FUSO. E a arte em vídeo retornou a Lisboa

A nona edição do FUSO – Festival de Vídeo Arte Internacional de Lisboa começou ontem. Este ano, o programa escolhido por nove curadores, também eles selecionados a dedo, anda de mão dada com a América Latina. Afinal, esse é o sotaque do ano em Lisboa

No ano em que Lisboa segura o estandarte de Capital Ibero-Americana da Cultura, quase todos os membros da lista de curadores de mais uma edição do FUSO – Festival de Vídeo Arte Internacional de Lisboa também agitam uma bandeira de destaque da América do Sul e Central. São nove, ao todo, de países como o Brasil, o México ou a Costa Rica – a informação detalhada segue ao lado direito do texto –, e são também os responsáveis pela programação que ocupa seis telas em forma de jardins e terraços de espaços emblemáticos da cidade. Pedimos desculpa pela divisão, esperemos que não peculiar, da informação – é que os locais de projeção podem ser encontrados nas colunas abaixo.

Continuemos. A nona edição do festival, coordenada por Rachel Korman, arrancou oficialmente ontem, na Travessa da Ermida. Até domingo, os vídeos selecionados pelos curadores convidados do FUSO prometem cruzar as sensibilidades europeias e as vindas das Américas, sendo o “passado e o presente” o mote para “um diálogo abrangente e referencial”. Estas são as cordas em tensão este ano, mas a dicotomia é transversal a este festival, que tem na sua génese e como ponto de toque comum às diferentes edições – que, ano após ano, continuam a encontrar pouso em Lisboa – o “confronto entre obras históricas e a contemporaneidade na videoarte”.

A entrada é gratuita, carta simpática jogada pelo FUSO, que convoca também espetadores de outras latitudes numa altura em que já se nota o retorno das férias dos de cá à cidade.

Paulo Bruscky Se o vídeo há muito que adquiriu altar próprio, deixando de ser um dos afluentes de instalações artísticas ou expressão menor nisto que é a arte de pensar, propor e – acima da utopia de ideias –, fazer arte, nos anos 60 não seria bem assim. Nada assim, aliás.

Como em todas as selvas, há sempre um primeiro aventureiro – com tanto de louco como de corajoso – a desbravar mato. E foi com a câmara a fazer de catana que o artista brasileiro Paulo Bruscky se tornou, já na década de 70, pioneiro na videoarte, na arte postal e na arte sonora no Brasil, depois de ter sido, na década anterior, também precursor da arte conceptual daquele lado do Atlântico. Foi por essa via, aliás, que Bruscky traçou uma escapatória à censura do regime militar.

E é Bruscky, que trabalha e segue a vida no Recife, o homenageado deste ano. Serão projetados quatro filmes do artista escolhidos por Cristiana Tejo, que também tem fortes ligações ao Recife. Os quatro vídeos – “POEMA”, “Xeroxfilme: LMNUWZ, fogo!”, “Xerofilme: aépta” e “VIA CRÚCIS” –, realizados entre 1979 e 1982, podem ser vistos no último dia do FUSO, domingo, nos claustros do Museu da Marioneta a partir das 22h00.