Incêndios por causa dos eucaliptos? Papeleiras recusam argumento

Os incêndios em Portugal voltaram a trazer a lume uma velha discussão: A plantação de eucaliptos.

De acordo com a Associação da Indústria Papeleira (CELPA) o problema dos incêndios não pode ser atribuído a esta espécie, mas sim à falta de festão da floresta.

Esta não é a primeira vez que este argumento é usado, mas Henrique Vieira, da CELPA, volta a recordá-lo. “É uma questão da gestão, não é da espécie em concreto. O que não falta no país são exemplos de incêndios que ocorrem em áreas agrícolas e em áreas florestais com outras espécies que não o eucalipto. O factor comum a todos os incêndios é sempre a falta de gestão”, explica.

"Onde há gestão, o fogo tem uma probabilidade muito menor de ocorrer e onde ocorre é com menos intensidade e causa menores estragos. Onde não há gestão, o que infelizmente se observa por inúmeras razões em boa parte do país, leva a estas condições catastróficas que se verificam ano após ano", acrescenta ainda.

Eucalipto pode afastar empresas

A verdade é que a indústria do papel tem mostrado descontentamento em relação à política para a plantação da espécie em Portugal. As maiores empresas do país, ligadas ao setor, admitem travão nos investimentos.

Ao mesmo tempo que o governo tenta arranjar mecanismos para atrair investimento estrangeiro, existem sectores que alertam para algumas decisões do atual executivo e alguns deles já chegaram mesmo a ameaçar deixar de investir em Portugal. Um dos últimos casos tem exactamente a ver com a indústria do papel por causa das decisões em torno da plantação do eucalipto.

Na raiz do problema está o facto de a indústria consumir, em Portugal, 8,5 milhões de metros cúbicos de madeira de eucalipto por ano, sendo necessário importar dois milhões devido à insuficiência da floresta nacional – argumentos velhos que levaram a um novo problema: como é que o setor pode aumentar a produção?

Aparentemente, não pode. O governo mostrou-se peremptório quanto a esta matéria, com Capoulas Santos, ministro da Agricultura, a afirma que “não vamos permitir que a área de eucalipto aumente, Mas há muito eucalipto onde não pode estar e há terrenos onde é possível produzir o dobro. O que queremos é reorganizar tudo”.

Ainda assim, a medida não agradou à indústria que não baixa os braços e continua a mostrar o seu descontentamento.

Eucalipto reina na floresta nacional

Há muitos anos que a floresta se transformou num negócio e o que não faltam são produtores florestais que encontram na plantação de eucaliptos uma verdadeira galinha dos ovos de ouro.

E, uma coisa é certa: o eucalipto é a espécie que ocupa mais área em toda a floresta portuguesa. E os números não enganam. O aumento da produção pode justificar-se muito com o rendimento económico a curto prazo.

Em 2015, os dados do Inventário Florestal Nacional mostravam que a plantação desta árvore registou um crescimento de 13% entre 1995 e 2010. Sendo que falamos da espécie dominante na floresta portuguesa, que tem como fim principal a produção de pasta de papel, ainda que há quem defenda que devem ser explorados outros objetivos como, por exemplo, a utilidade farmacêutica.

A verdade é que não é só hoje em dia que a indústria da pasta e do papel tem no eucalipto a sua principal matéria-prima. Em parte é isto que faz com que a guerra em torno dos eucaliptos continue a existir. Uns criticam o peso que os eucaliptos têm na paisagem florestal. O setor contesta.