Alimentação. O lado negro dos alimentos teoricamente saudáveis

O i reuniu algumas das ideias mais polémicas dos filmes e confrontou-as com estudos opiniões

Com a preocupação em torno da alimentação surgiram cada vez mais produtos “magros”, com indicação de zero açúcares ou zero calorias. O comentário “Fed Up” (2014) denuncia a moda e alerta para que estes produtos podem ser mais nocivos que os normais, já que, muitas vezes, a indústria alimentar utiliza substitutos menos saudáveis do que os convencionais para dar sabor ou mesmo para conservar os alimentos. Também “That Sugar Film” questiona a ideia de que há produtos que são por natureza bons e outros maus, comparando um smoothie, em termos de açúcar disponível, a uma coca-cola. O documentário alega que a fruta espremida vai libertar sacarose, sendo melhor comer uma peça de fruta, pois liberta o açúcar de uma forma mais lenta e gradual, impedindo a subida rápida da insulina. Mas o problema parece também estar nos produtos finais à venda e não há nada como verificar os rótulos. Uma investigação publicada pelo “BMJ Open” alertou em particular para os sumos de fruta e smoothies dirigidos a crianças, com base em produtos à venda nos supermercados britânicos. Os autores identificaram 85 produtos que continham 19 gramas de açúcar, a recomendação diária para crianças. E encontraram mesmo produtos com 30 gramas ou mais de açúcar por 250 mililitros, o equivalente a seis colheres de chá de açúcar. Tem havido outros alertas para as diferentes formas de identificar açúcar nos rótulos. Uma das indicações do Programa Nacional para a Alimentação Saudável passa pela forma como deve ser lida a lista de ingredientes: enumera sempre os componentes por ordem decrescente, ou seja, se “açúcar” constar nos primeiros lugares da lista quer dizer que o alimento contém açúcar como um dos principais ingredientes. Entre os diferentes nomes a ter em conta estão, naturalmente, açúcar amarelo, açúcar mascavado e sacarose, mas também glicose, dextrose, açúcar invertido, maltose, mel, xarope de glicose e maltodextrinas. 

O que diz a ciência

Um estudo publicado em 2013 pela Harvard School of Public Health concluiu que comer mais frutos inteiros, em particular mirtilos, uvas e maçãs, estava associado a um menor risco de diabetes do tipo 2. Em contrapartida, um grande consumo de sumos de fruta parecia aumentar o risco. O trabalho, publicado no “British Medical Journal”, examinou dados recolhidos entre 1984 e 2008 num universo de 187 mil pessoas. Comer pelo menos duas porções dos frutos referidos acima por semana traduzia-se num risco 23% inferior ao de quem só comia apenas uma porção por mês. Já a partir de dois sumos por dia, o risco de diabetes subia em 21%. Os investigadores apontavam o facto de os sumos terem uma absorção mais rápida como uma das possíveis explicações.

O que dizem os peritos

Alexandra Bento sublinha que, mais do que ir atrás de mitos e modas, importa procurar aconselhamento especializado. “A existência de mitos alimentares na sociedade leva frequentemente a população a adotar hábitos alimentares inadequados ou a acreditar que a ingestão/omissão de alimentos tem efeitos positivos na sua saúde e bem-estar”, alerta.