Pilotos. Está aberta a guerra entre as low cost

Presidente da Ryanair fala em falha na marcação de férias, mas o problema é o facto de a Norwegian ter contratado 140 pilotos   

A Ryanair decidiu reduzir 40 a 50 voos por dia durante seis semanas, até ao final de outubro. A ideia, de acordo com a companhia aérea, é conseguir melhorar a pontualidade. No entanto, há quem afirme que isto é apenas uma desculpa da companhia aérea de baixo custo, que perdeu cerca de 140 pilotos para uma outra companhia low cost, a Norwegian.

Enquanto o presidente executivo da Ryanair, Michael O’Leary, sublinha que o problema com os pilotos tem a ver com uma falha no planeamento de férias e garante que não faltam trabalhadores,  a concorrente Norwegian Airlines promete continuar a fazer mossa. De acordo com o porta-voz desta transportadora aérea, citada pelo El País, “é um fenómeno que ainda se vai prolongar” porque a companhia vai “abrir uma nova base no aeroporto de Dublin” e para isso vai contratar mais 40 pilotos. 

Em causa estão, acima de tudo, melhores condições de trabalho para os colaboradores que há muito se queixam da dinâmica praticada pela Ryanair. 

Esta não é, aliás, a primeira vez que a companhia norueguesa vai roubar pilotos à concorrência. Também este ano, mais de 70 tripulantes da espanhola Vueling trocaram as condições desta low cost pela proposta da Norwegian Airlines. 

Com ou sem erro por parte da Ryanair, O’Leary já admitiu que a situação vai trazer uma fatura pesada. Em compensações, indemnizações e taxas aeroportuárias, a companhia prepara-se para ter de desembolsar mais de 25 milhões de euros. 

Agora, resta à companhia irlandesa abrir caminho a novas estratégias para recuperar da grave situação de falta de pilotos. Para isso, tem procurado mão de obra quer no Brasil, quer em vários países europeus, já que esta é a única forma de conseguir cumprir calendários. 

De acordo com o “Irish Independent”, a Ryanair tem estado a organizar vários processos de recrutamento no Rio de Janeiro e ainda em São Paulo. A mesma publicação adianta ainda que estão a acontecer encontros semelhantes em Itália e na Alemanha. 

Além disso, a companhia tem sublinhado que “não tem qualquer problema em contratar comandantes” de voo e fala numa lista de espera de mais de dois mil pilotos que se querem juntar à equipa da companhia irlandesa.

A verdade é que a Ryanair continua a negar, de várias formas, ter ficado sem tantos pilotos, embora sejam várias as fontes ligadas à aviação que sublinham que aconteceu e vai continuar a acontecer. Seja como for, o anúncio do cancelamento de vários voos da companhia levou a uma forte queda na cotação das ações da transportadora e os analistas estimam que a Ryanair tenha perdido cerca de 60 milhões de euros do seu valor. 

Problemas laborais A enfrentar problemas relacionados com o descontentamento de vários passageiros que viram os seus voos serem cancelados, a empresa tem estado também a braços a com a justiça.

A companhia aérea de baixo custo perdeu, na semana passada, no Tribunal de Justiça da União Europeia depois de ter tentado forçar os colaboradores que trabalham em bases fora da Irlanda a verem as suas disputas serem tratadas em tribunais irlandeses.

A ideia da tripulação de cabine era que o caso fosse julgado num tribunal belga por achar que a lei seria mais favorável, mas a companhia entendeu que o melhor seria o caso ser julgado na Irlanda. De acordo com a Reuters, “o tribunal salienta que no que diz respeito aos litígios relacionados com contratos de trabalho, as regras europeias visam proteger a parte mais fraca”. E é aqui que se enquadra o facto de “as regras permitirem, entre outros aspetos, que os colaboradores recorram aos tribunais que considerem mais próximos dos seus interesses”.

De acordo com Para Philip von Schoeppenthau, da European Cockpit Association, trata-se de uma decisão “histórica” porque é uma “luz para os trabalhadores que se esforçam para encontrar proteção legal no local onde estão destacados, ao invés de serem obrigados a procurar recursos judiciais na Irlanda”.

Falamos de trabalhadores com contratos feitos à base da lei irlandesa, sem que esse seja o local para onde estão destacados. No caso dos trabalhadores em questão, a base é o Aeroporto Charleroi, na Bélgica. O caso volta assim para as barras da justiça belga, que dará a decisão final sobre o assunto.