A espiral de destruição acabou. E agora?

Estão na economia as maiores vítimas da crise, com falências e despedimentos que ninguém previu

É preciso recuar até à batalha de Alcácer Quibir para encontrar um período tão destrutivo para os interesses nacionais com o dos últimos dez anos. Empresas como a PT, a CIMPOR ou o BES ficaram reduzidas a quase nada, outras foram varridas do mapa ou vendidas a estrangeiros. Se juntarmos a CGD e o Montepio, o pavor aumenta. 

Fala-se de crise e ela existiu mesmo. Não foi uma ficção, mas não explica tudo. Como em todos os momentos de perigo, as mentiras dos oportunistas e a candura dos inocentes tendem a converter louváveis intenções reformistas em censura irresponsável a tudo o que ficou para trás. Lembremos os anos alucinantes que se sucederam à implantação da República, ou os tresloucados tempos do PREC, e teremos uma boa medida do que se destruiu, em nome de ideais de regeneração. Muda o vento, muda o emblema na lapela. Infelizmente, muda também o carácter. Ou a falta dele.

Acrise de 2007/8 deu pano para muitas explicações e muitas imputações, umas verdadeiras, outras falsas. Como seria de esperar, fechada a torneira do dinheiro fácil, ficaram a descoberto os alçapões que escondiam abusos, ilegalidades e condutas censuráveis. Daí a sacar da metralhadora e disparar sobre tudo o que mexia vai um passo que as lições da História recomendariam não fosse dado. Mas, conhecimento e ponderação são coisas que costumam faltar nos momentos de ruptura, justamente aqueles em que seriam mais necessárias. 

  Não terá havido uma pessoa, uma família, uma associação, uma empresa que tivesse ficado imune à crise e às réplicas que se seguiram, mas estão na economia as maiores vítimas, com um cortejo de falências e despedimentos que ninguém foi capaz de prever no momento certo. Sucederam-se os programas de austeridade, o PIB caiu a pique e, com ele, o investimento, o consumo, as exportações e as importações. 

Atingidas por severas quebras de rendimento, as famílias deixaram de pagar aos bancos. Com as vendas em queda, as empresas fizeram o mesmo. A troika ordenou a desalavancagem, as torneiras do crédito fecharam e um segundo choque levou os agentes económicos ao tapete. Com activos desvalorizados, os bancos foram obrigados a registar imparidades que puseram as contas no vermelho. Na emergência, venderam os imóveis ao desbarato e agravaram a espiral de destruição. 

Mais por mérito dos nossos parceiros do que por virtude própria, a economia está a recuperar, os activos retomaram o justo valor e já pularam acima dele. 

O FMI reconheceu o erro! Eureka! Afinal, não era necessário agir à bruta. Reavaliar por 60 o que antes valia 100, para vender em leilão por 40, foi um crime. Agora, a casa está no mercado por 120, o banco perdeu 60 e quem comprou no leilão ganhou 80. Não terá sido mera incompetência. Em todas as crises, os espertos ganham à custa dos burros… ou dos desonestos. 

Um dia alguém perguntará quem forneceu o dinheiro para os Fundos comprarem os imóveis. E, quando se descobrir que foram os mesmos bancos que venderam ao desbarato, vai ser o cabo dos trabalhos para explicar a racionalidade do negócio.