João Soares, especialista em assuntos florestais: ‘Atacar uma frente de fogo com uma mangueira é ridículo’

Em 2003, o Governo de Durão Barroso chamou-o para ajudar a resolver o problema dos fogos. Ao SOL, fala sobre as resistências que encontrou e os erros que continuam a ser cometidos no combate às chamas.

João Soares trabalha há 40 anos em atividades ligadas às florestas. Começou no Instituto dos Produtos Florestais, sendo depois convidado para encabeçar a Direção Geral das Florestas. Com a saída do ministro Álvaro Barreto, chegou a ter um acordo de cavalheiros com Américo Amorim para plantar eucaliptos para um grupo de investidores do Kuwait, mas acabou por ir para a Soporcel.

Diz que estudou muito e leu tudo o que havia para ler sobre o eucalipto. Em 2003, estava na Noruega quando recebeu o convite do ministro Sevinate Pinto para ser secretário de Estado das Florestas. Nos nove meses que esteve no lugar, tentou implementar medidas «de bom senso» mas encontrou oposição donde menos esperava. Diz que as restrições à plantação de eucaliptos têm origem ideológica e que continuam a dizer-se «disparates» e «aldrabices» contra esta árvore por preconceito.

Pode dar um exemplo dos mitos que existem sobre o eucalipto?

Há dias li um artigo de um juiz desembargador no Público que dizia que o eucalipto nasce de geração espontânea!

O eucalipto não é infestante?

De todo. A prova disso é que ele está cá há 150 anos e a gente não o conhece fora dos sítios onde foi plantado. Mas como é uma indústria de capital intensivo, que cheira mal e tem grandes lucros gerou-se uma psicose, que tem uma origem ideológica. O Miguel Sousa Tavares vai para a televisão com uma fotografia da estrada [de Pedrógão Grande] onde morreram aquelas pessoas e diz: ‘Como veem nesta fotografia, foi o eucalipto que passou o fogo’. O que está na fotografia são pinheiros. São pinheiros! Não quer dizer que se fossem eucaliptos aquelas pessoas não morressem também, mas a pouca-vergonha com que se usa a mentira é inenarrável. O país insiste em não produzir coisa nenhuma. Aqui temos a mais-valia de pegar numa plantinha ou uma semente, fazer uma árvore e chegar ao papel, com valor acrescentado de 80 ou 90%, que se exporta e concorre com o mercado nacional, sem nenhum dano irreversível.

Não esgota os solos?

Não. O eucaliptal saiu de alguns sítios onde se fizeram pomares e vinhas que têm uma produção normal. Um velho professor da Universidade de Évora, que já morreu, Mariano Feio, publicou um livro nos anos 80 ou 90, com fotografias: ‘Aqui esteve um eucaliptal do senhor fulano tal, e agora está cá um pinhal’.

Leia mais na edição do SOL deste fim-de-semana