O turismo que nos salva

O prometido é devido – e aqui estou eu a escrever sobre turismo, em particular sobre Lisboa e a propósito das autárquicas.  Falar sobre turismo é falar sobre um setor que gerou em Portugal cerca de 50 mil novos empregos neste ano, além de ser dos temas mais agradáveis da vida de todos nós. Quem…

O prometido é devido – e aqui estou eu a escrever sobre turismo, em particular sobre Lisboa e a propósito das autárquicas. 

Falar sobre turismo é falar sobre um setor que gerou em Portugal cerca de 50 mil novos empregos neste ano, além de ser dos temas mais agradáveis da vida de todos nós. Quem não gosta de fazer turismo? Nem que seja a nível interno, todos gostamos de estar uns dias fora do ambiente normal, relaxando, descansando e recarregando baterias. 

Mas a verdade é que muito poucos fazem turismo na cidade onde vivem, a começar por mim, que nunca entrei num daqueles bus turísticos que diariamente cruzam a minha cidade. 

No entanto, há tempos e por razões profissionais, fiz um daqueles passeios que integram as políticas de Recursos Humanos de certas organizações – o qual me deu a conhecer ótimos pedaços da Lisboa antiga que eu desconhecia totalmente e que valem bem a pena ser vistos.

Se para mim é sempre um prazer visitar Lisboa, nomeadamente as áreas antigas (sou um ‘tipo de bairro’, daqueles bairros onde as pessoas de facto se conhecem e tratam pelo nome), não me surpreende nada que os estrangeiros adorem a nossa capital. 

Por variadas razões.

Porque a associam a bom tempo; porque a gente é boa e hospitaleira; porque ainda é barata em termos europeus, quer no alojamento quer na comida; porque é segura; porque tem muitos pontos turísticos de interesse. 

Se a isto adicionarmos as condições extraordinárias para a prática do golfe, a realização de congressos em hotéis com excelentes e modernas condições, o charme que atrai os ‘city breaks’ (estadas de fim de semana), compreendemos melhor as razões pelas quais somos cada vez mais procurados, com crescimentos anuais impressionantes. Entre janeiro e maio registámos em Lisboa mais de 4 milhões de turistas estrangeiros, cerca de 15% acima do ano passado.

A França continua a liderar o ranking dos turistas estrangeiros, com 12% de quota, mas o Brasil surge logo a seguir, com 10,9%, ultrapassando já a Espanha (com 10%), mercê de um surpreendente acréscimo de 56%. Depois vêm Alemanha e Reino Unido, a preceder os Estados Unidos, com acréscimo de 23%. De referir o número cada vez maior de chineses, que já têm uma quota de 2,9%, resultado de um acréscimo de 42,7% até maio. Ou seja, somos cada vez mais procurados como destino de lazer, que irá crescer com o aumento do número de voos diretos, fator primordial para trazer turistas.

Este tema suscita uma enorme e atual dor de cabeça: o aeroporto sobrelotado, com obras para Portela+1 apenas previstas para 2019, quando já eram precisas para ontem. 

Se a isto acrescentarmos as enormes filas de estrangeiros oriundos do espaço fora de Schengen, por inexistência de capacidade do SEF (com 16 boxes mas muitas delas fechadas), vemos que muito ainda temos a melhorar – porque a pior coisa que pode acontecer a um visitante é, após horas metido num avião, levar com esperas que chegam a 2h. Ou seja, há muito trabalho a fazer, entre as autarquias e o poder central, para acomodar estes estrangeiros que nos procuram e que na economia são responsáveis pelo largo crescimento económico que vivemos.

Claro que aqui, e a nível autárquico, há que desenvolver novas centralidades, ou seja, motivos de atração turística, como foi a construção do recente Museu dos Coches, e saber aproveitar melhor toda a zona da Expo, profundamente aprazível. 

Lisboa não tem – longe disso – turistas a mais. Ainda podemos ‘encaixar’ mais crescimento, quer no turismo hoteleiro superior quer no alojamento local. Neste, por exemplo, tem havido muita gente a beneficiar, criando postos de trabalho e ‘complementando’ diversas reformas com alugueres de quartos. O alojamento local tem levantado problemas nalgumas bolsas de Lisboa por distúrbios causados, mas são situações controláveis e marginais. Talvez o desenvolvimento dos hostels possa suprir esta lacuna.  

Este crescimento desmesurado e repentino traz outros problemas. 

Entre os autarcas, já há quem antecipe as consequências resultantes do Portela+1 no Montijo, sobretudo as insuficiências das ligações à capital, nomeadamente pelas pontes, que ficarão super-cheias, ou pelo entupimento da 2ª Circular (a tal que Medina ainda quer estreitar…). Mas isso são oportunidades, ou seja, boas consequências — como a construção de uma terceira ponte e outras obras fundamentais para trazer os passageiros do Montijo até Lisboa sem atravessar ruas e vielas. 

As tais obras que António Costa afirma precisarem de ‘apoio alargado’, ou seja, do PSD – que, obviamente, só pode anuir por tal ser um desígnio nacional, sem necessidade de acordos de fachada. 

Além disso, para as Câmaras estes fluxos turísticos trouxeram novos problemas de recolha de lixo e segurança – isto é, custos adicionais sem contrapartida de receitas (a não ser a taxa municipal diária de 1 euro, utilizada, e bem, para recuperação de monumentos). 

É tempo ainda pensar sobre outra questão a nível de Governo, como a criação de um Ministério do Turismo que coordene tudo o que atualmente é tratado por outros ministérios (Obras Públicas e Transportes, Saúde, Administração Interna, etc.). Sem falar nas Finanças, que – obrigada a obedecer às políticas de Bruxelas — tem efetuado cativações orçamentais de investimento, mas deverá, neste caso, ter visão de longo prazo.

Ainda – e para terminar — relembro que esta legislação laboral mais flexível, que vem do tempo da troika, foi a grande responsável pela geração de emprego. As taxas de desemprego a nível nacional caíram para níveis inferiores a 9%, pelo que espero, sinceramente, que, pelo menos nesta área, o Governo, na ânsia de agradar aos seus apoiantes de esquerda, não se lembre sequer de pensar em alterar – porque pode estragar toda esta fantástica recuperação nacional.