Trump sugere paralisar governo para construir muro de separação com o México

Presidente norte-americano apresenta solução para pressionar os “obstrucionistas” democratas

“Garanto-vos, vamos construir aquele muro”. A frase foi proferida por Donald Trump e bem podia ter sido retirada de um discurso dos tempos da campanha eleitoral ou mesmo das primeiras semanas de presidência do magnata. Mas na realidade a promessa é de ontem à noite, tendo sido novamente repetida num comício protagonizado pelo presidente, em Phoenix, no estado norte-americano do Arizona.

Tal como outras importantes promessas de campanha que ao fim dos primeiros 8 meses da administração republicana ainda estão por cumprir – o fim do Obamacare ou a aniquilação do Daesh em 100 dias são dois bons exemplos – também os planos de construção de um muro de separação entre o México e os Estados Unidos, “100% financiado” pelos mexicanos, ainda se encontram, por esta altura, no papel.

Mas Trump parece ter encontrado a solução. Num discurso inflamado e corrosivo contra a imprensa norte-americana e o Partido Democrata, o presidente garantiu que está disposto a paralisar o governo para poder avançar com a construção do “lindo e bonito” muro que ajudará a travar a emigração ilegal para os EUA. “Os obstrucionistas democratas não querem que o façamos mas, acreditem, vamos construir aquele muro, nem que tenhamos de encerrar o nosso governo”, disse Trump, que acusa a oposição de “colocar toda a segurança da América em risco” com a sua postura.

Uma vez que o Partido Republicano necessita do apoio dos democratas para garantir os fundos necessários para a construção da barreira física de 3142 quilómetros – cerca de 1100 já contam, atualmente, com muros, vedações de arame farpado e barreiras de metal – na fronteira sul, na cabeça do chefe de Estado norte-americano estará a lei que garante o financiamento do governo federal e que terá de ser aprovada pelo Congresso até ao dia 1 de outubro. 

O chamado “government shutdown” terá lugar caso essa aprovação falhe e implica um situação de paralisação de praticamente todos os serviços da administração pública norte-americana – a administração Obama sofreu na pele as consequências de um “shutdown”, em 2013. As palavras de Donald Trump sugerem que está disposto a arriscar esse cenário, caso a oposição se mantenha irredutível em relação ao financiamento do muro.  

O comício em Phoenix serviu igualmente para o presidente voltar a defender a sua reação a Charlottesville – Trump releu mesmo partes do discurso de condenação da violência, mas omitiu propositadamente a parte em que colocou responsabilidade “nos dois lados” de uma contenda que envolveu neonazis, antissemitas e supremacistas brancos – e para afirmar que o mais provável é que as negociações com o México e o Canadá relativas ao NAFTA, “provavelmente” vão resultar na “rescisão” do acordo.