EDP. Estado pagou 500 milhões a mais

Estado pagou à EDP 2,5 mil milhões  pelas centrais nos últimos dez anos. Agora deverá pagar 829 milhões de euros até 2027, cerca de 83 milhões anuais. EDP contesta proposta.

EDP. Estado pagou 500 milhões a mais

O Governo deverá pagar à EDP 154 milhões de euros nos próximos 10 anos (2017/2027) relativos ao ajustamento final dos Custos para a Manutenção do Equilíbrio Contratual, mais conhecidos por CMEC. Em média dá cerca de 14,5 milhões de euros por ano. A proposta é da Entidade Reguladora dos dos Serviços Energéticos (ERSE), mas caberá ao Executivo fixar o valor. A este montante há que acrescentar uma parcela fixa anual de 67,5 milhões de euros.

Um valor que é contestado pela EDP, que apresentou anteriormente uma proposta de ajustamento final de 256 milhões de euros, valor proposto pelo grupo de trabalho EDP/REN. «A EDP não vislumbra as razões para a discrepância dos valores apresentados e irá analisar o relatório produzido pela ERSE logo que o mesmo lhe seja disponibilizado. Em função dessa análise, tomará as decisões e medidas que vier a considerar adequadas», revelou em comunicado.

Mas é sobre o montante proposto pelo órgão regulador que irá apresentar a proposta de tarifa de eletricidade para 20018 no próximo dia 15 de outubro. Isto significa que o Governo terá 15 dias para dizer se concorda ou não com as rendas de energia, caso contrário a ERSE terá de fazer a melhor estimativa de forma a incluir este valor nas tarifas, apurou o SOL.

Em causa estão ainda 16 centrais híbridas da EDP que vão permanecer no regime dos CMEC, que termina em 2027, além da central de Sines, cujo contrato termina a 31 de dezembro deste ano. Mas apesar de o prazo estar prestes a esgotar, Sines pesa 11% do valor total a pagar. 

Este valor poderá sofrer uma redução, já que o estudo da ERSE considerou vários cenários e variações que dependem do quadro legal aplicável aos CMEC, ou pelo menos da sua clarificação. E aí caberá ao Governo decidir o que fazer. 
Por exemplo, a adoção de um cenário hidrológico alternativo ao que está previsto no quadro legislativo (média de 10 anteriores ao cálculo) e considerando os mesmos critérios do cálculo inicial dos CMEC (média de 40 anos) terá um impacto de 170 milhões de euros a reverter em benefício dos clientes. 

Ao todo foram propostas ao Governo quatro medidas que aplicadas podem representar cortes entre os 80 milhões de euros e os 170 milhões nos valores que os consumidores pagam pelos CMEC, além dos cortes já defendidos.
Em relação a estes cenários, a elétrica portuguesa revela que «a consideração de cenários e variações apresentada pela ERSE é mera simulação teórica que viola grosseiramente a lei que esteve na base da aceitação, pela EDP, do regime de CMEC. A adoção de tais cenários e variações anularia a neutralidade económica subjacente ao processo de extinção antecipada dos CAE».
Ao que o SOL apurou, poderá haver ou não negociação entre o governo e as empresas de energia, tudo dependendo da abertura por parte do executivo. No entanto, tudo leva a crer que este ano haverá pouca margem de manobra para negociar, já que o Governo tem vindo a chamar a atenção para a necessidade de reduzir os preços da luz. Também a nova presidente da Entidade Reguladora dos Serviços Energéticos (ERSE), Maria Cristina Portugal, chegou a afirmar no Parlamento que «há um longo caminho a percorrer» nas rendas do setor, além da redução dos Custos para a Manutenção do Equilíbrio Contratual.

Valor excessivo

O estudo da ERSE faz ainda uma análise do regime CMEC desde 1 de julho de 2007 a 30 de junho de 2017. Altura que o valor pago pelos consumidores ultrapassou os 2,5 mil milhões de euros, ou seja, uma média de 250 milhões de euros por ano. Um valor que, segundo a análise da entidade, representou custos extras. «A introdução do regime dos CMEC possibilitou a passagem para um quadro menos exigente para os detentores dos centros eletroprodutores do que o regime dos CAE, com um acréscimo acumulado que se estima em cerca de 510 milhões de euros», refere. A EDP também rejeita estes números, afirmando que não encontra qualquer fundamento para a alegada sobrecompensação.

O certo é que estes valores que têm vindo a ser pagos já originaram várias críticas por parte dos deputados e levaram o Parlamento a recomendar recentemente que elimine o valor das rendas. A recomendação partiu do Bloco de Esquerda e foi aprovada por todos os grupos parlamentares (PS, CDS, PCP e BE), à exceção do PSD, que se absteve na votação. 

O deputado bloquista Jorge Costa apontou na altura que o Governo poderá usar este mandato do Parlamento quando tiver lugar o processo de revisão este ano. «Este processo deverá ser conduzido com vista a recuperar tudo o que foi cobrado a mais e impedir que continue qualquer espécie de cobrança indevida neste contexto», afirmou. 

Há vários meses que o cerco aos preços da luz tem vindo a ser apertado. Já em setembro, o Executivo publicou um despacho que declarou a «nulidade parcial» de um despacho do anterior Governo que permitia às empresas de eletricidade repercutir na fatura da eletricidade o custo da tarifa social e da contribuição extraordinária sobre o setor energético (CESE). 

Esta medida deverá permitir poupar 170 milhões de euros nas faturas da luz no próximo ano. Deste total, cerca de 100 milhões de euros estarão relacionados com a cobrança aos consumidores, entre 2015 e 2016, de valores ilegais, na perspetiva do Governo. Estes valores terão beneficiado essencialmente a EDP e a Endesa. O Executivo estima ainda que terão sido cobrados 73 milhões a mais por distorções no mercado de serviços de sistemas e que levaram à sobrecompensação de algumas das centrais protegidas com contratos CMEC.