Dinamarca. O corpo desmembrado é da jornalista desaparecida

Jornalista sueca, de 30 anos, desaparecida a 10 de agosto, terá sido assassinada por inventor de submarino enquanto fazia uma reportagem sobre a sua vida

Normalmente, a ideia que se tem dos países nórdicos é da completa e serena paz social. O policial nórdico, com autores famosos como os falecidos Henning Mankell e Stieg Larsson, espreitam para além das cortinas da sociedade local e permitem-nos ver um bocado da escuridão e da violência que também existe neste locais. Há um silêncio sobre a violência existente, até sobre a própria História.

A colaboração de parte da população com os nazis, a violência sobre as mulheres, os gangues de motards e de extrema-direita envolvidos no tráfico de droga, o tráfico de mulheres e a prostituição são tudo aspetos que estão presentes na trilogia Millenium de Stieg Larsson – na vida real, um jornalista que fazia investigação sobre redes de extrema-direita e que tinha a cabeça a prémio e várias ameaças de morte, falecido prematuramente aos 50 anos. Há uma cena de abertura num filme de David Lynch, “Blue Velvet”, que ilustra bem este movimento que é descobrir aquilo que está escondido: a câmara mostra um prado verde e, de repente, faz-se um zoom e parece que há alguma coisa neste simpático relvado. Quando conseguimos perceber o que é, vemos uma orelha humana coberta de insetos.

Ainda é um mistério a razão por que a jornalista sueca Kim Wall foi morta. As autoridades já confirmaram que foi assassinada. O seu tronco foi encontrado, por um ciclista, na ilha de Amanger, a 50 quilómetros a sul de Copenhaga. Através de perícias e testes de ADN, a polícia sabe que foi morta, decapitada, desmembrada e atirada ao mar. “O ADN do tronco coincide com o de Kim Wall”, declarou a polícia dinamarquesa na sua conta oficial do Twitter. O responsável da investigação, o investigador-chefe Jeans Moller Jensan, confirmou, em conferência de imprensa, que o ADN coincidia com cabelos e vestígios recolhidos da escova de cabelo e da escova de dentes da morta.

O principal suspeito, e muito provável autor do crime, é Peter Madsen, um inventor dinamarquês que construiu o maior submarino privado existente (UC3 Nautilus) e que lançou em 2008 uma empresa para construção de foguetões tripulados.

A jornalista, que colaborava com órgãos de comunicação social reputados como o “Guardian” e o “New York Times”, tinha ido fazer, no dia 10 de agosto, uma reportagem sobre o inventor e o seu submarino.

Segundo reza o site da BBC News, a jornalista terá embarcado no submarino às 19 horas de 10 de agosto; o submarino terá sido avistado às 24 horas de 10 de agosto e às 10h30 de 11 de agosto, tendo-se afundado às 11h30; às 2h30 do dia 11 de agosto, depois de avisada pelo namorado da jornalista, a polícia notificou o seu desaparecimento; parte do corpo da jornalista só é descoberto, por um ciclista, no dia 21 de agosto às 15h41.

As autoridades conseguiram remover o submarino, de 60 toneladas e 18 metros de comprimento, do fundo do mar Báltico, onde se encontrava a sete metros de profundidade. Desconfiam que ele foi propositadamente afundado pelo inventor para encobrir vestígios. Segundo garantiu a polícia dinamarquesa em conferência de imprensa, foram descobertos vestígios de sangue, na embarcação, coincidentes com o ADN da jornalista assassinada.

Inicialmente, o suspeito tinha declarado às autoridades que desembarcara a jornalista num local perto de Copenhaga, depois de terem dado uma volta no submarino. Posteriormente, confrontado com as evidências, mudou a sua declaração, dizendo que tinha “havido um acidente no submarino” em consequência do qual Kim Wall falecera. O afundamento da embarcação deveu-se, segundo o inventor Peter Madsen, a uma avaria no sistema de lastro.

Diferente é a convicção da polícia dinamarquesa. O responsável pela investigação, Jeans Moller Jensan, afirma-se convencido de que o desmembramento do corpo foi feito por Madsen para tentar evitar que o corpo flutuasse, assim como afundou o submarino para apagar provas. Fica por explicar a razão do assassinato e aquilo que terá acontecido a bordo do submarino no dia 10 de agosto.