A angústia do segundo filho

Será que tenho espaço em mim para mais um amor tão forte, tão grande? Impossível! E o meu bebezinho, o primeiro, coitadinho… Parece uma traição.

Sonhar e desejar pela primeira vez um filho é uma sensação tão especial quanto única. É um capítulo desconhecido que se começa a folhear com entusiasmo e receio, que se saboreia e descobre a cada pormenor. Um sonho que se vai desenrolando ao longo dos dias e que começa a ganhar forma no momento em que temos a confirmação de que iremos ser pais. Há um ser minúsculo que começa a habitar dentro de nós e, se ainda é demasiado pequeno para se fazer sentir, no nosso coração já é enorme e transborda a cada batimento.

As ecografias são vividas com muita emoção. A primeira vez que vemos o nosso filho! Apesar de ter aquele ar de caveira assustador, é perfeito! Tem perninhas, pezinhos, bracinhos, mãozinhas e até o nariz do pai e os olhos da mãe. É o nosso bebé. É mesmo verdade. Está ali a mexer-se e tudo! E até trazemos uma fotografia para casa para comprovar, matar saudades e mostrar a toda a gente.

Tudo é novidade! O crescimento do bebé, as sensações que traz e o aumento da barriga são vividos com enorme alegria e por vezes alguma apreensão. Nada passa despercebido.

Chega o momento em que o abraçamos pela primeira vez. O namoro torna-se ainda mais intenso e o abraço nunca se perde. O bebé vai crescendo, torna-se criança e um dia sentimos vontade de ter outro filho. Outro bebé, um irmão para o nosso filho. Vai ser ótimo! E imaginamos que tudo se vai repetir, mas nada na vida se sente duas vezes da mesma forma. Subitamente uma dúvida angustiante apodera-se de nós: será que vou ser capaz de gostar também deste bebé? Será que tenho espaço em mim para mais um amor tão forte, tão grande? Impossível! E o meu bebezinho, o primeiro, coitadinho… Parece uma traição. O sentimento, de tão estranho, é quase secreto. Se no primeiro não tinha dúvidas, agora… Não sei onde esconder estes medos que parecem avolumar-se com o aumento da barriga. Que sentimentos contraditórios, que injustiça para este bebé tão pequenino que cresce também a ansiar aquele abraço…

Esta espera pode ser aflitiva por ser tão díspar da primeira. Mas esperar o segundo filho é uma novidade tão grande como a anterior. Quando finalmente nasce e o olhamos com tanto amor como ao primeiro, desaparecem todos os receios, percebemos que o coração esticou, aumentou sem darmos por nada, e acolhe este e todos os bebés que viermos a ter com o mesmo amor, o mesmo carinho e a mesma felicidade.

Por maior que seja a dúvida não acredito que haja algum coração que não estique. Ainda por cima vêm assim pequeninos e amorosos para dar uma ajuda ao mais teimoso. Gosta-se de forma única de cada um e de todos desmesuradamente. Cada filho é tão singular que é como se ocupasse um lugar só dele no nosso coração. Cada um tem o seu espaço e desta forma não é disputado. E como o coração cresce…. Há sempre lugar para mais um!