Viagens. O céu está a ficar cada vez mais pequeno para tantos aviões

Há mais aviões, mais rotas e cada vez mais companhias aéreas a terem as cidades portugueses debaixo de olho. Só no aeroporto da capital, a circulação de passageiros aumentou em apenas um ano o que deveria ter crescido em cinco

Portugal tem atraído cada vez mais turistas. Seja pelo sossego, pela paisagem ou pela segurança, a verdade é que o país está cada vez mais na rota das preferências de quem escolhe o melhor local para passar uns dias de férias. Prova disso tem sido o aumento de voos internacionais que têm cidades portuguesas como destino. Basta uma pesquisa rápida na internet para constatar o aumento do número de lugares em viagens com destino a cidades portuguesas. A companhia aérea grega Aegean Airlines, por exemplo, anunciou que vai aumentar no próximo verão as ligações entre Lisboa e Atenas dos quatro voos por semana que realiza atualmente para cinco. A Croatia Airlines reforçou as suas ligações entre Lisboa e Zagreb também com mais um voo por semana em maio e chegou assim aos quatro semanais. Já a easyJet, que em 2016 aumentou em 19% o número de passageiros em Portugal, também reforçou o mercado nacional, até porque a taxa de ocupação nas rotas portuguesas teve um comportamento melhor do que a média global: 95% face aos 91,6% da rede easyJet.

Apesar de ainda não existirem dados concretos em relação aos primeiros meses deste ano, fonte da ANA Aeroportos confirma a tendência que já tinha começado a desenhar-se no ano passado: “Há mais voos de certeza. É uma consequência natural de estarmos a crescer muito enquanto destino turístico.” De acordo com os últimos dados do Instituto Nacional de Estatística (INE), nos primeiros três meses deste ano, o número de aviões que aterraram nos aeroportos nacionais ascendeu a 40 mil, com uma subida de 12,6%. Mas esse número não tem parado de aumentar. Em apenas um ano, a circulação de passageiros aumentou o que deveria ter crescido em cinco.

As estatísticas mostram ainda que, de 2008 a 2013, o número de passageiros desembarcados aumentou 21,3%. Mas recuando mais uns anos, os dados continuam a mostrar uma trajetória ascendente. De acordo com o INE, em 2002, por exemplo, registaram-se cerca de 401 milhares “de movimentos de aeronaves em aeroportos e aeródromos nacionais, que foram responsáveis pelo movimento de cerca de 20,3 milhões de passageiros”.

Os aeroportos nacionais são, aliás, os que mais têm crescido mais em toda a Europa. O ano passado ficou marcado pelo crescimento de tráfego em todos os aeroportos portugueses. De janeiro a novembro, tanto Lisboa como Porto e Faro viram o número de passageiros aumentar de tal forma que se tornaram os que mais cresceram em todo o Velho Continente. De acordo com os dados da Airports Council International (ACI), só o aeroporto Humberto Delgado, em Lisboa, registou um aumento na ordem dos 21,1% em comparação com o mesmo período de 2015. Este aumento faz com que o aeroporto de Lisboa seja o segundo que mais cresceu em toda a Europa dentro do grupo 2, que integra todos os aeroportos do continente com tráfego anual de passageiros entre 10 e 25 milhões. A verdade é que o aeroporto da Portela tem capacidade para 42 movimentos por hora, aterragens e descolagens, mas a capacidade de resposta está sempre no máximo.

Todos os dados mostram, aliás, que nunca se viajou tanto de avião. O número de passageiros a escolher este meio de transporte tem vindo a aumentar. No segundo trimestre, este número cresceu mais de 20%, em comparação com o ano de 2016, o que representa a maior subida desde o início de 2011.

No entanto, os constrangimentos deste crescimento já são visíveis, nomeadamente na capacidade da Portela. O tempo de espera para descolar aumentou por causa do elevado tráfego aéreo e o próprio aeroporto já não tem por onde crescer. De acordo com o ministro do Planeamento e das Infraestruturas, Pedro Marques, a decisão sobre a solução para o reforço da capacidade aeroportuária “deixou de ser urgente e transformou- -se numa emergência”.

Mas o aumento do número de pessoas que encontram nos aviões a solução para as suas viagens trouxe outros cenários, nomeadamente a abertura de uma verdadeira guerra entre as companhias aéreas por causa da mão-de-obra.

A Ryanair, por exemplo, voltou a cancelar mais voos e vai deixar de realizar, pelo menos, 18 mil ligações até março. A companhia aérea low-cost anunciou esta quarta-feira que a rota Newcastle–Faro é uma das afetadas, podendo atingir cerca de 400 mil clientes. De acordo com a low-cost, estes cancelamentos estão relacionados com a redução do número de aviões disponíveis no período de inverno. Mas não é apenas o número de aeronaves que preocupa a companhia aérea, é também o êxodo de pilotos para transportadoras concorrentes: só a Norwegian roubou 140 pilotos ao grupo. Esta não é, aliás, a primeira vez que a companhia norueguesa vai recrutar pilotos à concorrência. Também este ano, mais de 70 tripulantes da espanhola Vueling trocaram as condições desta low-cost pela proposta da Norwegian Airlines.

Há até quem fale de um verdadeiro êxodo de pilotos para companhias concorrentes. A verdade é que, de acordo com a associação de pilotos irlandesa, só neste último ano financeiro, a transportadora aérea de baixo custo já perdeu 700 pilotos.

Entretanto, a Autoridade de Aviação Civil do Reino Unido (CAA) fez saber que decidiu iniciar uma investigação para determinar se a Ryanair infringiu os direitos dos passageiros que viram os voos serem cancelados. Se necessário, a CAA admite avançar com ações legais contra a companhia. Andrew Hains, responsável máximo da CAA, garante que “as pessoas não têm de escolher entre voos baratos e direitos legais”.