Furacão Harvey. As inundações letais são apenas o início

Contam-se já cinco mortos no Texas, mas o número deve subir. Há chuvas e inundações históricas. 

O Texas assistia este domingo à mais violenta tempestade de que lá há registo e a situação de crise só vai piorar.

As chuvas que o furacão Harvey trouxe causaram cheias inéditas na cidade de Houston, a quarta com mais residentes nos Estados Unidos, onde, ao cabo de poucas horas, caíram 60 centímetros de chuva que fizeram desaparecer o pavimento de avenidas inteiras, submergiram viadutos, levaram famílias para os telhados de suas casas ou tejadilhos de carros que boiavam desamparadamente em estradas transformadas de repente em rio.

Este domingo dava-se conta de cinco mortos, pelo menos, um número que muito provavelmente aumentará no decorrer dos próximos dias e das operações de busca e resgate que se conduziam um pouco por todo o estado. As piores previsões cumpriram-se: o caos ocorreu em proporções históricas e este, lamentavam este domingo os serviços de previsão, é apenas o início.

“As cheias catastróficas, sem precedentes e possivelmente mortíferas vão continuar por hoje e até à próxima semana”, anunciava este domingo o serviço meteorológico norte-americano.

O poderoso furacão Harvey atingiu a costa do sudeste americano no cúmulo da sua intensidade durante a noite de sexta-feira. Nesse momento chegou aos 209 quilómetros por hora, abalroou carros, casas, árvores e muito do que estava à sua frente, incluindo o recorde de furacão mais poderoso no Texas desde 1961.

O Harvey deixou-se mais ou menos estacionado a meio caminho entre San Antonio e Houston, onde perdeu força, recuou para o estatuto de tempestade tropical e por lá ainda estava ao final da tarde deste domingo. Não se espera que vá para muito longe até ao final da próxima semana. Até lá, o Harvey deve descrever círculos, arrastando-se lentamente para o nordeste.

Inundações

Não se exclui, em todo o caso, a possibilidade de fazer um círculo tão grande que regresse às águas do golfo do México, recupere intensidade, volte a ser um poderoso furacão e uma vez mais entre pelo território americano adentro, mais perto do Louisiana.

Por enquanto, porém, a grande preocupação são as cheias. Durante a noite, os serviços de emergência americanos realizaram mais de mil resgates em água e este domingo iam-se empilhando alertas de “inundações rápidas” em várias ruas de Houston.

O estado mobilizou 1800 militares da Guarda Nacional – sobretudo para ajudarem nos esforços de limpeza –, a Guarda Costeira tinha quatro helicópteros em ação e, no entanto, as redes sociais e centrais telefónicas dos serviços de emergência enchiam–se de pedidos de resgate.

“Os meus vizinhos estão aos gritos a pedir ajuda”, lia-se na conta do Twitter do xerife Ed Gonzalez. “Preciso de resgate, [tenho] uma criança de ventilador, não há eletricidade, casa está inundada”, escrevia, por sua vez, Stephanie Atkinson.

“Continuem a tentar o 9-1-1”, lançava de volta Ed Gonzalez, recordando as recomendações dos serviços de urgência: não saiam de casa, não tentem as estradas inundadas e “em casos de último recurso, não vão para as caves. Se o piso mais alto ficar perigoso, vão para os telhados”.

Política de emergência

Com os alertas de inundações históricas e mortais – em algumas zonas do Texas, previa-se mais de um metro de chuva – surgiam críticas: se Houston sofria este domingo a pior tempestade da sua história, por que razão não foi antes evacuada, apesar dos seus 2,3 milhões de habitantes, como algumas localidades mais pequenas?

Ao fim da tarde, afinal de contas, já 66 mil casas estavam sem energia e o isolamento, em alguns casos, era total. Aos críticos, no entanto, o “Washington Post” recordava que na última vez que foi emitida ordem para evacuar a grande cidade, mais de cem pessoas morreram no êxodo, quase tantas quantas morreram com o furacão Rita, que motivou a ordem.

A exploração de petróleo no Texas foi interrompida este domingo e assim continuará pelos próximos dias, segundo as autoridades, o que já causou subidas nos preços do combustível. Cerca de 4500 reclusos foram também transportados para prisões provisórias e centenas de pessoas estavam alojadas em pavilhões de assistência, longe das casas.

No Twitter, o presidente americano alternava este domingo entre ataques ao NAFTA e garantias de que as agências de emergência estão a colaborar devidamente, afastando, pelo menos por agora, os receios de uma descoordenação semelhante à que se viu com o furacão Katrina em Nova Orleães, em 2005, responsável pela morte de cerca de 1800 pessoas.

“Há enormes operações de resgate em curso”, escrevia Donald Trump ao final da tarde deste domingo.