EUA. Trump desvenda parte de um plano de impostos que só o vai beneficiar

Presidente propõe cortes a quase todos os níveis e promete dar a volta ao sistema fiscal. As preocupações sobre o défice parecem ter-se desvanecido.

Ainda há muito por explicar, mas o governo americano parece prestes a avançar com um grande corte de impostos a quase todos os níveis que beneficiará sobretudo empresas e a pequena e mais rica camada da população, onde se inclui o próprio presidente.

“Este corte de impostos é significativo”, lançou Donald Trump ao apresentar o desenho geral do plano, no Indiana. “Nunca houve cortes de impostos como estes de que falamos”, prosseguiu. “Vamos fazê-los simples, fáceis, e justos para todos”, disse na noite portuguesa de quarta-feira. 

O presidente não apresentou muitos detalhes do novo plano, que reduzirá o número de escalões de sete para três – 12,25, 25 e 35% –, mas o governo ainda não disse a que rendimentos vão ser aplicados. Quanto ao imposto máximo a empresas, esse será em princípio cortado de 35 para 20%.

O presidente afirmou também que será criado um imposto especial para os super-ricos, mas nada disse sobre quem recairá e com que peso. O que Trump mais detalhou na apresentação da sua política de impostos, por outro lado, deve beneficiá-lo em milhões. 

O presidente americano recusa-se a divulgar as suas declarações de impostos e o verdadeiro impacto da proposta nas suas contas não é clara.

Sabe-se, porém, dos poucos documentos que acabaram na imprensa americana, que o presidente americano pagou em 2005 a chamada taxa do “Mínimo Alternativo”, que se aplica a grandes contribuintes.

Nesse ano, o imposto custou-se 31 milhões de dólares e na quarta-feira Trump prometeu eliminá-lo. Mas assegurou: “Estou a fazer o correto e não vai ser bom para mim, acreditem.”

Défice 

Esse não é o único exemplo. Trump promete terminar também com um imposto sobre o património que taxa as transferências em heranças, afeta primordialmente as grandes propriedades e os mais ricos, e, neste ano, atingiu só 5500 casos de entre três milhões, segundo afirmava ontem o “Washington Post”.

Destes, apenas 80 se aplicaram a propriedades agrícolas e pequenas ou médias empresas, que são de quem o presidente americano mais falou, prometendo protegê-los.

Há anos que o Partido Republicano propõe uma restruturação no sistema de fisco norte-americano, que ambos os partidos concordam em dizer que é excessivamente complexo.

O último candidato republicano, Mitt Romney, prometeu fazê-lo, dizendo seguir o exemplo de Ronald Reagan , autor de uma das maiores revisões no sistema e de um grande aumento da dívida pública.

O documento ainda não está finalizado e será apresentado em maior detalhe nos próximos dias, mas os mesmos republicanos que durante o governo de Barack Obama protestaram contra o défice orçamental e o aumento da dívida pública (que hoje ronda os 75% do Produto Interno Bruto) não estão a fazer caso das estimativas que sugerem que ambos devem aumentar na ordem dos biliões e garantem que as receitas serão recuperadas através do crescimento económico.

“Achamos que a mudança nos impostos vai cortar o défice num bilião de dólares”, dizia esta quinta-feira Steven Mnuchin, o secretário do Tesouro.