Campeonato. D. Águia aos tropeções e um sapo demasiado gordo…

FC Porto com jogo fácil hoje, frente ao Portimonense, Benfica com receção decisiva ao Paços de Ferreira. Mais pontos perdidos significarão um praticamente certo adeus à hipótese de renovar o título

Sinal vermelho ligado! Não há forma de dizer de outra maneira. A pobreza exibicional dos campeões nacionais (tetras, ainda por cima), o arrazoado conjuntural que apresentam em campo, a debilidade psicológica que fez com que tenham perdido vantagens no marcador, as duas últimas conquistadas bem cedo, fazem do Benfica um caso estranho neste campeonato que se previa equilibrado entre os três grandes do futebol nacional. Dona Águia, ultimamente tão altaneira, está muito parecida com o pato da canção do Toquinho, lembram-se da letra? “Lá vem o pato/ pata aqui pata acolá/ lá vem o pato/ para ver o que é que há.” Pata aqui pata acolá, a águia vai pisando as poças do caminho, tropeçando a torto e a direito, a cinco pontos dos comandantes ao fim de seis jornadas, e pior, muito pior, sem quaisquer sinais de retoma.

Claro que é demasiado cedo para dizer que deixou de ter pretensões ao título – ao tão ansiado penta, que só o FC Porto tem em Portugal –, seria mesmo de alguma estultícia, mas vamos e venhamos, este Benfica não augura nada de bom, o seu futuro para o que resta de prova surge muito, muito negro, os adeptos parecem ter desanimado definitivamente, não se vê que proximamente exista uma forma de fazê-los voltar a acreditar que atingir o primeiro lugar na classificação é possível.

A crise encarnada é uma evidência e só se a águia tiver espírito de avestruz e enfiar a cabeça na areia é que não olhará para si própria e não o admitirá.

A receção ao Paços de Ferreira, na Luz, far-se-á sobre brasas. Sobretudo porque é crível que o FC Porto se desembarace na véspera, ou seja, já hoje, do Portimonense, nas Antas, com uma perna às costas. Nestas coisas de andar nos jornais a escrever antes de os jogos decorrerem, somos obrigados a dar, como diz o povinho, muitos palpites. Estranharíamos, no entanto, que o dragão – até agora o melhor e mais equilibrado conjunto do campeonato – não cumprisse o mínimo de uma vitória calma face aos algarvios. Tal como será uma absoluta surpresa que este leão, bem mais seguro que o da época anterior, pelo menos para já, não regressasse de Moreira de Cónegos com os três pontinhos no bornal.

Desta forma, não resta ao Benfica nada mais do que derrotar o adversário que o visita para que não se possa escrever, a partir de segunda-feira, que deixou o título voar pela janela da Luz de forma irreversível.

Estranho

É estranho, convenhamos. É estranho o descontrolo emocional de uma equipa até há bem pouco geralmente serena. Como é estranha a anarquia que apresenta sobre o relvado na grande maioria dos 90 minutos. E é estranho tudo isto porque não se pode explicar apenas pela saída de quatro jogadores importantes. Sim, sim: quatro! Acrescento a Ederson, Nélson Semedo e Lindelof a falta que Mitroglou tem andado a fazer no ataque dos encarnados. Bastou perceber a forma desajeitada com que, no encontro frente ao Braga, para a Taça da Liga, as conclusões dos repelões ofensivos foram sublinhadas – com a exceção sempre de Jonas, de facto um jogador de nível único – para vermos que as soluções contratadas para substituir o avançado-centro grego estão bem longe de corresponder às expetativas.

Percebeu-se igualmente, no recente jogo do Estádio da Luz, que os adeptos estão profundamente desiludidos com o que andam a ver. Não faz parte da idiossincrasia de um verdadeiro adepto ser paciente. E três jogos seguidos sem vencer – ou duas derrotas e dois empates nos últimos cinco jogos!!! – fizeram com que os assobios e as vaias atingissem muitos dos jogadores. É outro motivo de preocupação para Rui Vitória. Já terá entendido que não tardará a ser o próximo alvo de tanto descontentamento.

É compreensível o discurso positivo do levantar a cabeça e enfrentar o que aí vem com renovado espírito de campeão, que o Benfica ainda é. Mas esse discurso anda a ser utilizado há várias semanas e os resultados e as exibições desmentem cabalmente as palavras que o sustentam.

Amanhã, o jogo frente ao Paços de Ferreira ganha foros de absolutamente decisivo. Mais pontos perdidos significarão, muito provavelmente, o adeus definitivo à esperança de voltar a ser campeão ainda nem chegámos a outubro. E isso é um sapo tão grande que nem uma águia engole com facilidade.