novo Lítio tem sido uma das protagonistas da «corrida» ao lítio em Portugal. Neste momento há dezenas de pedidos de prospeção e o Governo criou um grupo de trabalho com o objetivo de elencar as potenciais atividades económicas deste mineral.

O Executivo afirma que «a relevância dos minerais de lítio existente em Portugal é demonstrada pelo interesse crescente registado pelas empresas mineiras».

Em 2016 a direção Geral de Energia e Geologia recebeu 30 pedidos de direito de prospeção e pesquisa de lítio, representando um conjunto de 3,8 milhões de euros de investimento numa área de 2.500 quilómetros quadrados.

Investimentos avultados

A produção é também o objetivo na Novo Lítio, que quer construir uma mina e instalações de processamento do mineral.

A companhia promete ser um fornecedor sustentável de lítio para a Europa, seja para a indústria de baterias de lítio, seja para a de cerâmica e vidro.

Mas para tal precisa de capacidade de investimento. Para chegar à fase de produção, que criaria emprego, são necessárias centenas de milhões de euros.

No final do mês passado, o presidente da Câmara Municipal de Montalegre revelou que a Novo Lítio prevê um investimento de cerca de 370 milhões de euros no concelho na exploração de lítio e também na construção de uma fábrica para o processamento dos compostos do elemento.

De acordo com Orlando Alves, numa numa primeira fase está previsto um investimento de 70 milhões de euros, direcionados para o fabrico de placas de armazenamento de energia. Depois, já numa fase posterior, está previsto um investimento de mais 300 milhões de euros, na produção de baterias para a indústria automóvel, com a perspetiva de criação de mais de 200 postos de trabalho.

O autarca revelou ainda que defendeu junto do Executivo que no «caderno de encargos da exploração» seja obrigatória a «transformação do mineral em território concelhio, o que originará mais trabalho qualificado e valor acrescentado para a economia» portuguesa.

No seu mais recente relatório financeiro anual, a Novo Lítio refere que em 2016 a empresa conseguiu obter «capital raising» de 15,9 milhões de dólares australianos (perto de 12 milhões de euros), o que coloca os ativos líquidos em quase 20 milhões de dólares e o dinheiro no banco acima dos 14 milhões de dólares da Austrália.

Estes valores implicam que para um possível avanço de um projeto de produção seja necessário encontrar investidores ou parceiros. Orlando Alves revela que a Novo Lítio já investiu cerca de um milhão de euros nas atividades de prospeção e que em Montalegre opera em parceria com a portuguesa Luso Recursos, através de um acordo para a detenção dos direitos de exploração.

Suspensão em bolsa

No entanto há um diferendo entre a Novo Lítio e a Luso Recursos em relação a estes direitos, com a Novo Lítio a suspender, com dois prolongamentos, a negociação das ações na bolsa australiana devido à divergência.

A ASX (bolsa britânica) considera que as suspensões voluntárias de negociação não são incomuns mas devem ser usadas em último recurso.

No site da Novo Lítio lê-se que, além de Portugal, a empresa australiana tem um outro projeto para exploração de lítio na Suécia e uma equipa formada por quatro pessoas.

Em Portugal está apenas o CEO, com todos os meios técnicos e equipamentos para as empreitadas de exploração a serem contratados na Península Ibérica. Também o pessoal é contratado localmente. A página na internet da Novo Lítio revela ainda que sede da empresa se mantém na Austrália. Em Portugal não existe uma morada física da companhia.

Além da australiana Novo Lítio, a Savannah é um dos mais recentes operadores a entrar na prospeção deste mineral metálico em Portugal.

No final de maio a empresa – que tem uma capitalização bolsista de 33 milhões de euros – anunciou a compra de uma posição maioritária de 75% na Silpstream Investments, empresa que detém os direitos de exploração de quartzo, feldspato e lítio na Mina do Barroso, concelho de Boticas, Trás-os-Montes.

Segundo a empresa, a mina será «um dos mais avançados projetos de desenvolvimento de lítio na Europa com maior potencial de rapidamente passar à fase de produção».

Na produção de lítio a rocha é extraída do solo, de forma mecânica, e depois enviada por tapetes rolantes para várias fases de trituração e peneira. Passa depois por um processo de pré-flutuação que dá origem a uma polpa que segue para uma lavagem dos elementos.

Este composto é depois seco e filtrado, sendo transformado em carbonato de lítio ou hidróxido de lítio, os compostos usados na produção de baterias de lítio.

Todo este processo implica recursos técnicos, humanos e materiais, para além de know how e tempo, uma vez que são investimentos a longo prazo e de grande dimensão. Para se conseguir o lítio, mais do que uma corrida, é necessária uma maratona.