Costa e Seguro, 3 anos depois

A nossa tendência para construirmos a História só com os vencedores é um dos grandes problemas que se colocam à memória das instituições e que fazem com que se vá eliminando a vontade de combater por medo da derrota. Esse problema atravessa os partidos políticos em especial. 

O ano 2014 foi um marco relevante do Partido Socialista. Porque se assumiu um verdadeiro confronto entre estilos, visões do país e do mundo, porque o que estava em causa entre Costa e Seguro não era só a perceção sobre a melhor forma de chegar à governação do país. 

A vitória de António Costa levou a que uma parte do partido se tivesse quedado em repulsa, posteriormente apática e, depois, mais colaborante. Mas há, ainda, uma outra parte que tarda em se se sentir lá dentro, em se considerar aceite na discussão plural das propostas. Costa fez um pequeno esforço ao integrar alguns nas listas para os órgãos nacionais. Esse esforço não foi na mesma dimensão nas listas de deputados e revelou-se de forma insuficiente  na constituição do Governo. Alguns reputados apoiantes de Seguro são peças relevantes da geringonça, é visível que em muitos ministérios se assumiu uma leitura não sectária das escolhas, mas não chega. Estamos  ainda muito longe do todo que somos.

Há, hoje, um conjunto de figuras relevantes que se encontram à margem deste novo tempo, deste processo que nasceu de um desconforto e dose excessiva de desconfiança. Mas não pode ser a comodidade do ‘estar no poder’ ou a desnecessidade de promover o debate que pode justificar a não exigência de um regresso à integração. 

O caso mais relevante do que falei é António Galamba, que não é um socialista qualquer. O PS depositou nele inúmeras responsabilidades, pediu-lhe dedicação e quase subordinação, não podendo, sob pena de se transformar num espaço de ostracização, esquecer este quadro político. 

Há quem diga que Galamba tem uma posição muito crítica da  direção e governação. Que bom que é existir, no PS, quem tenha posições críticas, quem nos faça olhar por outros lados cada problema, que nos ative as células de Poirot. 

Mas o que mais me implica é a incapacidade para voltar a integrar António José Seguro. Costa não precisa de “casar” com Seguro, não se exige que sejam íntimos, não se lhes pede que passem a concordar em tudo. Mas como muito bem fizeram sempre Soares e Alegre depois de grandes contendas, o que une os socialistas é a História e o seu passado. Ora, não há nenhum socialista que possa eclipsar os anos em que Seguro foi secretário-geral da JS, em que foi governante e em que foi secretário-geral.

Nós, que tivemos convergências e divergências com Seguro, sempre olhamos para o PS como aquele em que Soares se refez com o ex-Secretariado; em que guterristas se recompuseram com sampaístas; em que socráticos lançaram mão de alegristas para construir o Governo de 2005. O que falta para encerrar, de vez, a contenda de 2014? 

Só há uma pessoa que tem o poder/dever de nos colocar em paz – António Costa. Porque é aos vencedores que cumpre fazer a paz, porque todos os que são Grandes conseguem ir mais além do que rezam as cigarras próximas sempre medrosas e tementes. 

O PS pode fazer o caminho para as próximas legislativas cumprindo o seu dever de se encontrar consigo próprio, pleno, resolvido, nacional. Saiba-se da urgência que temos à nossa frente.

 

Ascenso Simões