Deputada do PSD. “Precisamos de mais exemplos” como o de Graça Fonseca

Divergência nos sociais democratas quanto à revelação da governante socialista sobre a sua sexualidade. Rubina Berardo sublinha e aplaude

Se a vaga de apoio por parte do PS foi unânime, o PSD mostrou-se menos recetivo à revelação de Graça Fonseca, a secretária de Estado da Modernização Administrativa que se tornou na primeira governante portuguesa em exercício de funções a assumir a sua homossexualidade em público.

Enquanto Carlos Abreu Amorim, vice-presidente de bancada dos sociais-democratas, considerara que a afirmação “não demonstra coragem, diferença ou novidade”, Carlos Moedas, comissário português na União Europeia, veio ontem saudar o gesto. “A coragem da Graça Fonseca é importante para os que lutam por uma sociedade mais justa. Obrigado Graça”, escreveu no Twitter.

Moedas foi secretário de Estado de Pedro Passos Coelho e a indicação portuguesa para a Comissão Europeia em 2014, enquanto estava o PSD em governo. Mas o comissário não foi o único quadro dos ‘laranjas’ a romper com o ceticismo demonstrado perante a revelação de Graça Fonseca. Rubina Berardo, deputada, criticou o facto de um político executivo que assume a sua homossexualidade ser “criticado por ‘revelar’ as suas ‘opções sexuais’”. Para a social-democrata madeirense, “visibilidade e normalização são os necessários corolários dos direitos civis”.

Contactada pelo i, Rubina Berardo acrescentou: “Respeito e aplaudo esta declaração [de Graça Fonseca] e acho que devemo-nos elevar para além da tradicional ‘clubite partidária’, especialmente no que diz respeito à materialização de direitos fundamentais. Precisamos de mais exemplos públicos do Portugal multifacetado que temos e tanto desejamos manter”.

“Demasiado intenso”

Graça Fonseca também se pronunciou ontem sobre as várias reações à entrevista em que assumiu a sua homossexualidade. “Tem sido tudo demasiado intenso para conseguir escrever seja o que for”, admitiu em introdução. “Recebi (e continuo a receber) muitas mensagens de pessoas que não conheço. São mensagens de esperança, de partilha de situações de discriminação, de agradecimento pelas filhas e filhos que recentemente assumiram a sua orientação sexual”, relata, dizendo que é isso o que “importa, agora e sempre”.

“Acreditem, afirmar publicamente parte da minha identidade privada não é algo fácil ou que faça de forma leviana. Prezo muito a minha privacidade, a minha liberdade, a felicidade das pessoas que me são próximas e que não quero que sejam atingidas por algo que sou ou faço. Fi-lo porque acredito, mesmo, que fazê-lo pode ser importante para muitas pessoas e para ir mudando mentalidades”, prosseguiu. “Fi-lo como uma afirmação política, mas não por razões políticas ou partidárias”.

“Agora é tempo de seguir em frente com o que sou e faço, não é tempo de mais entrevistas ou declarações públicas sobre algo que, sendo importante para mim, não me define no espaço público”, assegurou, concluindo com um agradecimento. “E tempo de dizer obrigada às pessoas que me escreveram e que me “defenderam” no espaço público, sejam de direita ou de esquerda. A todas e a todos obrigada do coração”, afirmou.