Seleção. Cabeça do mestre André decide batalha de Budapeste

Ninguém disse que iria ser fácil, mas não se esperavam tantas dificuldades, nomeadamente pela postura agressiva dos húngaros. O 1-0 chegou e bastou para manter o objetivo vivo: faltam duas finais

Um lugar no play-off já está garantido: isso já ninguém nos tira. Mas o campeão da Europa não se pode contentar com os restos: Portugal tem qualidade suficiente para vencer a Suíça, na finalíssima de acesso ao Mundial da Rússia, que irá ter lugar no Estádio da Luz a 10 de outubro – é verdade que três dias antes ainda há uma deslocação a Andorra para ganhar, mas se não se for capaz de vencer no reduto de uma equipa que soma dois golos marcados e 17 sofridos em oito jogos, então não vale a pena sequer marcar presença num Mundial.

Em Budapeste, foi muito difícil. Mais do que era esperado – embora baste rebobinar a cassete apenas um ano e dois meses para nos lembrarmos do mítico (e desesperante) 3-3 no Europeu de França. A Hungria nunca seria pêra doce, apesar dos 3-0 com que foi brindada na primeira volta na Luz: em Budapeste seria sempre diferente, até porque a formação magiar ainda acalentava uma pequeníssima réstia de esperança de chegar ao play-off.

O histórico era amplamente favorável a Portugal: em 12 confrontos, oito vitórias e quatro empates. Em solo húngaro, eficiência total: dois jogos, duas vitórias lusas (1-3 em 1998 e 0-1 em 2009). Mas os registos históricos e as estatísticas não jogam, e tudo se pode inverter quando a bola começa a rolar. Neste caso, os portugueses certamente não estariam à espera de ser recebidos com tamanha animosidade. Desde cedo que se percebeu que os comandados de Fernando Santos iam enfrentar uma verdadeira batalha, e só com muita assertividade, eficiência e espírito guerreiro poderiam conseguir o único resultado que interessava.

 

hungria fora Em relação ao jogo de quinta-feira, com as Ilhas Faroé, o selecionador nacional fez quatro alterações. Para o onze saltaram Bruno Alves, Fábio Coentrão, Danilo e Gelson Martins. A grande novidade foi mesmo o regresso de Coentrão, quase dois anos depois da última vez que havia representado a Seleção nacional (8 de outubro de 2015, numa vitória por 1-0 sobre a Dinamarca). Não durou muito, porém, a aventura do agora jogador do Sporting: logo aos 28 minutos, aparentemente devido a lesão muscular, pediu a substituição. Eliseu, o pronto-socorro de serviço, foi a jogo.

Por esta altura, já se percebia que o jogo ia ser maioritariamente dominado por Portugal e que os húngaros apostariam somente no contra-ataque, sem pejo em distribuir amiúde a chamada “fruta” para pôr os portugueses em sentido. Aos 20 minutos, Patkái viu amarelo após um lance perigoso com o cotovelo, e dez minutos depois, o ponta-de-lança Priskin viria mesmo a ser expulso devido a uma situação semelhante: uma cotovelada na cara de Pepe, que ficou mesmo a sangrar.

Pouco depois, déja-vu, mas agora com Cédric. Aqui, o árbitro não considerou haver qualquer falta do jogador húngaro. Enquanto isso, no futebol que ia havendo aqui e ali, Portugal insistia de todas as maneiras. Ronaldo, sempre a procurar o golo, fosse de cabeça ou com os dois pés, mas também João Mário, André Silva e até Cédric. Só faltava o golo, que chegaria no início da segunda parte, com alguns adeptos ainda à espera das sandes que tinham ido buscar ao intervalo. João Mário e João Moutinho combinaram na esquerda, com o médio do Mónaco a servir Cristiano Ronaldo. O CR7 foi à linha e cruzou largo, fazendo a bola sobrevoar toda a defesa até chegar à cabeça de André Silva, que ao segundo poste disse “sim” a mais uma vitória portuguesa – a sétima consecutiva neste apuramento. Mais (oito em oito), só mesmo a Suíça, que ao mesmo tempo ganhava tranquilamente na Letónia (3-0), com mais um show do benfiquista Seferovic: um golo (golaço de calcanhar, tirado a papel químico do lance que deu a vitória às águias em Chaves, na segunda jornada do campeonato) e uma assistência.

Logo no lance seguinte, porém, os húngaros demonstraram que ainda não estavam mortos. Sem deixar cair a bola, Patkái disparou um tiro perigosíssimo – foi por um triz que não desfeiteou Rui Patrício, passando ligeiramente ao lado do poste direito da baliza portuguesa. A partir daqui, todavia, a Seleção nacional voltou a ter o controlo quase absoluto do encontro, embora sem conseguir criar grandes oportunidades para sentenciar a partida. E quando assim é, a incerteza mantém-se até ao fim, como aconteceu novamente aqui: no úlimo lance do jogo, a Hungria dispôs de um livre lateral e pôs toda a gente na área portuguesa – incluindo o guardião Gulácsi. Valeu Rui Patrício, com uma excelente intervenção, a negar o golo a Fiola – o guarda-redes português até repôs a bola em jogo com a máxima celeridade, na esperança de aproveitar o facto de a baliza húngara estar deserta, mas o remate de Quaresma ainda antes da linha do meio-campo saiu muito, muito torto. Não há mais a contar: a Hungria está fora do Mundial, Portugal tem duas finais para vencer e carimbar o passaporte.

 

luxemburgo choca frança Do resto da ronda europeia, importa realçar o chocante resultado ocorrido em França: 0-0 entre a seleção gaulesa, vice-campeã europeia em título e uma das mais fortes do mundo, e o modesto Luxemburgo, que até esta dupla ronda contava apenas um ponto em seis jogos e que terminou a festejar como se de uma vitória na final do Mundial se tratasse. Basta referir cinco nomes do onze francês (Pogba, Lemar, Griezmann, Giroud e Mbappé) para ter uma ideia do escândalo que foi a equipa comandada por Didier Deschamps ficar a zeros perante um adversário que levava 17 golos sofridos em sete jogos – e ambas as equipas atiraram aos postes. E isto, três dias depois de um portentoso 4-0 dos franceses sobre a Holanda…