Sporting-FC Porto. O jogo das risquinhas

Este domingo é dia de Sporting-FC Porto, em Alvalade. Nas recordações já houve um 9-1 e um 10-1. E uma vitória histórica dos Violinos.

Domingo, em Alvalade. A procissão popular, com mais voto ou menos voto neste dia de autárquicas, caminhará pelo Campo Grande até desaguar no estádio de todas as emoções. Há e haverá sempre um qualquer Sporting-FC Porto pendurado na parede das molduras das nossas memórias. Poderia desfiar aqui umas dezenas, quase sem necessitar de esforço ampliado das meninges, mas nada como escolher alguns mais concretos 

E um em especial.

Vamos, por exemplo, a 1946.

Tempo de Cinco Violinos. O Sporting seria campeão marcando o exagero de 123 golos em 26 jogos.

No dia 22 de dezembro de 1946, no Campo do Lumiar, o Sporting recebe o FC Porto. Nas primeiras duas jornadas, os leões tinham batido o Famalicão por 9-5 e o Atlético por 9-2. Na terceira, derrota nas Salésias frente ao Belenenses (0-2). O FC Porto somava três vitórias: Benfica (3-2), Belenenses (2-0) e Estoril (2-1).

Um FC Porto, agora de Josef Szabo, antigo treinador do Sporting.

Um FC Porto decidido a fazer esquecer o banal sexto lugar do campeonato anterior.

Há quem diga que foi um dos mais emocionantes clássicos da história.

Um FC Porto ‘à Szabo’, comentava-se: entrando de rompante nos jogos, procurando marcar logo de início, para depois esperar pela reação adversária, tentando responder em rápidos contra golpes, dois, três, quatro toques, remate…

Um FC Porto essencialmente prático.

Gente de categoria

Há bons jogadores no ataque do FC Porto: Catolino, Correia Dias, Araújo, Lourenço…

Há um grande guarda-redes na baliza do FC Porto: Barrigana.

Azevedo está de volta à baliza dos leões. Com ele há Jesus Correia, Vasques, Travassos, Albano e Peyroteo.

6 minutos: 1-0. Peyroteo ganha uma bola alta a Barrigana que sobra para Jesus Correia que, atento, atira a contar.

O FC Porto reage com galhardia. Obriga o Sporting a defender-se. Até ao intervalo está, por mais de uma vez, à beira do empate.

53 minutos: 1-1. Araújo remata de longe, Azevedo atira-se de borco sobre a bola e esta passa-lhe por debaixo do corpo.

O FC Porto acredita; o Sporting estremece.

61 minutos: 1-2. Canto contra o Sporting. Marca Araújo, à entrada da área, Catolino toca para Sanfins e o remate pronto deste faz a bola passar por entre uma floresta de pernas que tapa a visão de Azevedo.

O Sporting responde de imediato.

65 minutos: 2-2. Carvalho perde a bola para Jesus Correia que corre para a baliza e, mesmo de ângulo apertado, chuta com força com a bola a passar por entre as pernas de Barrigana.

Aqui a luta chega ao rubro. Os leões, feridos pela derrota nas Salésias, caem sobre o seu adversário que se bate com pundonor. Há dureza por vezes excessiva. Peyroteo e Alfredo são carregados com brutalidade. Um penalty perdoado aos portistas deixa o público furioso: chovem almofadas. O jogo tem de ser interrompido para que se efetue a limpeza do terreno.

O ambiente é pesado.

87 minutos: 3-2. Remate forte e rasteiro de Peyroteo sem hipóteses para Barrigana.

O Sporting sua para regressar às vitórias.

Fará um campeonato convincente. Nunca ninguém poderia esquecer os Cinco Violinos.

Clássicos de golos

Mais um pequeno salto no tempo para recordarmos outros dos Sporting-FC Porto que ficou nos anais dos confrontos mais rijamente disputado.

Vamos, então, para o dia 16 de Maio de 1948, por exemplo, não muito depois daqueloutro desafio com que abrimos esta crónica.

Barrigana faz uma exibição de categoria no Lumiar, mas não evita cinco golos: Peyroteo, Travassos, Albano e Vasques (2). Respondem Lourenço e Araújo.

Na Constituição, no Porto, na primeira volta, houvera vitória portista: 4-1.

Golos, golos e mais golos.

O FC Porto desperdiça uma grande penalidade e vê Joaquim, que se travara de razões com Travassos, ser expulso.

Eram assim os clássicos desse tempo em que o golo não estava pela hora da morte, como aconteceu mais tarde.                                                

Em 1936-37, os leões tiveram a desfaçatez de baterem o FC Porto por 9-1, em Lisboa. Uma vingança que falhou por pouco: na época anterior os portistas tinham vencido, no Porto, por 10-1!

Resultados que já não existem, dirão alguns. Outros sonharão como Mário Zambujal: ‘À noite logo se vê’.