Decisão final do título nacional da Liga MEO Surf começa hoje na Praia do Guincho

A decorrer até Sábado, será nesta etapa encontrado o próximo campeão nacional de surf e aquele que irá receber um convite para o MEO Rip Curl Pro Portugal, etapa portuguesa do circuito mundial de surf da World Surf League.

“É uma prova importante pois está um título nacional mas também um wildcard em jogo” – Vasco Ribeiro

Com duas etapas ganhas – em maio na Praia de Matosinhos e em julho na Praia Grande –, Vasco Ribeiro, atual líder do ranking da Liga Nacional de Surf, entra no Bom Petisco Cascais Pro, última etapa da presente edição da competição, a decorrer entre hoje e 16 de setembro na Praia do Guincho, como favorito na corrida ao título de campeão nacional. 

Com três troféus já conquistados na Liga portuguesa da modalidade (2011, 2012 e 2014), o surfista cascalense, que ainda tem a seu favor o facto de competir em casa, pode, em caso de vitória, igualar Ruben Gonzalez, atleta que neste momento continua a ser o recordista isolado de títulos nacionais, com quatro Ligas. “Se ele [Vasco Ribeiro] ganhar, vai igualar o meu recorde de títulos, o que acho muito bem. Já era tempo e os recordes são para ser batidos. Vai ser uma luta muito engraçada de ver!”, adiantou Gonzalez em declarações à Associação Nacional de Surfistas (ANS), num momento em que destacou “a forma consistente” com que Ribeiro se tem apresentado ao longo da prova.

Contudo, aos 22 anos, Vasco Ribeiro lembrou a importância do triunfo já que o vencedor da Liga MEO Surf irá sair, além do galardão, com um convite que dá acesso imediato à etapa portuguesa do circuito mundial da World Surf League (WSL), o MEO Rip Curl Pro Portugal, que irá acontecer, como já é habitual, em outubro, em Peniche. “É uma prova importante, pois está um título nacional mas também um wildcard em jogo. Vou tentar apresentar-me na minha melhor forma, até porque este é um mês muito importante para mim. Há valiosos pontos para tentar ganhar nas provas europeias do WQS e a Liga aparece no meio. Foi um ano muito positivo e estou confiante para tentar garantir mais um triunfo”, adiantou o atleta que almeja juntar-se a Frederico Morais na elite mundial do surf. Contas feitas, o surfista da Praia da Poça ganha automaticamente o título se chegar às meias–finais (3.o lugar) do Bom Petisco Cascais Pro.

A par do atleta, também José Seabra, treinador de Vasco Ribeiro, reforçou o valor desta conquista: “O Vasco é sempre um favorito ao título nacional, uma vez que já o ganhou três vezes, pelo que é o curso natural que esteja novamente na disputa, e mais ainda tendo em conta que vale o wildcard para o MEO Rip Curl Pro Portugal.” De notar que, em 2015, Vasco Ribeiro já havia participado pela primeira vez numa etapa do World Tour (WT) da WSL, precisamente em Peniche, através da atribuição de um wildcard, na qual terminou em terceiro lugar. “Chegar ao nível do Vasco ou do Frederico é um desafio, mas é também muito encorajador, incentivante. São surfistas que eles veem, com quem falam. É um sucesso mais palpável, não são estrelas que só veem na televisão”, declarou, por sua vez, Enrique Lenzano, treinador de surf.

“Não me ponho em lugar de pressão para conseguir o título e a vaga do Mundial. Focado na evolução” – Pedro Henrique

É o atual campeão nacional e vencedor também de uma etapa, a terceira, disputada na Figueira da Foz. Pedro Henrique surge na segunda posição do ranking e a precisar de um deslize de Ribeiro, mais precisamente que este último surfista fique pelos quartos-de-final (5.o lugar), para, em caso de vitória no Guincho, revalidar o estatuto que ainda lhe pertence. Todavia, Henrique mostra-se confiante naquilo que é capaz de fazer e nos objetivos que estabeleceu para o Bom Petisco Cascais Pro. 

“A minha expetativa é fazer um bom campeonato e poder surfar bem, que é o que gosto de fazer. Não me ponho em lugar de pressão para conseguir o título e a vaga do Mundial. Acho que tenho todo o potencial para lá estar, mas tenho–me focado na minha evolução, na minha preparação para o WQS e na minha família”, referiu o surfista, também ele residente em Cascais. 

Esta não é, porém, uma novidade para o atleta, que no último ano venceu precisamente nas mesmas condições. Na altura, Henrique terminou em 3.o lugar e ficou dependente do resultado da final para saber se ganhava ou não o título nacional deste ano: se José Ferreira derrotasse Gony Zubizarreta, o que acabou por não acontecer, seria Ferreira a ganhar o título.

