Cresce a pressão por uma nova AD contra António Costa

A rentrée política colocou a direita em reflexão. A hegemonia da ‘geringonça’ conduzida por António Costa faz procurar novas estratégias. Militantes e direções podem discordar.

A pergunta deixou de ser «quando é que a ‘geringonça’ cai» para ser «como é que se derrota a ‘geringonça». 
A popularidade da atual solução de Governo e a facilidade com que esta vai sobrevivendo a cada dificuldade provocou uma crescente pressão para que PSD e CDS orquestrem uma resposta igualmente unida. 

«Não há nada, nenhuma reação, nenhuma proposta, nenhuma votação, nem sequer nenhum spin que a esquerda [Bloco de Esquerda, Partido Comunista Português e Partido Socialista] não tenham antecipado ou concertado juntos. É por isso que a oposição não tem vida fácil», aponta um barão do Partido Social-Democrata ao SOL. «Se o Governo tem uma maioria parlamentar de esquerda que o defende de tudo, muito dificilmente esta direita conseguirá sobreviver – quanto mais voltar ao poder – se não se unir da mesma maneira». 

A pressão, que vem saindo dos círculos pensantes para a opinião pública e publicada, já vinha antes de alguma nostalgia militante. «Eu lembro-me de 2015. Até acho que nunca me vou esquecer. Não da vitória, não do que aconteceu depois, mas da campanha. Os dois partidos [PSD e CDS] juntos, éramos muitos. Acho que só ganhamos outra vez assim», recorda um militante que esteve na estrada com a coligação PàF. 

Alexandre Homem Cristo, analista e ex-assessor parlamentar, recomendou no Observador a PSD e CDS que consentissem que «contra uma esquerda unida», não irão a lado nenhum mantendo-se separados. «Perceber que não basta o Parlamento e que, sem se enraizar na sociedade civil, na administração pública ou nas estruturas sindicais [a direita] continuará sem força política», defendeu, recomendando também a formação de alternativas a partir de «de ideias inovadoras por setor, com bons think-tanks ou até um governo sombra».  

André Abrantes Amaral, economista, no i, apontava que «a junção dos dois [PSD e CDS] num possibilita a capacidade destes apresentarem um programa verdadeiramente reformador». 

«O equilíbrio de forças mudou e é pena que PSD e CDS ainda não tenham agido em conformidade», concluía, sabendo o SOL que nem Abrantes Amaral nem Homem Cristo estão sozinhos nesse pensamento. 

«Seria uma coisa com força, com novidade. Não sei é se as direções estão para aí viradas…», interroga-se um ex-deputado do CDS. Cristas tem executado uma assumida demarcação do PSD desde que é líder dos centristas – com propostas nacionais próprias e uma candidatura sem ‘laranjas’ à Câmara Municipal de Lisboa –, enquanto Passos é mais reservado no que concerne a estratégias futuras. «Não teria muito sentido a Assunção a defender obras públicas e Passos continuar alérgico à maioria desse tipo de projetos. Teria que ser um projeto único», reforça o antigo parlamentar democrata-cristão . 

Independentemente dos destinos da direita a médio/longo prazo – afinal de contas, as autárquicas são um teste em que Cristas se inscreveu propositadamente – há uma certeza que continua cimentada na liderança de oposição: Pedro Passos Coelho continuará presidente do Partido Social Democrata. 

O passismo reconhece que dificilmente qualquer ação do Executivo socialista terá consequências económicas (ou eleitorais) dentro deste ciclo político e não se nega a um horizonte para lá das legislativas de 2019. «Eu posso não o querer apoiar, discordar dele numa série de coisas, mas a verdade é que ele ainda é o militante mais bem preparado que o partido tem para ser primeiro-ministro», admite ao SOL um conselheiro nacional do PSD. «O Churchill também perdeu depois da guerra e esperou seis anos para voltar, não foi?», sorri.