PSD, em Bruxelas: ‘O terrorismo é rápido, a Europa é lenta. E agora?’

Deputado com a pasta da Defesa teve breve debate com Mogherini. A comissária justifica que a lentidão é “por vezes” da democracia.

A conversa era informal, o tema era sério. Federica Mogherini, responsável pela diplomacia e política externa da União Europeia, reuniu-se com responsáveis dos vários Estados-membros, incluindo altos quadros da NATO e deputados portugueses. A italiana, de vestido negro e mala vermelha pousada junto aos saltos-altos, não demonstrou pressa. “Sexy” foi uma palavra usada.

As respostas foram extensas para cada pergunta de cerca de 60 segundos. Sérgio Azevedo, vice-presidente de bancada do PSD com a pasta da Defesa, aproveitou-os. “O facto de a ameaça ser, hoje, multifacetada, é um novo elemento de risco. É obvio que podemos prever que o terrorismo estará no centro desses novos riscos. Mas também o reconhecimento que a partilha de informação entre estados, apesar de ter melhorado, ainda precisa de percorrer um longo caminho até atingir níveis mais desejáveis de prevenção”, sugeriu o deputado da Assembleia da República, que depois parafraseou um ministro compatriota de Mogheriri para colocar a questão: “O ‘terrorismo é rápido e a Europa é lenta’. Na medida em que uma ameaça global só poderá ser combatida numa escala global, quanto está a União Europeia disponível para conseguir uma resposta mais global a essa ameaça?”.

Mogherini desviou e exemplificou. “Na medida em que somos todos europeus, há uma responsabilidade coletiva de todos”, começou, garantindo que “isso não é uma piada”.

À questão do parlamentar português, sobre a lentidão da União Europeia face à velocidade do terrorismo, a resposta saiu preparada: é a democracia que anda devagar.

“Por vezes, há decisões que são rápidas; por vezes, há decisões que são lentas; e por vezes é a democracia que é lenta. Quando estamos sozinhos, no escritório ou no quarto, as decisões podem ser muito rápidas, mas erradas e difíceis de transpor para a realidade”, exemplificou Mogherini, que reconheceu a Azevedo que “a partilha de informação” se trata de uma “lição a aprender”.

“Sinto que temos muitas vezes um atalho. Sempre que vemos alguma coisa errada ou a não correr tão bem, demasiado devagar ou demasiado depressa… Às vezes acontece e tenho que enfrentar ministros ou primeiros-ministros. Muitos dizem-me, em relação às questões de defesa, que vamos muito depressa, que precisam de mais tempo, de refletir mais. Eu fico sempre satisfeita por poder fazer decisões rápidas porque acho que temos que ser rápidos na ação e na reação. Especialmente neste mundo. Mas a Europa nem sempre é lenta”, assegurou a mulher que comanda a diplomacia europeia.

“Sim, é verdade que temos um sistema de decision-making complicado. A unanimidade é muitas vezes necessária, o Parlamento Europeu também tem uma palavra a dizer em muitas coisas, incluindo as orçamentais. E vocês, nos parlamentos nacionais, sabem isso muito bem. Nós podemos ser rápidos e devemos ser rápidos. Sobre o contraterrorismo, que é só parcialmente da minha pasta porque a segurança interna é da responsabilidade dos ministros nacionais, há coisas que foram colocadas este ano e de forma rápida”, assegurou também.

“Especialistas em embaixadas europeias em pontos fundamentais para a troca de informações, conversas sobre aviação”, enumerou.

“Algumas delas passam despercebidas porque são menos ‘sexy’ para a comunidade em geral ou porque precisam de alguma confidencialidade sem se tornarem um segredo tonto”, clarificou, em jeito de conclusão, provando que a sensualidade e a democracia nem sempre andam de mão dada.

Pelo menos em Bruxelas.