“Estou muito contente e este título é muito importante para mim. Sabia que tinha de fazer a minha parte e chegar à final para não depender de mais nenhum atleta. Quase fiz o que precisava, perdi nas meias-finais. A final foi tensa porque sabia que o José Ferreira tinha todas as condições para vencer. Agora estou muito contente e até aliviado. Sei que o trabalho que fiz ao longo de todo o ano valeu a pena e deu frutos. Esta conquista vai sem dúvida dar-me balanço e motivação para os últimos campeonatos internacionais do ano” disse o novo campeão, depois de lhe ser comunicado oficialmente o seu novo título.

Por agora, resta a Pedro Henrique cumprir a sua parte, ou seja, vencer, e esperar, como já foi referido, que Ribeiro não faça melhor que um top-5.

“Matematicamente, está tudo em aberto. Os 4 candidatos são grandes surfistas e todos capazes de chegar à vitória” – Tiago Pires

É um nome incontornável no surf português. Tiago Pires foi o primeiro surfista luso a atingir a elite mundial do surf, circuito por onde andou durante sete anos. Visto pelas novas gerações como o “pai” da modalidade, a verdade é que, aos 37 anos, Saca ainda não conta no seu currículo com o título de campeão nacional. Mas este ano, e apesar de estar longe de o troféu depender apenas de si para o conquistar – o veterano só pode sonhar com a conquista se Vasco Ribeiro não for além do 9.o lugar na Praia do Guincho – e, se esse cenário se confirmar, Saca fica obrigado a vencer a etapa para sair como campeão da Liga –, o surfista mais experiente da prova reforça que está “tudo em aberto” e acredita que qualquer um dos quatro candidatos tem hipóteses de sair vitorioso da edição deste ano. “Matematicamente, está tudo em aberto.

Os quatro candidatos são grandes surfistas e todos eles capazes de chegar à vitória”, assegurou Saca que, a par dos seus companheiros, não deixa de referir o wildcard que será entregue ao vencedor. “O campeonato do Guincho é muito importante, pois vai decidir quem será o novo campeão da Liga, bem como quem receberá o wildcard”, sublinhou. “Com muita coisa em jogo”, por enquanto, Saca espera apenas “fazer melhor figura do que na Praia Grande”, afirma entre sorrisos. 

Depois de uma entrada em grande na Liga com uma vitória na primeira etapa disputada em Ribeira D’Ilhas, Ericeira, Saca confessou: “A minha ideia é ir competindo na Liga. Gosto da Liga e de apoiar o projeto onde comecei a dar os meus primeiros passos. É um circuito muito importante que tento apoiar como posso, que é vindo às provas quando tenho esta disponibilidade.” Tiago Pires acabaria por ser uma das ausências de peso na segunda etapa, disputada no Porto, regressando então para a terceira ronda da Liga. Na Figueira da Foz, e a terminar no quinto lugar, Saca garantiu o primeiro lugar isolado depois de Ribeiro terminar… no 9.o posto. 

Tiago Pires é, como todos os surfistas jovens o consideram, um exemplo a seguir. E foi nesse sentido que José Seabra, treinador de surf, pegou no nome do surfista luso para abordar os maiores desafios dos atletas portugueses: “Temos uma cultura pouco vencedora e com poucos atletas que conseguem vingar a nível mundial. O Tiago Pires fez um bom trabalho, o Frederico Morais está a continuar esse bom trabalho mas, mesmo assim, somos poucos. Esta é a grande diferença para as grandes potências. Eles são muitos, mas também apontam a objetivos mais altos que os nossos. O português contenta-se com pouco, qualquer coisa é motivo de comemoração. A solução é não nos contentarmos com pouco: aceitar um desafio maior, que o WQS não seja o objetivo e sim o World Tour e, lá, o título mundial. É querermos mais, ter mais ambição.”

“Gostava muito de alcançar a minha primeira vitória numa etapa da Liga nacional. Expetativas são altas” – Miguel Blanco

Também com hipóteses e numa excelente sequência de resultados na Liga MEO Surf surge Miguel Blanco. O ex-vice-campeão nacional ainda não venceu na Liga, mas tem estado em grande forma na principal competição nacional de surf, pelo que vai para a derradeira etapa com ambição de vencer. 

“Surfar em casa sabe sempre bem e as minhas expetativas são altas. Gostava muito de alcançar a minha primeira vitória numa etapa da Liga nacional, visto que este ano fiz dois segundos lugares”, apontou. Nas mesmas circunstâncias que Tiago “Saca” Pires, o que significa que o título de campeão só se torna alcançável se Vasco Ribeiro não conseguir melhor do que o 9.o lugar, sendo ainda o surfista em questão obrigado a sair com a vitória da etapa final. Blanco fecha o lote de quatro candidatos ao galardão. 

Na perspetiva de José Seabra, treinador, o ano “está a correr bem, o Miguel, mesmo não tendo participado em todas as etapas, vai terminar o ano como candidato e fez duas finais consecutivas”.