Acusações e exigências de respostas

O roubo de armamento em Tancos marca a agenda. Um relatório conhecido ontem motivou reações de todos os quadrantes políticos e exigências de respostas das autoridades competentes.

O Presidente da República afirma ser necessário esclarecer "se houve ou não atuação criminal, em que é que se traduziu e quem são os responsáveis" furto de armas dos paióis de Tancos, a 29 de junho.

"O que digo sobre esse caso é sempre o mesmo: os portugueses esperam e o Presidente da República espera que haja o apuramento de uma realidade que é muito importante", afirmou Marcelo Rebelo de Sousa.

"Naturalmente que segue uma investigação própria, mas há-de chegar um dia em que teremos de apurar efetivamente o que existiu naquilo que aparentemente se configura como uma atuação potencialmente violadora de regras fundamentais do direito português. Vamos ver se se prova", disse ainda o chefe de Estado.

Também o primeiro-ministro foi questionado pelos jornalistas sobre o mesmo relatório elaborado pelo Serviço de Informações Militares. “Obviamente que não vou tratar assuntos desta relevância no meio de uma campanha eleitoral. A única coisa que queria dizer é que desconheço em absoluto esse relatório", respondeu António Costa.

O desconhecimento do relatório foi também o motivo pelo qual a coordenadora do BE se escusou a um comentário. "Como compreende eu não posso comentar um relatório que não conheço. O relatório é secreto, é dos serviços de informações, há notícias sobre o relatório, mas nós não conhecemos o relatório. Sobre essa matéria não posso dizer absolutamente nada", respondeu Catarina Martins aos jornalistas.

A líder do BE acrescentou no entanto que continua "a aguardar esclarecimentos cabais do Governo" e insiste que "todas as consequências devem ser retiradas", até porque "ainda está muito por esclarecer".

Esclarecimento pediu também o líder do PSD, que acusa o Governo de "tiques de autoritarismo" por ocultar ao Parlamento informações sobre o furto de material de guerra em Tancos e questionou se o Presidente da República está a par do relatório.

"Não sei se senhor Presidente da República está a par do que se passa, mas o parlamento não sabe de nada”, afirmou Passos Coelho, que perguntou ainda se é necessário comprar o jornal para “saber o que se passa com o Orçamento, para saber o que passa com os paióis militares, para termos as notícias que o Governo tem a obrigação de prestar ao parlamento”.  

Passos Coelho salientou que Presidência da República é "um órgão de soberania com um papel relevante em matéria de defesa nacional" e questionou se Marcelo Rebelo de Sousa está a par do relatório que deixa "graves acusações quer ao poder político, quer à própria instituição".

O líder social-democrata lembrou que o ministro da Defesa, Azeredo Lopes, já deu entrevistas e já foi ao Parlamento, o que se passou com o furto de material de guerra em Tancos há mais de dois meses ainda está por esclarecer. "Numa coisa grave para a segurança do país, da Europa, o ministro ou desconversa ou não diz nada", criticou Passos Coelho.

O ministro da Defesa foi também o alvo do CDS-PP no comentário ao tema. A presidente do partido afirmou que este “relatório vem confirmar aquilo que foi sempre a preocupação e a linha do CDS, quando afirmou que o ministro da Defesa não esteve à altura do seu lugar e das suas responsabilidades".

Assunção Cristas disse ainda que o partido "não mudou de opinião" quanto à demissão de Azeredo Lopes, que "naturalmente tem de ser responsabilizado por esta situação".

O semanário “Expresso” revelou ontem um relatório dos serviços de informações militares que avança para cenários "muito prováveis" de roubo de material de guerra em Tancos. O "tráfico de armas para África, em concreto Guiné-Bissau ou Cabo Verde, ou um assalto promovido por mercenários portugueses contratados, ou ainda por grupos jihadistas" são os três cenários apontados no relatório.

O documento, enviado à Unidade Nacional de Contraterrorismo da Polícia Judiciária e aos Serviços de Informação e Segurança, afirma ainda que o ministro atuou com grande "ligeireza, quase imprudente".

A Azeredo Lopes é  apontada uma "atitude de arrogância cínica" na condução do processo e ainda "declarações arriscadas e de intenções duvidosas".