Às curtas, o que elas merecem

A partir de quinta-feira, a Midas Filmes leva à sala três curtas-metragens que ao longo do ano elevaram o cinema português: Cidade Pequena (Diogo Costa Amarante), Coelho Mau (Carlos Conceição) e Farpões, Baldios (Marta Mateus).

Depois de um ano que se tinha feito de ouro já para o cinema português, premiado em Berlim, em Locarno e em Veneza, foi Diogo Costa Amarante à Berlinale com Cidade Pequena vencer o segundo Urso de Ouro consecutivo para um filme português na competição dedicada às curtas do festival alemão. Meses depois veio Cannes estrear Coelho Mau, de Carlos Conceição, na paralela Semana da Crítica, e Farpões, Baldios, de Marta Mateus na realização, programado na Quinzena dos Realizadores. Seria com esse filme que marcou a sua estreia na realização que venceria, já em Portugal, em edição de 25 anos, o grande prémio internacional do Curtas Vila do Conde.

Três filmes, três curtas, que com toda a dificuldade de distribuição comercial deste formato, têm na próxima quinta-feira a sua estreia em Portugal, com distribuição da Midas Filmes. «Uma ideia disparatada» – começa por dizer Pedro Borges, diretor da Midas – que de disparatada não terá nada. Que antes se impôs como «obrigatória», pelo dever de «dar a estes três filmes portugueses a dignidade e o valor e a visibilidade que eles merecem e que só as salas de cinema dão», esclarece o responsável pela estreia comercial dos três filmes de Diogo Costa Amarante, Carlos Conceição e Marta Mateus, selecionados pela «circunstância» da projeção internacional que teve cada um deles como pela «força e a audácia e a honestidade e a vontade de cinema que tem cada um por si e os três associados».

Cidade Pequena, filme para o qual Diogo Costa Amarante avançou sozinho e sem orçamento – os atores são a sua irmã e o sobrinho e o seu assistente na rodagem acabou por ser o cunhado – para com ele vencer a distinção maior das Berlinale Shorts, parte da história de Frederico, um menino que um dia aprende na escola que quando o coração pára de bater, morremos. Frederico é o sobrinho do realizador e por aí iremos dar ao que haverá de comum entre este filme quase «artesanal», descrição do próprio, a Farpões, Baldios que Marta Mateus foi filmar ao Alentejo com crianças e os camponeses entre os quais cresceu num filme que, a partir de hoje, conta, em mais um híbrido entre a ficção e o documentário, a história da sua luta no pós-25 de Abril.

Num registo ficcional, uma história de família haverá também em Coelho Mau para um regresso ao universo que caracteriza a obra de Carlos Conceição. As relações entre uma mãe (Carla Maciel), o seu amante e os filhos (João Arrais e Júlia Palha) a assumirem contornos perturbadores numa história em que «a beleza e o horror trocam carícias» e «deuses adolescentes desafiam morais convencionais». «Estes foram os filmes que se nos impuseram, mas há outros», diz ao SOL o programador. E acrescenta: «Estamos num momento criativo muito importante no cinema português, mesmo e apesar da tentativa de asfixia e privatização do seu Instituto».