Leilões. China à conquista da liderança de um mercado em crescimento

Nos primeiros seis meses do ano foram vendidos menos 100 lotes de arte em leilões na China do que nos EUA. Mas como o segundo semestre chinês “é estruturalmente mais forte do que o norte-americano”, a expetativa é que Pequim venha a liderar o mercado

Os EUA e a China estão a par dos EUA na liderança do mercado mundial de leilões de arte. Segundo o relatório semestral da Artprice, no primeiro trimestre de 2017 ambos os países tiveram o mesmo volume de vendas, num mercado global em ascensão e no qual está a recuperar de forma lenta.

Nos primeiros seis meses de 2017 os negócios nos EUA – no valor de 2,239 mil milhões de dólares – corresponderam a 32,4% do mercado e na China foram de 1,999 mil milhões de dólares, 29% do total mundial.

“Nunca tinha havido dois balanços tão próximos, tanto em termos de volume de transações quanto de volume de negócios”, destaca o relatório da Artprice, citado pela agência AFP.

No total, foram vendidos, nos EUA, no primeiro semestre, 38 000 lotes de arte, que incluem pinturas, esculturas, desenhos, fotografias, estampas e instalações. Na China, foram comercializados 37 900 lotes.

À semelhança da generalidade dos setores da economia mundial, a disputa entre os dois gigantes acontece numa altura de crescimento do mercado mundial, que registou uma subida de 5,3% no primeiro semestre por comparação com o mesmo período de 2016.

Depois de dois anos seguidos de desaceleração, a recuperação também foi positiva para Reino Unido – subida de 13% (1,5 mil milhões de dólares ) e França, onde o volume de negócios no primeiro semestre de 2017 subiu 7% (326 milhões de dólares).

Em Portugal, cuja estimativa para o valor do mercado é entre os 30 milhões e os 50 milhões de euros anuais, “os últimos dois anos foram de uma certa estagnação”, aponta ao i Luís Afonso. O professor prevê que “a situação se irá manter assim durante os próximos anos” e que só com a “economia real acima dos 3% é que poderá haver maior euforia”.

Online

Ainda assim, lembra, “desenvolveu-se muito a vertente online para redução de custos e aumento de margens”, que continuará a crescer.

A opinião é partilhada por Sebastião Pinto Ribeiro. Ao i, o académico diz que “o mercado online poderá crescer em Portugal” já que tem tido um “crescimento que se auto-sustenta”. Para Pinto Ribeiro, “o caminho é claramente as novas tecnologias e o que vai valer mais”.

O também CEO do Palácio do Correio Velho considera que o valor do mercado em Portugal “não é muito” mas que há coisas boas que são vendidas em leilão e nos leilões em que há coisas boas as compras podem vir de fora. “Imagine um anel que vale três ou quatro milhões, Não vai ser vendido em Portugal, vai ser vendido por exemplo em Inglaterra e registado em Portugal”, explica.

Para além disso “não existe na nossa geração, ou na geração dos anos 1970, 1980 e 1990, poder económico para compras de certos tipos de peças”, lembra.

O poder económico determina a tendência do mercado, e no primeiro semestre o resultado tem a ver com uma quebra das vendas na China (12%) e uma subida de 28% nos EUA.

reestruturação

O relatório da Artprice aponta que no período em análise os EUA beneficiaram da concentração do mercado de alto nível em Nova Iorque, que “permite criar concorrência entre os maiores colecionadores do planeta” e que “o segundo semestre na China é estruturalmente mais forte do que o norte-americano”.

Segundo a empresa, o mercado chinês está em período de restruturação, com a “redução dos lotes vendidos” mas “sem tirar a estabilidade dos preços das obras”.

O presidente da Artprice, Thierry Ehrmann, acredita que o país asiático possa alcançar a liderança até o fim do ano.

Segundo Sebastião Pinto Ribeiro, com o seu atual poder económico, os “chineses estão até a “comprar obras de arte deles que foram muitos anos exportadas” e lembra que “os portugueses desde o séc. XVI que fazem trade de porcelana e artefactos chineses”. Um facto que faz “com que agora andem a comprar pelo mundo fora”.

Luís Urbano Afonso lembra que “desde 2009 que os chineses (e seus intermediários) foram grandes animadores da procura pelas melhores peças asiáticas do mercado nacional” mas que agora há menos peças a “entrar no mercado que lhes interessem”.

Recentemente a leioloeira Cabral Moncada bateu o seu recorde de vendas com umas peças chinesas, o mesmo sucedendo com o Palácio do Correio Velho, com a transação de um jarra da China.

A Artprice aponta como outro sinal positivo a queda do número de obras não vendidas, que no primeiro semestre do ano foi de 54%. Em 2016 tinha sido de 70%. No mercado de leilões de arte, e não só, “tudo o que é bom tem procura”, sintetiza ao i Sebastião Pinto Ribeiro. “Tudo o que é mais ou menos também tem procura mas não tem tanta procura como o que é bom” acrescenta.