Terrorismo. Se fosse uma ameaça real, haveria desmentido das autoridades?

Secretária Geral de Segurança Interna classificou avisos sobre ameaça em Lisboa de rumores. Amnistia Internacional optou por evacuar edifício no Cais Sodré

A manhã de ontem foi de sobressalto em Lisboa com os avisos partilhados nas redes sociais de que haveria um alerta para um possível ataque terrorista na capital. Às primeiras perguntas dos jornalistas, o governo veio esclarecer que não havia indícios concretos de ameaça e a Secretária Geral do Sistema de Segurança Interna, Helena Fazenda, classificou as informações de “rumores”. Se a ameaça fosse real, seria diferente?

O i tentou perceber junto do Ministério da Administração Interna, que fez um dos desmentidos pela voz da ministra Constança Urbano de Sousa, qual seria o protocolo de comunicação no caso de existirem indícios concretos. O gabinete da governante remeteu para a Unidade de Coordenação Antiterrorismo (UCAT), que ontem não foi possível contactar.

Alexandre Guerreiro, ex-espião das secretas portuguesas, disse que “é de suspeitar que se trate de uma ameaça terrorista concreta”. No entanto, diz o especialista, uma situação destas pode ter diferentes origens. “Ou algum elemento das forças de segurança ou de algum organismo do Estado teve acesso a esta informação e colocou-a desta forma cá para fora ou pode ser uma simples partida”, explicou Guerreiro. Na experiência do ex-espião, seria “expectável” o anúncio de risco de atentado terrorista iminente em Portugal por parte das autoridades caso este fosse provável, “dependendo do sítio que se saiba onde poderá ocorrer”. Para Guerreiro, “dificilmente diriam que o atentado ocorreria em Lisboa no geral, mas se soubessem que existiria essa hipótese em determinada área poderiam eventualmente dizê-lo para evitar a afluência de pessoas e até o podiam fazer de uma forma discreta sem criar alarmismos”. Ou seja, a “atuação das autoridades estaria dependente do nível de conhecimento da ameaça e das circunstâncias”, assevera.

Sabe-se pouco sobre como tudo começou. Segundo o i apurou, os avisos começaram a circular através do WhatsApp na quarta-feira à noite. Uma das preocupações das autoridades terá sido identificar a sua origem.

Durante a manhã de ontem, uma das imagens partilhadas nos posts com alusões ao aviso de ameaça terrorista em Lisboa reproduzia uma alegada mensagem recebida durante a manhã: “a minha colega de obstetricia tem uma amiga cuja mãe trabalha numa embaixada e eles receberam um alerta de ataque terrorista para hoje em Lisboa. Acho que já avisaram os hotéis e as embaixadas de Lisboa. Não é para stressar mas só para não irem para o centro ou assim”.

O perfil da pessoa que surge como autora do post não era localizável nas redes sociais. Pela manhã, apurou o i, a informação circulava em diferentes hotéis, mas não terá havido uma comunicação formal, apenas o passa palavra. A Amnistia Internacional, no Cais Sodré, optou ainda assim por enviar os funcionários para casa. O i sabe que não houve, mais uma vez, uma comunicação formal com a instituição, apenas uma tentativa interna de obter informações junto das autoridades, tendo uma fonte indicado a um colaborador que tudo não passaria de um boato mas, por precaução, sugeriu informalmente que a zona fosse evitada.

“Portugal não alterou o grau de ameaça, que se mantém em grau moderado”, disse em comunicado a Secretária-Geral do Sistema de Segurança Interna. “Todas as forças e serviços de segurança que integram a unidade de coordenação antiterrorismo estão a trabalhar em completa articulação e em coopoeração com as suas congéneres, acompanhado o contexto internacional no âmbito da ameaça terrorista”, esclareceu ainda Helena Fazenda.

A ministra da Administração Interna viria a público pouco tempo depois garantir que não existiam indícios concretos de ameaça. “Não é uma questão de evitar hoje ou amanhã os sítios turísticos, não percebo porque é que é esse alarido todo”, disse Constança Urbano de Sousa, sublinhando que o reforço de policiamento da PSP é normal e já acontece há muito tempo.

Chegou a ser avançado que a PSP tinha feito um reforço inédito da segurança. Fonte oficial da Polícia de Segurança Pública recusou ao i qualquer ligação entre os rumores e uma medida efetivamente tomada: “Foram apenas dadas orientações por parte da Direção Nacional da PSP, a nível nacional, para assegurar que os diferentes comandos mantêm um rigoroso cumprimento de medidas que já vinham a ser adotadas desde 2016”, disse fonte oficial, dando como exemplo o “reforço dos perímetros de segurança em grandes eventos ou a colocação de obstáculos à circulação de veículos ou ainda o patrulhamento de visibilidade reforçada em zonas de maior concentração de pessoas, complementado por equipas à civil”. De acordo com a PSP, o fim das férias e grandes eventos como o Red Bull Air Race, que decorre este fim de semana no Porto, levaram a este recentrar do “trabalho preventivo de policiamento”.