Alfredo Barroso. Sobre modernização administrativa, Graça Fonseca falou “nicles”

Os polos inverteram-se? Ontem, a esquerda antiga veio criticar a revelação da homossexualidade de Graça Fonseca

Alfredo Barroso continua sem papas na língua. Desta vez, o fundador do Partido Socialista atacou um membro do governo do PS liderado por António Costa.

“Não conheço pessoalmente Graça Fonseca, mas já sabia que ela era homossexual. E isso que tem? Nada”, escreveu.

“Julgo que a secretária de Estado da Modernização Administrativa, de que muito raramente se ouve falar, terá aproveitado a oportunidade de uma entrevista (…) para praticar um acto considerado de ‘coragem pessoal’, mas também, e sobretudo, para uma manifestação de mera propaganda pessoal”, acusou o sobrinho do falecido Presidente da República, Mário Soares.

“Sobre Modernização Administrativa, ‘nicles’”, ironizou também, em jeito de conclusão, considerando que a governante, que assumiu a sua homossexualidade em entrevista, pouco falou sobre a pasta que ocupa no executivo.

A secretária de Estado da Modernização Administrativa não reagiu diretamente à opinião do socialista – no passado recente mais distante do Largo do Rato e próximo do Bloco de Esquerda – mas não deixou de ontem publicar na sua página de Facebook um excerto da referida entrevista. “Qualquer sistema vive num país em que há uma perceção social dominante, um sistema de valores. E tudo isso como é evidente condiciona-o. E as organizações são compostas por pessoas com preconceitos, determinado tipo de valores, posições. Ninguém é neutral”, analisou.

“O erro das organizações é não perceberem que são vulneráveis a influências exteriores e as pessoas que estão nos sistemas e organizações não perceberem que não são neutrais, ninguém é. E é preciso ter consciência disso para exercer autovigilância. Tenho de ser imparcial, mas neutral não posso ser, porque sou um ser humano, não sou um robô”.

Mais apoios à direita

Se no caso de Alfredo Barroso se tratou de uma inaugural reação menos positiva por parte da esquerda à revelação de Graça Fonseca, ontem juntaram-se mais apoios de uma direita inicialmente reticente em pronunciar-se favoravelmente ao primeiro ‘coming out’ de um membro de governo português.

Miguel Poiares Maduro, que foi ministro de Pedro Passos Coelho no governo PSD/CDS, pediu: “Que tal praticarmos um pouco mais de moderação?”.

O quadro do PSD e professor universitário escreveu também: “Alguns dos críticos são pessoas com quem frequentemente concordo. Acho sinceramente que ao fundamentalismo do politicamente correcto se corre o risco de responder com igual fundamentalismo contra tudo aquilo que possa ser minimamente apresentado como politicamente correcto”.

Para Poiares, “dizer que ninguém tem nada a ver com a orientação sexual da secretária de Estado é verdade mas deve haver alguma razão pela qual nunca nenhum membro do governo tinha até agora assumido a sua homosexualidade”, na medida em que o “facto de essa questão nunca antes ter sido assumida (mesmo sem entrevista) por um membro do governo significa que estes tinham receio (e não apenas reserva) em fazê-lo”.

“A secretária de Estado rompeu com esse receio e isso não deve deixar de ser reconhecido”, aponta o antigo governante, acrescentando: “Um membro do governo não é uma pessoa qualquer. Tem uma dimensão pública relevante. A correspondente declaração pública da secretária de Estado pode ajudar outros, em contextos de trabalho por exemplo, a poderem livremente assumir a sua orientação sexual”.

Ao contrário do visado por Alfredo Barroso, por exemplo, Poiares não considera que Graça Fonseca tenha dado “uma importância excessiva ao tema”. “Assumiu numa entrevista a sua orientação sexual. Num país que já teve vários políticos proeminentes a fazerem reportagens para revistas sociais com as suas mulheres e famílias vir agora criticar a secretária de Estado por exposição pública da sua vida privada parece-me quase hipocrisia”, sublinhou, concluindo que não faltando “exemplos de exploração política neste governo, este não é um deles”.