Oposição tenta conquistar presidência do parlamento maçonico

No dia 23, a eleição para a Grande Dieta voltará a expor as divisões dentro do Grande Oriente Lusitano.

Oposição tenta conquistar presidência do parlamento maçonico

A recente eleição para grão-mestre do Grande Oriente Lusitano foi a mais dura dos últimos 15 anos. A história pode repetir–se já no dia 23, quando será eleito o presidente do parlamento maçónico – a chamada “Grande Dieta”, no léxico maçon.

Para o mesmo dia está marcada a investidura do grão-mestre e grão-mestres adjuntos eleitos na conturbada disputa – o economista Fernando Lima, o historiador António Ventura e o atual presidente do Grande Tribunal Maçónico, Carlos Vasconcelos.

Mas a investidura do reeleito grão-mestre pode não ser suave, à semelhança do que não foram as eleições, que obrigaram a uma segunda volta entre Fernando Lima e o historiador e politólogo José Adelino Maltez.

O rosto da “renovação” a 23 de setembro é Carlos Bicas, que avançou com uma candidatura à presidência da Grande Dieta. Ao que o i apurou, tem fortes possibilidades de reunir os descontentes com a gestão da equipa de Fernando Lima que, nas eleições para grão-mestre, se agruparam em torno das candidaturas de José Adelino Maltez e Daniel Madeira de Castro. Carlos Bicas confrontará o atual presidente do parlamento maçónico, Rui Santos, que se recandidata ao cargo.

O programa do challenger evidencia o quanto baste o desejo de romper com o passado. Sob o curioso título “Unir o que Ficou Disperso”, o candidato a presidente do parlamento maçónico afirma que a instituição “se encontra em quase estado de adormecimento”, “vai para dois anos”.

O desafio ao corte com o passado recente é particularmente claro no seguinte parágrafo da carta enviada aos “veneráveis mestres e representantes à Grande Dieta”, a que o i teve acesso. “Chegou o momento de, em consciência, afirmarmos, sem hesitações, que a paralisia da Sublime Câmara [sic], seja por motivos de circunstância ou seja por estratégia deliberada, por mais bondosos que, porventura, possam ter sido os propósitos, não será de modo algum, de futuro, aceitável numa instituição que se rege pelos nossos nobres princípios e desígnios.”

Carlos Bicas explica aos seus irmãos – é assim que os maçons se tratam entre si – que a maçonaria portuguesa “não poderá ficar coletivamente indiferente às mudanças radicais em curso, como se vivêssemos num oásis de perfeição parado e isolado”.

“Vivemos hoje um momento muito complexo de viragem particular na história da Humanidade. As novas tecnologias estão a provocar, a uma velocidade alucinante, alterações na relação do Homem com o mundo, deste com o seu semelhante e com o sagrado”, escreve o candidato, condenando o que classifica como “imobilismo” do Grande Oriente Lusitano.

“Ora, a atitude da maçonaria, por princípio, deverá ser exatamente contrária à passividade e ao imobilismo. Como defensora dos valores da Natureza e do Homem, cabe-lhe, antes de mais, no recato da cobertura do Templo, trabalhar na dianteira desse elevado e estimulante desafio que é atualmente a demanda de um novo humanismo, o qual se encontra ainda na forja das ideias inovadoras”, escreve o candidato. “Esta é uma das supremas razões por que é impensável continuar a manter a Grande Dieta entorpecida ou adormecida.”

Carlos Bicas defende que o parlamento maçónico deve “trazer as lojas ao trabalho do Grande Oriente, estimular o debate, conviver serena e tolerantemente com a pluralidade, confrontar tese com antítese, aceitar o confronto harmónico dos contrários na Sublime Câmara para, em conformidade com o método maçónico, se alcançarem convergências virtuosas”.

O candidato acha que “está terminado um ciclo”: “Outros tempos se avizinham. É tempo de nos fazermos ao caminho.” De resto, relembra a recente guerra em torno da eleição para grão-mestre da maçonaria: “Tivemos oportunidade de assistir recentemente a um período muito rico de trocas de ideias sobre o passado, atualidade e futuro da nossa Obediência. Em todas as candidaturas em presença se ergueram estandartes e se elevaram templos à mudança. Nós também julgamos que sim, que a mudança de atitude é necessária e urgente.”

O candidato da mudança afirma mesmo “não acreditar em mudanças na continuidade”.

Ao terramoto ocorrido na maçonaria no início do verão pode seguir-se uma réplica no primeiro dia de outono. O risco de o parlamento maçónico eleger um conselho – o equivalente ao governo maçónico – que seja contra o grão-mestre eleito é real.