Depois de Santana Lopes ter conquistado a Câmara em 2001 de forma inesperada e surpreendente, batendo João Soares, deixou o trabalho a meio para assumir a chefia do Governo.
A CML ficou então entregue a Carmona Rodrigues, que completou o mandato e venceu as eleições seguintes com o melhor resultado de sempre do PSD, mantendo-se no cargo.
Só que, pouco tempo depois, em consequência de uma questão judicial, Marques Mendes tirou-lhe o tapete – provocando a sua queda e proporcionando a António Costa uma vitória fácil.
Ou seja: depois de, num ‘raide’ de Santana Lopes, o PSD ter conseguido a proeza de roubar a Câmara ao PS, devolveu-a a este partido sem qualquer luta.
António Costa governou a cidade durante oito anos, entre 2007 e 2015, passando o pelouro a Fernando Medina quando se candidatou a primeiro-ministro.
E logo aí o PSD deveria ter definido uma estratégia.
Mas não.
Mais uma vez revelou uma incapacidade confrangedora para gerir o dossiê Lisboa.
Primeiro, a estrutura distrital e a liderança do partido envolveram-se em desavenças públicas, chegando-se ao ridículo de ser nomeado um redator do programa eleitoral antes de se escolher o candidato (e só por aquele ser opositor de Passos Coelho).
Depois, o PSD esperou por um militante – Pedro Santana Lopes – que obviamente nunca se candidataria, o que provocou atrasos e fez da figura que viesse a ser escolhida uma ‘segunda escolha’.
A seguir, não tomou a única decisão razoável naquelas circunstâncias adversas, que era apoiar a candidata do CDS, Assunção Cristas, que já estava no terreno.
Por fim, escolheu Teresa Leal Coelho – que pode ser uma excelente pessoa mas não tem jeito para aquilo.
É claro que, mesmo que o PSD e o CDS concorressem juntos, Fernando Medina era o grande favorito.
Mas aí haveria uma réstia de esperança na vitória, que poderia servir para mobilizar os militantes dos dois partidos.
Ora, com o PSD e o CDS a concorrerem separados, a derrota é certa.
E a desmobilização é inevitável.
Medina vai ter uma vitória por números invulgares – apesar de não ser um grande candidato.
Fernando Medina é pessoalmente pouco empático e revelou falta de seriedade no tratamento de alguns temas, como a 2ª Circular.
Começou por apresentar um projeto de requalificação que provocou polémica, mas mesmo assim levou o concurso para a frente e adjudicou a obra.
Só que, quando os trabalhos estavam para arrancar, a algazarra subiu de tom e Medina percebeu que poderia perder muitos votos se não recuasse — porque as obras provocariam enormes problemas no trânsito, arrastando-se pelo período eleitoral dentro, e no fim suscitariam imensas reações negativas, pois a circulação automóvel ficaria estrangulada.
Perante isso, Medina desistiu.
Mas em vez de o assumir frontalmente, inventou uma ‘incompatibilidade’ para anular o concurso – fugindo aos respetivos custos políticos e não ressarcindo a empresa construtora pelos prejuízos causados.
Não foi sério.
Foi manhoso.
Além destes defeitos, o atual presidente da Câmara é um homem que não provoca empatia com o eleitorado: o seu rosto é inexpressivo, o olhar é vago, tudo nele transmite uma imagem de frieza, calculismo e pouca convicção.
Parece muito pouco genuíno: diz o que deve e nunca o que pensa.
Portanto, poderá ser um bom político de gabinete mas nunca será um político popular, vocacionado para fazer campanhas mobilizadoras.
Até por isso, o PSD e o CDS juntos no apoio a Assunção Cristas — que é uma mulher capaz de criar uma corrente afetiva com a população — poderiam ter a ambição de fazer uma campanha eleitoral mais forte do que a de Medina.
Mas o PSD não quis.
Agora que os cartazes já estão na rua, o PSD mostra uma absoluta ausência de ideias.
Veem-se slogans como ‘Por uma senhora Lisboa’ ou ‘Por uma cidade onde vivem avós, filhos e netos’ (julgo que o autor da frase queria dizer ‘Por uma cidade onde possam viver avós, filhos e netos’, e não ‘onde vivem’).
Se o PSD só tem isto para dizer, parece que Medina não tem pontos fracos.
Até agora, as críticas que lhe são feitas resumem-se à questão dos turistas.
Dizem que ele só faz obras para os turistas – e que, com isso, está a expulsar os lisboetas do centro da cidade.
Mas que lisboetas viviam no centro?
Há quanto tempo o centro da cidade estava despovoado, com casas abandonadas, ruas desertas à noite e ao fim de semana?
Há muitos anos.
Os turistas é que vieram dar vida a uma capital que em certas alturas parecia uma cidade fantasma.
Mais: se durante décadas invejámos Paris e Londres pela sua capacidade para atrair milhões de turistas, faz algum sentido que agora nos queixemos de que há turistas a mais?
O PSD não pode queixar-se do que está a acontecer em Lisboa, pois cavou com as próprias mãos a sua sepultura.
Primeiro, entregou de bandeja a Câmara ao PS; depois, não foi capaz de construir uma candidatura forte, ficando a ver passar os comboios; finalmente, não conseguiu encontrar uma linha de campanha que dissesse alguma coisa aos lisboetas.
Medina vai ganhar por muitos.
Parcialmente por mérito seu.
Mas a passadeira vermelha foi-lhe estendida pela oposição, isto é, pelo CDS e sobretudo pelo PSD.