Zhou Qunfei. Da pobreza se fez uma história inspiradora

Nasceu no seio de uma família muito humilde e perdeu a mãe quando ainda tinha apenas cinco anos, mas hoje em dia é uma das mulheres mais ricas do mundo. Numa lista de 20 milionárias, Zhou Qunfei é a única que conseguiu construir um império apenas com o seu trabalho

Muitas vezes, as listas que são feitas para enumerar as pessoas mais ricas do mundo contam com nomes que herdaram parte das suas fortunas ou parte dos negócios, que acabaram por fazer crescer. É assim quer para homens ou mulheres. Mas a lista de milionários que construíram impérios a partir do nada tem vindo a aumentar e conta com cada vez mais mulheres.

Olhando para os dados da Forbes, divulgados este ano, em cada nove milionários, aparece uma mulher. O número pode parecer pequeno, mas tem vindo a crescer, assim como o número de mulheres que conseguiram fazer fortuna a partir de uma simples ideia. A Forbes sublinha mesmo que, ainda que a maioria tenha herdado a fortuna, há um grande número de self-made women. Das cerca de 200 mulheres mais ricas de sempre, mais de 50 conseguiram rechear as suas contas com negócios que criaram de raiz. Um dos exemplo é Zhou Qunfei. Esta chinesa aparece, aliás, em grande destaque na publicação ou não fosse, de uma lista de 20 milionárias, a única que conseguiu fazer fortuna apenas com o trabalho. Mas quem é, afinal, esta mulher? A empresária chinesa é a fundadora da Lens Technology, empresa que se transformou na grande fornecedora de vidros para o fabrico de ecrãs para os telemóveis da Samsung e da Apple. O negócio de Zhou Qunfei faz dela a 186ª pessoa mais rica do mundo, com uma fortuna avaliada em cerca de 7,4 mil milhões de dólares. Contando apenas com a lista das mulheres com mais dinheiro, é a 17ª. Cinco das dez mulheres mais ricas são chinesas e a lista é encabeçada por esta antiga operária, de 47 anos. Zhou Qunfei é, aliás, protagonista de uma história de ascensão fora do comum. A mãe da empresária morreu quando ela tinha apenas cinco anos e o pai ficou cego num acidente de trabalho. Fora isto, a história desta chinesa foi idêntica à da maioria dos jovens que viviam no interior. Para sustentar a família viu-se, desde muito cedo, obrigada a trabalhar numa fábrica. Tinha 15 anos quando teve de deixar a escola. «No sítio onde cresci, a maioria das raparigas não tinha oportunidade de frequentar a escola durante muito tempo. Ficavam noivas muito cedo e casavam para depois passarem o resto da vida no mesmo sítio. Não havia grandes oportunidades», recorda Zhou. Mas a vida desta empresária foi diferente das demais em muitos aspetos. Mais tarde, já em 1993, conseguiu um emprego melhor, numa fábrica de vidros para relógios, a Bao En, em Shenzhen, uma das maiores e mais importantes cidades, localizada no sul do país. E foi este pequeno passo que determinou tudo o que viria a acontecer. Zhou Qunfei aprendeu a usar vidro em vários componentes ligados à tecnologia. Passados poucos meses, ainda em 1993, achava que já tinha aprendido tudo sobre o ofício e decidiu que era altura de arriscar outros voos. Escreveu a carta e demissão e entregou-a. Mas teve uma grande surpresa. «O meu chefe disse que a minha carta tinha sido escrita numa linguagem tão perfeita que o fez perceber que eu podia ter outro tipo de trabalho dentro da fábrica. Ele queria que eu continuasse a trabalhar lá», contou recentemente numa entrevista. Zhou acabou por aceitar a proposta e ficou a trabalhar naquela fábrica durante mais dez anos, altura em que decidiu sair e tentar realizar o seu sonho: ter uma empresa própria. 

Ainda hoje, garante que sempre que lhe perguntam como teve a ideia que viria a render-lhe largos milhões, a empresária recorda a importância de uma professora que teve ainda na primária: «Ela costumava dizer que era muito importante observarmos com atenção tudo o que nos rodeia e eu sempre fiz isso. Houve um dia em que fiquei o dia todo a ver a chuva cair. Foi esse o ponto de viragem. Vi que a chuva ao cair nas folhas não deixava traços e quis ver se era possível aplicar essa lógica no vidro». 

A rainha das telas de vidro

Hoje em dia, a empresa que fundou em 2003, em Shenzhen, produz telas para os telemóveis dos gigantes desta área, nomeadamente, Apple e Samsung. Em 2001, surgiu a grande oportunidade de ganhar um contrato muito lucrativo para produzir para a empresa chinesa TCL Corporation. Em 2006, o negócio continua a dar cartas e a empresária decidiu que era hora de mudar para a Zona de Desenvolvimento Económico de Liuyang, em Hunan. A partir daí, o projeto de Zhou atingiu a velocidade de cruzeiro. Hoje em dia tem mais de dez fábricas e emprega mais de 60 mil pessoas. Acabou por ficar conhecida no seu país natal como a rainha das telas de vidro e é considerada uma inspiração para milhares de trabalhadores chineses.

No entanto, Zhou Qunfei garante que nunca se esqueceu do que teve de fazer e do quanto teve que trabalhar para conseguir chegar onde chegou. Numa entrevista recente, a milionária chinesa relembrou uma frase que costuma repetir com frequência: «Acredito que é importante as pessoas não se deixarem levar quando alcançam o sucesso e não ficarem deprimidas, nem assustadas, quando os tempos são difíceis».

«Provavelmente, estamos a falar da mais bem sucedida self-made woman. Até há pouco tempo era completamente desconhecida para a maioria das pessoas, mas surpreendeu o mundo não só com o dinheiro que conseguiu fazer, mas também pela sua história incrível», referiu recentemente Rupert Hoogewerf, editor do Hurun Report.