Santa Casa entra no Montepio e Félix Morgado sai

Félix Morgado não vai ter lugar na Caixa Económica assim que o projeto de banco social arrancar. Estratégia que tem sido levada a cabo pelo atual presidente é considerada incompatível pela futura estrutura acionista.

Santa Casa entra no Montepio e Félix Morgado sai

A entrada da Santa Casa da Misericórdia de Lisboa (SCML) no capital do Montepio estará resolvida até ao próximo dia 15 de outubro, apurou o SOL junto de fontes ligadas ao processo. «As negociações existem, as reuniões continuam a decorrer, mas há ainda processos de natureza técnica que têm de ser tratados», refere a mesma fonte.

Um dos entraves para o desfecho do dossier dizia respeito à necessidade da Santa Casa contratar um intermediário financeiro para fazer a análise do investimento para que as duas partes pudessem avançar para as negociações finais. «Neste momento, a Santa Casa já contratou um banco de investimento e já está a fazer essa análise», refere.

A participação no capital já está definida e a entidade liderada por Pedro Santana Lopes vai ficar com pouco menos de 10% do capital. No entanto, esta posição será dividida juntamente com outros parceiros sociais, nomeadamente a União das Misericórdias. Aliás essa foi sempre uma das exigências da Santa Casa em todo este processo. Santana Lopes afirmou, várias vezes, que não iria entrar sozinho. No início de julho, o provedor da SCML afirmou que a instituição só «participaria num processo estratégico, amplo, de todo o setor social», e, como tal, não «apareceria sozinha, individualmente, em nada». 

Uma exigência que sempre foi vista com bons olhos pelo presidente da União das Misericórdias ao admitir que apoiava um banco que agregasse os diferentes atores da economia social. «Temos exemplos na Europa, como o Rabobank ou o Crédit Agricole, e em Portugal, o Montepio e o Crédito Agrícola. A SCML é o parceiro fundamental de um objetivo comum da economia social», chegou a afirmar.

Para já, ainda não se sabe qual vai ser o montante a investir em troco destes 10% do capital. Também em discussão estão temas relacionados com a forma como vai ser gerida a instituição financeira, nomeadamente como vai funcionar o banco social, como vai interagir com as instituições, qual vai ser o formato de gestão e qual vai ser a própria estrutura do banco. 

Tudo indica que o novo projeto não irá receber qualquer entrave por parte do Banco de Portugal (BdP), uma vez que o governador tem estado a par das negociações e concorda com o novo rumo que o Montepio irá ter. 

Félix sai do banco 

Neste novo projeto social, o atual presidente da Caixa Económica, Félix Morgado, não tem lugar. Apesar do mandato só terminar no final de 2018 – o mandato de três anos começou em 2015 – o SOL sabe que a sua saída está para breve. «Como é que um presidente que fecha balcões, corta pessoas, corta salários, corta isenções de horário, altera radicalmente o espírito do banco pode estar à frente de um projeto social», questiona a mesma fonte.

A explicação, segundo a mesma, é simples: «O projeto Montepio vai mudar, vai contar com novos acionistas e com novas pessoas que vão fazer parte da nova estratégia e até é normal que Félix Morgado não se sinta à vontade para liderar porque não acredita neste projeto», confessa.

A definição da nova liderança vai fazer parte do acordo parassocial, mas para já, ainda não há nomes de quem possa vir a suceder a Félix Morgado. «Quem entra vai querer participar na gestão. O mesmo acontece nas empresas, quando entra um novo acionista numa estrutura empresarial e o gestor desta não vai ao encontro dos objetivos traçados deixa de ter lugar», salienta. 

Aliás, este será um dos temas que deverá ser falado na próxima Assembleia-geral (AG) marcada para dia 19 de setembro, apesar do foco ser a conclusão da Oferta Pública de Aquisição (OPA), cujos resultados foram divulgados segunda-feira. 

A verdade é que a relação entre Tomás Correia e Félix Morgado tem vindo a degradar-se nos últimos meses. A relação entre os dois terá ficado mais tensa quando Félix Morgado pediu ao Ministério do Trabalho o estatuto de empresa em reestruturação para alargar as quotas das rescisões. O presidente da Caixa Económica terá feito o pedido sem informar Tomás Correia, que levou a mal não ter sido consultado para a tomada daquela decisão.
Também o facto de nas contas de 2015 terem sido reconhecidas imparidades com vários negócios decididos pela administração Tomás Correia causou algum mau estar entre os dois. 

Mas os problemas não ficaram por aqui. A estratégia definida para o banco tem tido duas vozes. De um lado, Félix Morgado a defender a mudança de nome para a instituição financeira. Por outro, Tomás Correia a mostrar-se intransigente nesta matéria. 

OPA com sucesso

O que é certo é que o processo de transformação do Montepio está quase concluído. No início esta semana ficou conhecido o desfecho da Oferta Pública de Aquisição (OPA). A Associação Mutualista Montepio (GEMG) ficou com 98,3% do fundo de participação da Caixa Económica Montepio Geral na sequência da operação. A entidade liderada por Tomás Correia conseguiu adquirir o suficiente para sair do PSI20, uma vez que esta posição, aliada à participação direta, chega aos 99,7% do capital do banco, correspondente a 2413 milhões de ações. 

Esta operação foi lançada no início de julho – com a Associação Mutualista a oferecer um euro por unidade de participação – e inseria-se no processo de transformação da CEMG em sociedade anónima. Um processo que foi concluído na quinta-feira ao ter sido feita a escritura e o registo da Caixa Económica como sociedade anónima. 
A ideia é dar cumprimento à estratégia definida pela Associação Mutualista de tornar a CEMG na instituição financeira da economia social. A OPA surgiu dias depois de a Caixa Económica ter anunciado a realização de um aumento do seu capital institucional, no montante de 250 milhões de euros.

 Tomás Correia já elogiou o sucesso da operação. «Apurados os resultados da OPA, temos de concluir que foi um inquestionável sucesso. Todos estão de parabéns: os nossos clientes, os nossos associados, os investidores que detinham as Unidades de Participação, os nossos colaboradores e os órgãos sociais que tomaram tão importantes decisões», referiu.