António Costa e as ‘culpas’ da PT

António Costa terá muita razão nas críticas à PT. Mas só agora se descobriu que os cabos deveriam ser enterrados?

Em recente entrevista, António Costa continuou o seu fogo cerrado sobre a PT, zurzindo forte e feio com base num argumento que, aliás, me parece totalmente válido: a necessidade de os cabos de telecomunicações serem enterrados e não aéreos, deixando de estar sujeitos a intempéries e aos incêndios de Verão. E se já existem ‘caleiras técnicas’ em muitas estradas, onde os cabos poderiam passar, isso deveria ter sido feito. 
Mas, com este ataque, Costa visa o seu objetivo principal de defender o Siresp, onde teve envolvimento no passado governativo; e, simultaneamente, satisfaz os seus parceiros de coligação, numa cruzada contra a PT encetada na Assembleia da República (em que se permitiu sugerir, em discurso muito agressivo, mudanças de operador). 

No entanto, acho que esta questão não se pode colocar de forma tão simplista. 
Na minha opinião, acho que Costa, por muita razão que tenha na necessidade de enterrar os cabos, estará a ser injusto. 
Em primeiro lugar, a gestão da Altice é muito recente. Herdando uma empresa que reconhecidamente era de vanguarda nas telecomunicações, por indiscutível mérito profissional da anterior gestão (os temas do BES e sua relação com a PT são contas de outro rosário, claramente financeiro), a sua prioridade ao assumir a gestão não terá sido a área operacional, onde este tema se coloca. 

Em segundo lugar, se relembrarmos os fogos dos anos anteriores – sobretudo de 2003, que foi de calamidade nacional –, temos de convir que muita gente já deveria ter olhado para esta questão, dado que muitos invernos passaram. 
Dito de outra forma: se a PT não viu ou identificou durante todos estes anos essa lacuna, será que os técnicos da Proteção Civil ou do Siresp não deveriam tê-la já identificado? Ou só agora o problema começou a fazer-se sentir? Há nesta história alguma coisa mal explicada. De qualquer forma, também neste caso existirão diversas responsabilidades que, no meu entender, deveriam ser partilhadas com a PT.

Outra questão histórica tem a ver com quem se aproveita dos fogos. Diz o povo que ‘não há fumo sem fogo’, ou seja, se há fortes suspeitas de fogo posto em muitos casos (basta ouvir o que dizem os autarcas, que falam abertamente em «mãos criminosas»), por que não fazer um estudo sério sobre as áreas ardidas de há 15 anos para cá e ver os negócios que se fizeram – ou, por outras palavras, a quem o fogo aproveitou? Será que se descobrirão claros benefícios para certas entidades ou indivíduos? E se assim for, porque não publicitar os beneficiários em cada área? Talvez isso tivesse um efeito dissuasor no atear de incêndios… 

PS. – Neste país sempre tão mesquinho e invejoso de determinados rendimentos, mesmo quando legais, faz-me muita confusão que o Correio da Manhã publicite em 1ª página o vencimento de um médico que, objetivamente, ‘salva vidas’, após uma carreira de intenso estudo para chegar à perfeição possível numa área tão sensível como operar doenças de pâncreas ou fígado, quantas vezes cancros avançados. O povo costuma dizer que ‘a saúde é o bem mais precioso’. E se houve alguém que estipulou o vencimento auferido neste caso pelos médicos, foi porque o considerou justo! (Declaração pessoal: sou amigo do visado, Prof. Doutor Eduardo Barroso, há mais de 50 anos, e acho que merece bem o que legalmente ganha).