Secretas. Quem é a mulher que Costa escolheu para secretária-geral do SIRP?

Discreta, serena, equilibrada e responsável são algumas das características apontadas a Graça Mira Gomes. A diplomata tem “uma larga experiência em questões relacionadas com a segurança e defesa”

“É uma pessoa responsável, discreta, serena, com muito bom feitio e com excelente relacionamento pessoal. Uma diplomata de mão cheia”. Este é o perfil de Graça Mira Gomes, escolhida pelo primeiro-ministro para liderar as secretas, traçado ao i pelo embaixador Seixas da Costa.

O ex-secretário de Estado dos Assuntos Europeus destaca o “trabalho notável” que Graça Mira Gomes “teve na Organização para a Segurança e Cooperação na Europa” e garante que, além de ser “uma figura discreta”, é “uma pessoa muito consensual”.

O nome de Graça Mira Gomes foi anunciado a semana passada e mereceu destaque o facto de ser a primeira mulher a liderar o Sistema de Informações da República Portuguesa (SIRP). Mas o que mais terá contribuído foi o perfil e a experiência internacional da diplomata. Graça Mira Gomes é embaixadora de Portugal junto da Organização para a Segurança e Cooperação na Europa desde 2015. Antes disso, entre 2011 e 2015, esteve em Bruxelas como representante permanente de Portugal no Comité de Políticas de Segurança da União Europeia.

“Possui larga experiência em questões relacionadas com a política externa e de segurança e defesa”, realça o gabinete do primeiro-ministro.

Ana Gomes, que esteve na origem da polémica que levou Pereira Gomes a renunciar, afirma ao i que Graça Mira Gomes é uma boa escolha. “Tem boa preparação. É uma pessoa muito responsável, equilibrada, trabalhadora e com uma visão cosmopolita, aberta e inteligente. E também acho muito bem que seja uma mulher e uma mulher com este perfil de competência e de conhecimento das matérias”.

A eurodeputada socialista destaca também a “experiência internacional” da nova chefe das secretas, numa altura em que “estamos a lidar com ameaças como o terrorismo e é fundamental ter a perceção de que esta não é uma questão em que possamos atuar sozinhos. A troca de informações é essencial, cooperar no quadro europeu e internacional é vital e, para isso, é importante ter uma pessoa com a experiência de relações externas e especificamente nesta área da segurança”. Graça Mira Gomes vai ser ouvida no parlamento no dia 18.

 

NÃO HÁ CONSENSO António Costa informou Passos Coelho, mas não conseguiu um consenso devido ao imbróglio na eleição para o presidente do Conselho de Fiscalização dos Serviços de Informação.

O presidente do PSD considerou “lamentável” que, pela primeira vez, não tenha sido possível um entendimento. “É a primeira vez que isso sucede, é mais uma tradição que se quebra. É lamentável que seja assim, mas foi a escolha que o governo fez”, disse Passos, revelando que o primeiro-ministro foi informado “com antecipação de que o PSD não daria respaldo à escolha que o governo viesse a fazer, na medida em que está bloqueado no parlamento o processo para eleição do presidente do Conselho de Fiscalização dos Serviços de Informação”.

Os socialistas rejeitaram Teresa Morais, no início de junho, e os dois principais partidos não conseguem entender-se sobre o nome para a presidência do Conselho de Fiscalização do SIRP. Carlos César argumentou que a social-democrata não tinha “perfil” para o cargo. Ao i, um social-democrata admite que se não fosse este caso “o PSD não teria razões nenhumas para embirrar” com a escolha de Graça Mira Gomes. “É uma diplomata cumpridora e com boa imagem”, acrescenta.

O processo continua encalhado na Assembleia da República e Passos Coelho garantiu “não ter conhecimento de qualquer desenvolvimento”.

UM PROCESSO CONTURBADO

O processo de escolha do secretário-geral do SIRP foi conturbado. António Costa indigitou, no dia 9 de maio, o embaixador José Júlio Pereira Gomes. O nome foi contestado por vários socialistas devido às dúvidas sobre a forma como o embaixador conduziu a missão portuguesa em Timor-Leste, em 1999, durante o referendo que levou à independência.

9 de maio

• Uma nota do gabinete do primeiro-ministro informou, no dia 9 de maio, que António Costa “indigitou para o exercício de funções como Secretário-Geral do SIRP o Embaixador José Júlio Pereira Gomes, com vasta experiência em relações internacionais e em matérias de segurança e defesa

31 de maio

• A eurodeputada Ana Gomes disse ao “Diário de Notícias” que ficou “muito surpreendida e apreensiva” com a escolha de Pereira Gomes e afirmou ter “dúvidas de que o embaixador Pereira Gomes tenha capacidade para aguentar situações de grande pressão. Não inspira confiança e autoridade junto dos seus subordinados nos serviços de informações”. A embaixadora abriu uma polémica sobre o comportamento de Pereira Gomes quando chefiou uma missão ao referendo em Timor, em 1999

2 de junho

• O primeiro-ministro decidiu, após as críticas ao papel de Pereira Gomes em Timor-Leste, manter “a confiança que justificou a sua indigitação”

6 de junho

• João Soares defendeu que Pereira Gomes devia “renunciar” e permitir ao primeiro-ministro escolher outra pessoa. “Não teve, infelizmente, um comportamento exemplar durante a crise timorense, bem pelo contrário”

7 de junho

• Pereira Gomes decidiu renunciar ao cargo para “salvaguardar a dignidade do cargo de Secretário-Geral do SIRP de toda e qualquer polémica”

4 de setembro

• O primeiro-ministro indigitou Graça Mira Gomes para a chefia das secretas