Catalunha. Milhares de polícias vão impedir o referendo

O Governo de Madrid informou que milhares de militares e polícias serão deslocados para a Catalunha, para reforçar os 2000 polícias espanhóis que já lá estão.

O Ministério do Interior espanhol comunicou ao Governo autonómico Catalão que ia enviar milhares de elementos das forças da ordem vindos de toda a Espanha. O ministro do Interior, Juan Ignacio Zoido, comunicou por carta do conselheiro do departamento do Interior da Generalitat (governo autónomo da Catalunha), que o Governo de Madrid decidiu deslocar para a Catalunha mais unidades da Polícia Nacional e da Guarda Civil, para ajudar os Mossos d’Esquadra «no cumprimento da manutenção da ordem», perante a intenção do Governo Catalão de manter o referendo no dia 1 de outubro.

Os responsáveis da Catalunha, através do porta-voz do Governo catalão, desvalorizaram esta comunicação, dizendo que a chegada de mais centenas de forças armadas para Catalunha, com a desculpa do tamanho e da violência das manifestações que, já se realizaram, é falso: já há milhares de elementos das forças de segurança espanhola que chegaram ao território nos últimos dias. «Chegaram por terra, mar e ar, alguns deles estão alojados em três navios de cruzeiro que estão nos portos da Catalunha, com centenas de militares».

Multas pesadas aos promotores

Na quinta-feira o Tribunal Constitucional emitiu uma sentença em que multava todos os 22 elementos da Junta Eleitoral do Referendo, eleita pelo Parlamento catalão, com multas individuais entre 12 000 euros e 6 000 euros diárias.

Perante esta sentença, feita com os novos poderes do Tribunal Constitucional que o PP fez passar no Parlamento de Madrid, o Governo catalão pediu aos elementos da junta que se demitissem para não serem alvos dessa multa. Segundo a agência Europa Press, o Governo catalão vai criar uma nova junta eleitoral composta por personalidades e académicos de renome internacional.

Instruções para condenar manifestantes

Para impedir os protestos de milhares de catalães nas ruas, que se sucedem desde a prisão dos elementos e funcionários do Governo catalão, o Ministério Público espanhol apresentou denúncias e acusações pelo crime de ‘sedição’ aos participantes nas manifestações de protesto. Segundo uma lei apresentada durante o anterior mandato de Mariano Rajoy, quando o PP tinha maioria no Parlamento, quando há incidentes numa manifestação, as pessoas que a convocaram e partilharam a sua convocatória nas redes sociais podem ser responsabilizadas criminalmente com multas e penas pesadas de prisão.

Segundo o Ministério Público espanhol, durante as ações na segunda-feira, em que centenas de polícias tentaram invadir a sede de um partido político independentista, ‘houve até disparos’, garante o Ministério Público. As autoridades judiciais não conseguiram explicar porque razão as forças policiais queriam entrar na sede de um partido político legal. Segundo dirigentes da CUP, que falaram com o SOL, a invasão da sede não foi concretizada por duas razões: «Milhares de pessoas estavam em frente do edifício, e pelo simples facto de não terem sequer mandado judicial».

Às 13 horas locais de sexta-feira, milhares de estudantes ocuparam os edifícios das principais universidades da Catalunha, como protesto contra as operações policiais e a detenção de dirigentes catalães.

Os protestos continuam

Os estudantes catalães estão a sair às ruas há dois dias seguidos. Grande parte das cidades e vilas da região estão a viver manifestações permanentes. O atual foco das mobilizações é feito à volta do Supremo Tribunal catalão, em que estão a ser ouvidos os dirigentes presos no início da semana.

Por sua vez, o setor da sociedade catalã que não é favorável à independência, mas que quer que haja um referendo negociado que resolva o conflito catalão, marcou para Zaragoza uma assembleia extraordinária de eleitos de Unidos Podemos, En Comú Podem e En Marea, para que no próximo domingo na cidade de Zaragoza, esses eleitos discutam a forma de conseguir que seja negociado um novo referendo na Catalunha aceite pela maioria da sociedade espanhola. A presidente da Câmara de Barcelona, Ada Colau, confirmou na sexta-feira que participará nesta reunião. Recorde-se, que na última consulta popular não vinculativa, Colau defendeu que votaria «sim», num possível referendo da Catalunha. A nota de humor é que os responsáveis municipais do PSOE dizem que vão proibir essa reunião.

Juan Manuel Serrat contra

Um dos símbolos da cultura catalã afirmou na sexta-feira que «não há condições para fazer um referendo no dia 1 de outubro». Juan Manuel Serrat defendeu que «a convocatória do referendo na Catalunha não é transparente, porque está criada por uma lei elaborada por [uma maioria de um parlamento], mas sem o apoio do resto dos deputados catalães», afirmou o cantor numa entrevista que deu em Santiago do Chile. O cantor foi duro ao dizer que acha que um referendo, como o de 1 de outubro, «não vai representar ninguém».

Já a mesa do Congresso de Espanha reuniu-se para vir a criar na próxima quarta-feira, depois do regresso da sua presidente da tomada de posse do Presidente de Angola em Luanda, uma comissão para ‘negociar’ com os catalães. Os deputados independentistas, com o aplauso da bancada do Podemos, protestaram contra as prisões ‘arbitrárias’ dos governantes e ativistas catalães e reafirmaram a sua disposição de decidir, pelo voto democrático, se a Catalunha quer continuar a ser uma região subordinada a Madrid ou uma nação independente.

Apesar da operação policial, das prisões e da apreensão de mais de 10 milhões de boletins de voto, o presidente do governo da Catalunha publicou às 17h29 de quinta-feira, na sua conta do Twitter, o endereço eletrónico em que os eleitores podem saber onde é a sua secção de voto a 1 de outubro.