Competição de bebés

Mal um bebé nasce é automaticamente inscrito num Campeonato onde participam todos os da sua geração: «O Nicolau nasceu às 7h30m. Mede 50cm e pesa 3300kg». Consoante os valores é colocado num lugar de maior ou menor distinção. A partir daí já está na corrida e a pressão para atingir o pódio começa a fazer…

Quando o filho ainda tem meses alguns pais estupefactos começam a dar conta de que amigos e familiares parecem mais preocupados em compará-lo com os seus próprios filhos, de conhecidos ou com uma estatística, do que em olhá-lo como é, sem julgamentos. Outros pais são os próprios a debitar e comparar as capacidades extraordinárias do filho: «O meu começou a andar aos 11 meses!». «Só? A Gracinha aos nove já estava pronta para correr a maratona». Em silêncio ficam todos os outros que têm filhos que começaram a andar aos 12 meses ou mais tarde.

Vejo pais orgulhosos a chegar com os seus descendentes lindos e perfeitos, a serem bombardeados com uma ansiedade e falta de sensibilidade entristecedoras. No lugar de um «Que bonito que está o Zacarias!» recebem um «Já não devia gatinhar?», «Quando é que começa a andar?» ou «É muito trapalhão a falar. O Manelinho, filho da Júlia, tem menos seis meses e já fala que se desunha».

As crianças não se desenvolvem todas da mesma maneira, nem têm de ser harmoniosas no seu desenvolvimento. Podem começar a andar com dez meses e a falar com três anos. Se alguns com seis meses ficam sentados direitinhos, outros com a mesma idade ainda caem para os lados mas já têm um nível de comunicação muito evoluído. Apesar de tudo o que se tem dito sobre as etapas do desenvolvimento não serem estanques nem os bebés todos iguais, a tendência dos pais em apontar e comparar as conquistas dos filhos, bem como a dos de fora em sublinhar as falhas dos ainda tão pequeninos concorrentes, é assustadora.

Há uma pressa enorme para que os mais novos comecem a fazer tudo o que se espera deles, e quanto mais cedo melhor. Chego a sentir pais e familiares angustiados com aquilo que é esperado dos pequeninos e a frustração de estarem a ficar para trás na corrida. A frustração torna-se dos próprios pais e os filhos são forçados a corresponder às expectativas para que também os mais velhos conquistem um bom lugar. Muitas vezes características importantes da criança, geralmente não quantificáveis, ficam de fora porque não entram para o concurso.

Curioso é que os mesmos que têm pressa em fazer os bebés crescer, são os que mais tarde, quando se cruzam com alguém com filhos pequenos comentam: «Que saudades dos meus filhos assim pequenos. Agora são enormes e já não têm piada nenhuma. O tempo passa a correr!».

Não sei se o tempo passa realmente a correr. Sei que há pais que não aproveitam os filhos tal como eles são e vivem na expectativa do passo seguinte, não dando valor às coisas mais simples. Que são muitas vezes também as mais importantes. E um bebé que cresce na expectativa do passo seguinte não pode ser bebé por muito tempo. Talvez por isso para essas pessoas o tempo passe tão depressa. E talvez por isso também se tenha saudades do bebé que não foi olhado como tal.

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