Sem abrigo. Há cada vez menos pessoas a viver nas ruas de Lisboa

A câmara de Lisboa quer investir na integração dos sem-abrigo e, por isso, aposta na criação de casas e não tanto em centros de acolhimento. Vai até abrir um restaurante onde só trabalha quem viveu na rua

Em Lisboa, há 2051 pessoas em situação de sem-abrigo. No entanto, não se pode assumir que todas vivam na rua. Na verdade, esse número até tem vindo a descer.

O Núcleo de Planeamento, Intervenção e Acompanhamento a Sem-Abrigo (NPISA), criado em 2015, anunciou recentemente que, apesar do número global, apenas 334 vivem efetivamente na rua, isto porque os critérios de contagem mudaram e passaram a englobar todos aqueles que vivem em instituições, em casas fornecidas pela junta ou pela câmara ou mesmo aqueles que, apesar de viverem em casas de amigos ou familiares, não têm capacidade para se sustentarem.

Em 2015, a câmara de Lisboa aprovou o Programa Municipal para a Pessoa Sem-Abrigo 2016-2018 (PEMPSA), que prevê a aplicação de 4 milhões de euros na melhoria da qualidade de vida destas pessoas. O objetivo é aumentar as hipóteses de inclusão, em detrimento das soluções de emergência. Assim, faz parte do plano o aumento dos lugares em alojamento de inserção, de 179 para 336, a par de uma redimensionamento dos lugares vagos para respostas de emergência: de 271 passarão a 128.

Ainda com os olhos postos na integração dos sem-abrigo na sociedade, o programa prevê a criação de um restaurante que vai servir de centro de formação e de local de trabalho para dezenas de pessoas.

O “Restaura-te” abre no final deste ano ou, no máximo, no início de 2018 na rua de S. José, bem no centro da cidade. Aqui, os funcionários vão aprender competências que lhes permitam trabalhar na cozinha, nas limpezas ou no serviço de mesa. A ideia da câmara é que este espaço seja apenas o ponto de partida para um trabalho na área, ainda que noutros estabelecimentos de restauração e hotelaria com quem o Núcleo de Planeamento e Intervenção Sem Abrigo faça parcerias.

Housing First A par da iniciativa da junta de Arroios, que há um ano abriu as portas de uma casa que funciona como república e tem lugar para quatro pessoas em situação de sem abrigo, também a câmara tem, em paralelo, outros programas de inclusão que não passam pelo alojamento temporário.

Exemplo disso é o Housing First, projeto no qual as pessoas são integradas em casas preferencialmente individuais, nas quais são acompanhadas por técnicos que as ajudam a gerir o dia-a-dia.

No início de 2017, quando o Housing First comemorava já quatro anos, mais de vinte pessoas tinham já sido retiradas das ruas através deste projeto. Mais, a Associação Crescer, promotora da iniciativa, garante que cerca de 90% dos beneficiários, que tinham em média 16 anos de rua, não voltaram a viver em situação de sem abrigo.

Aquilo que começou com uma casa apenas, espalhou-se atualmente por 30 em toda a cidade. Mas o objetivo final é ambicioso: 180 casas até 2018.