Quartos. Procura sobe e preços disparam

Lisboa é o distrito em que alugar quartos sai mais caro – o custo de arrendamento está nos 308 euros mensais. Em segundo lugar vem o Porto, cujos valores rondam 242 euros mensais. Mas a atual realidade do mercado de arrendamento nas grandes cidades faz com que seja complexo para muitas pessoas solteiras ou separadas…

A procura de quartos para arrendar tem vindo a disparar e o número de pesquisas já quintuplicou face ao último ano. Os preços não ficam alheios a esta realidade e os valores subiram em média 8% face ao período homólogo de 2016, situando o preço médio em Portugal nos 238 euros mensais, segundo o relatório anual de arrendamento de quartos realizado pelo site Idealista.

A verdade é que o arrendamento de quartos tem acompanhado nos últimos meses a subida dos preços praticados no mercado imobiliário português e hoje é possível encontrar valores por quarto quase equiparados ao que se pagava há uns anos pelo arrendamento de um imóvel. E os números falam por si. A Uniplaces, plataforma online especializada em alojamento de estudantes universitários, revelou ao i que o preço do arrendamento de quarto em Lisboa subiu 10% no primeiro trimestre do ano face ao período homólogo, situando-se nos 355 euros. Já no Porto subiu 3%, fixando-se nos 268 euros.

Também o estudo do Idealista confirma estes dados ao revelar que foram nos principais distritos do país que se registaram os maiores aumentos. O Porto segue esta tendência nacional e vê os seus preços subirem 15,2% num ano, sendo o maior aumento do país, seguido por Lisboa com um aumento de 14%. Em Coimbra a variação foi menos acentuada com apenas 6%.

Segundo os mesmos dados, a capital é o distrito com os quartos mais caros em Portugal, situando o custo de arrendamento nos 308 euros mensais, seguido pelo Porto (242 euros por mês) e Setúbal (222 euros). Por outro lado, dos distritos analisados, os mais económicos para arrendar um quarto são Santarém (185 euros), Coimbra (183 euros) e Leiria (169 euros) como os mais baratos.

Uma das soluções cada vez mais procurada para fazer a estes valores desajustados é a partilha de quartos e esse fenómeno é visível nos anúncios de arrendamento. É cada vez mais frequente encontrar a mensagem: “Há um total de x camas neste quarto. Como este é um quarto partilhado, as outras camas podem ser reservadas por outras pessoas.”

A partir daí, o senhorio é que poderá fazer a escolha. É possível encontrar quartos partilhados só para homens ou só para mulheres. Mas há quem não faça essa distinção.

A Uniplaces reconhece esta tendência de partilha, mas diz que, “por norma, os estudantes dão prevalência à privacidade em detrimento do preço, tirando alguns casos em que se verificam maiores dificuldades financeiras”. Por isso, considera que procura por um quarto isolado é o comportamento de pesquisa mais comum.

O perfil de quem partilha casa 33 anos, vivem no centro de grandes cidades, não fumam (apesar de tolerantes com quem fuma) e não têm e nem permitem animais de estimação. Este é o perfil das pessoas que partilham casa em Portugal, de acordo com o estudo do idealista.

A idade média dos habitantes de uma casa partilhada varia em função da zona geográfica, sendo Santarém e Setúbal o distrito com a média mais alta rondando os 37 anos (em ambos os casos). Em Lisboa a média de idades é de 36 enquanto no Porto é de apenas 30 anos.

Por outro lado, Coimbra, tradicionalmente estudantil, apresenta uma média de idades mais baixa. Os habitantes de casas partilhadas nesta cidade rondam os 28 anos.

Em 84% das casas convivem ambos os sexos, enquanto 13% vivem apenas indivíduos do sexo feminino e 3% exclusivamente masculino.

Os dados publicados neste relatório revelam que o arrendamento de quartos deixou de ser uma opção habitacional apenas para estudantes, convertendo-se também na opção eleita por jovens nos seus primeiros anos no mercado de trabalho e em alguns casos até mais tarde.

“A atual realidade do mercado de arrendamento português nas grandes cidades faz com que seja complexo para muitas pessoas solteiras ou separadas suportar o custo de uma casa, tornando o arrendamento de um quarto a opção mais vantajosa”, revela o estudo, acrescentando ainda que “partilhar casa continua a ser um estímulo para muitos jovens com vontade de serem independentes e sair da casa dos pais, uma tendência que se espera ver aumentar nos próximos anos”.

Rendas altas

O que é certo é que os valores dos quartos ficam muito aquém dos preços do arrendamento tradicional. Os portugueses procuram casas para arrendar na ordem dos 600 euros, bem longe da média de oferta praticada no mercado nacional, cujos valores são praticamente o dobro e que poderão até triplicar consoante a zona da cidade, principalmente se estivermos a falar de Lisboa. Na capital, o valor médio de oferta está fixado nos 1104 euros – ainda que haja zonas onde se praticam valores superiores, como Parque das Nações ou a Baixa – para uma procura que se situa entre os 397 e os 600 euros. O cenário repete-se no Porto, que apresenta uma média de oferta de 1056 euros – com valores superiores no chamado triângulo dourado: Avenida dos Aliados, Mouzinho da Silveira e Clérigos – para uma procura que varia entre os 260 e os 461 euros, revelam os dados da APEMIP.

A associação do setor admite que são os jovens os mais penalizados por esta inflação de preços que se tem praticado nos últimos anos. “Se considerarmos o valor médio de oferta em Lisboa ou no Porto, chegamos rapidamente à conclusão de que a maior parte dos jovens portugueses não têm, de todo, condições para suportar rendas daquela dimensão, sendo habitual juntarem-se em apartamentos, arrendando quartos. No entanto, esta é uma situação que, por vezes, sai da esfera dos jovens para se estender a pessoas adultas, e por vezes, em situações mais complexas, até a famílias”, alerta.